O Brasil tem jovens com vivências e realidades distintas, que querem ser ouvidos e participar das decisões da sociedade. As soluções pedagógicas precisam estar alinhadas às suas expectativas
Proposta de Educação Integral é ampliar tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem dentro e fora da escola, expandindo o repertório dos alunos
Pesquisa realizada em 2009 pela FGV/Ibre apontava que cerca de 40% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos abandonavam os estudos por considerar a escola pouco interessante. A necessidade de trabalhar aparecia em segundo lugar, com 27% das respostas. Sete anos depois, a publicação “Educação Integral: Juventude, Expressão e Participação”, do Portal Educação & Participação, mostra que a juventude é cada vez mais questionadora e desafia conceitos que vão desde o teor do currículo escolar até a forma como os conteúdos são transmitidos. A plataforma é coordenada pela pela Fundação Itaú Social e pelo Centro de Pesquisas e Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
“É fundamental perceber que não existe “um jovem” brasileiro. O que temos são “juventudes”, influenciadas por suas respectivas vivências e realidades. Ou seja, dificilmente uma fórmula universal poderá ser aplicada com a mesma taxa de sucesso em todas as localidades do País. Os cenários são variados”, aponta a superintendente da Fundação Itaú Social, Angela Dannemann, que participa na próxima quarta-feira (27) do Seminário Internacional Sobre Inclusão de Adolescentes e Jovens no Ensino Médio, em Belo Horizonte (MG).
Angela será a facilitadora da sala temática “Educação Integral e Juventude”, que trará a experiência do Programa Jovens Urbanos em Minas Gerais, realizada pela Itaú Social em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e coordenação técnica do Cenpec. O objetivo do Programa é promover processos de formação ampliada e de geração de oportunidades para a juventude, sob a perspectiva da educação integral.
A Educação Integral propõe a ampliação de tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem dentro e fora da escola, expandindo o repertório do aluno e promovendo seu desenvolvimento pleno. Mas para isso é preciso propiciar múltiplas oportunidades de aprendizagem por meio do acesso à cultura, à arte, ao esporte, à ciência e à tecnologia, por meio de atividades planejadas com intenção pedagógica e sempre alinhadas ao projeto político-pedagógico da escola.
A experiência de Minas Gerais
Segundo dados do IBGE/Pnad 2013, o estado de Minas Gerais tem uma população adolescente (14 a 17 anos) de 1.452.608. Desse total, 1.265.561 frequentam a escola, sendo que 53% estão matriculados no Ensino Médio e 46% no Ensino Fundamental.
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina, em sua meta 6, que o Brasil ofereça, até 2024, educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da Educação Básica. Números do Observatório do PNE apontam que em 2014 esses percentuais eram de 42% e 15,7%, respectivamente.
A proposta do Programa Jovens Urbanos em Minas Gerais, realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, é contribuir para elaboração da política de educação integral para o Ensino Médio e para a construção de modelos que considerem as particularidades regionais, o perfil da população (urbana, rural, indígena, quilombola, jovens que cumprem medida socioeducativa, etc) e a expectativa desses estudantes.
“Educação integral para juventude deve considerar as especificidades dessa faixa etária, que está em fase de transição para o mercado de trabalho. O projeto precisa pensar o território, envolver os equipamentos públicos e alcançar a juventude onde ela estiver, não apenas entre os muros da escola”, avalia Angela.
Em 2016, dez escolas estaduais de Belo Horizonte, Vespasiano, Contagem, Nova Lima, Ribeirão das Neves e Santa Luzia integrarão o projeto piloto de implementação do Programa. O mapeamento das escolas começa em maio, para que em junho seja realizado o Plano Participativo, onde a comunidade escolar terá voz para definir os temas e linguagens mais adequados às unidades escolares participantes.
A partir de agosto, têm início as atividades denominadas “experimentações”, oficinas que colocam os jovens em contato com diversas tecnologias, linguagens e estilos profissionais, ampliando seu repertório e os engajando na realização de um produto final: uma intervenção na comunidade onde vivem. Cada escola contará com quatro especialistas em tecnologias sociais para atender aos projetos, que serão realizados em 30 horas. No final, haverá um encontro público nas unidades para que toda a comunidade conheça as intervenções.
No ano passado, foram realizadas duas experimentações em escolas de Belo Horizonte. Na escola Laudieme Vaz de Melo, no bairro União, houve oficinas de dança, música, teatro e grafite. A Celso Machado, bairro Milionários, recebeu as propostas de dança, fotografia, teatro e grafite. “As oficinas são uma parte do processo. Para isso, os jovens são estimulados a circular pelas áreas urbanas, explorando espaços e experimentando novas formas de expressão”, explica Angela.
Estão previsto encontros formativos para superintendências regionais, assessores pedagógicos, diretores e coordenadores de educação integral, assim como a realização de pesquisa sobre as condições de implementação de programas de educação integral nas escolas públicas mineiras. A sistematização do trabalho e da pesquisa resultará em um livro-itinerário, que possa ser instrumento para a disseminação junto aos profissionais da rede estadual de educação. “A sistematização é importante para a transferência de conhecimento e para a continuidade das propostas”, pondera Angela.
Ana Claudia Bellintane