Por Rafael Pinheiro
A definição de gênero implica em desdobramentos intrínsecos, que garantem um emaranhado de pensamentos, ações e movimentos que começam a ganhar força em diversas esferas. A palavra em si, que carrega significados, como: grupo de classificação dos seres vivos; gênero literário; maneira de ser ou de fazer; gênero de vida; modo de viver; incluiu, em seus sentidos, pensamentos e expectativas relacionadas ao gênero sexual – ou seja, gênero é social, aprendido no cotidiano, é efêmero, muda de acordo com a sociedade e reafirma valores desiguais.
Desdobrando os conceitos que envolvem o gênero, encontramos alguns prontos-chave que indicam estereótipos de gênero (crenças inquestionáveis sobre homens e mulheres que são vistas como verdadeiras e imutáveis), socialização de gênero (tem impacto sobre todas as pessoas, desde o nascimento, através da infância, fase adulta e velhice) e papeis de gênero (características e comportamentos que uma sociedade especifica em um momento particular para cada sexo).
Esses três pontos destacam proporções inimagináveis que transcendem a questão de “azul é de menino” e “rosa é de menina”. Ser e se estabelecer como “homem” ou como “mulher” é um processo social, árduo, longo e complexo – que envolve família, amigos, colegas de profissão, religião, educação, mídia e comunidades que os indivíduos participam.
A construção de papeis masculinos ou femininos, que interferem em todos os comportamentos e relações, recebem articulações machistas, ou seja, vangloriando e exaltando o homem em toda a sua extensão, culminando em violências de gênero: todos os anos, estima-se que 500.000 mulheres sejam vítimas de estupro no Brasil, e que outros tantos milhões sofram com abusos e violências sexuais. Apenas 10% dos estupros são notificados e a maior parte dos agressores não é punida. 67% dos crimes de estupro são cometidos por parentes próximos ou conhecidos da família. Na maioria das vezes, os abusos acontecem dentro de casa, onde as crianças deveriam se sentir seguras. 70% das vítimas são crianças com menos de 13 anos. (Fonte: Plan International Brasil)
Movido pelo questionamento “O que você pode fazer pela igualdade de gênero na infância?”, a Plan International Brasil, organização não governamental que trabalha em 71 países para promover os direitos das crianças, criou o #DesafiodaIgualdade – campanha que pretende abrir os olhos da sociedade brasileira para os pequenos hábitos que levam ao machismo institucional e propõe uma reflexão sobre a educação que é dada às crianças sob a ótica da igualdade de gênero.
“Menino não chora”, “menina não pode brincar de bola”, “menina tem que fazer os serviços domésticos”, “meninas que usam vestidos curtos não se valorizam ou facilitam o abuso”. Estes são apenas alguns dos tipos de frases ou pensamentos utilizados pela sociedade que, se aplicados desde a infância, geram adultos que não respeitam a igualdade de gênero e reforçam os estereótipos.
8 coisas que as crianças precisam saber sobre gênero
1 – Ninguém deve ser discriminado por ser menina ou ser menino, do mesmo modo que por questões de raça ou classe social. Todas as pessoas merecem respeito.
2 – Meninas e meninos têm os mesmos direitos, seja em casa, na escola, na quadra, em qualquer lugar.
3 – Meninas e meninos têm o direito de expressar seus sentimentos livremente. Inclusive chorando.
4 – Não existem brinquedos de menino e brinquedos de menina, ou coisas de menino e de menina. Todo mundo pode brincar do que goste, e isso ajuda as crianças a se desenvolver plenamente.
5 – Tanto as meninas quanto os meninos precisam de cuidados. E cuidar – da casa, das crianças, dos animais, por exemplo – é algo para todas as pessoas.
6 – Meninos e meninas têm direitos iguais de usar os espaços públicos, de expressar seus desejos e opiniões.
7 – Ninguém tem o direito de tocar o corpo delas sem autorização. Cada criança é dona de seu próprio corpo e precisa ter autonomia sobre ele.
8 – O machismo é ruim para as meninas e para os meninos também, pois restringe a liberdade e o potencial das pessoas.
Materiais de apoio
No site da Campanha (desafiodaigualdade.org) estão disponíveis materiais de apoio que visam sensibilizar, inspirar e apoiar aos educadores (pais, professores, responsáveis etc) que podem contribuir, por meio da educação das crianças, com a mudança de pensamento e atitude da sociedade brasileira em relação às desigualdades de gênero no futuro.
São vídeos, documentários e webséries disponíveis para download gratuitos e que podem ser utilizados, inclusive, como proposta de atividades em sala de aula pelos professores. Tudo foi cuidadosamente idealizado para tornar o processo de educação mais acessível e interessante, principalmente para as crianças aprenderem sobre igualdade de gênero.