“O Enem tem um papel importante de universalização do acesso ao ensino superior, mas que não seja único, que as instituições possam usar cada uma os seus critérios”, defende. O diretor do Grupo Etapa considera que o Enem gera problemas mais de ordem prática do que conceitual. Segundo ele, por exemplo, a forma como vem sendo atribuídos os pesos das notas do Exame, bem como a maneira como é feita sua divulgação, criaram uma “lente deformada” pela qual os pais e a sociedade estão olhando para as escolas hoje. “É mais um problema de aplicação do que de conceito. Não é preciso mudar sua estrutura, mas a conta”, analisa Bindi.
Ou seja, há, em sua visão, problemas decorrentes da correção das provas, entre eles a aplicação da metodologia da TRI – Teoria de Resposta ao Item – nos testes e a correção da redação; da composição das notas – “redação representa apenas 10% de todo o esforço do estudante, mas tem o mesmo peso das demais provas” -; e de como essas médias por escolas são divulgadas à sociedade. “A prova é nacional, mas os avaliadores são regionalizados”, observa o diretor, explicando que estados como Maranhão e Santa Catarina, por exemplo, acabam utilizando critérios diferenciados na hora de corrigir a redação dos candidatos.
Assim, mesmo que em Santa Catarina eles registrem bom padrão de desempenho nas áreas de Matemática e Português, por exemplo, em redação, sob rigorosa correção do avaliador, acabam com notas baixas. Como ambas as provas – conhecimentos específicos e redação – têm o mesmo peso, a média geral em Santa Catarina torna-se baixa. “A média de redação no Maranhão é absurdamente alta, o que já é um sinal de que a redação tem muitos problemas”, enfatiza Bindi. No Brasil, destaca, “são quase 4 milhões de correções feitas em pouco tempo, são feitas cerca de 300 correções por dia por pessoa”. “A partir disso tudo se classifica as escolas, imagina a deformação de imagem que isso cria sobre essas instituições”, analisa. Para o diretor e um dos fundadores do Grupo Etapa, compete à educação básica proporcionar “formação de base científica e cultural, que é indispensável para que se melhore o mundo. A educação básica tem a obrigação de cuidar disso de forma ampla.” A partir daí, o diretor defende que compete a cada instituição de ensino superior definir os critérios de acesso dos estudantes.
“As escolas estão perdidas”
O economista Paulo Nathanael Pereira de Souza, doutor em Educação e autor do livro “Caminhos e Descaminhos da Educação Brasileira” (Integrare Editora, 2011), faz críticas mais contundentes ao Enem. Para ele, o Exame “mudou de rumo e objetivos e tornou-se mero instrumento de classificação para acesso ao ensino superior”. A ideia inicial era que as provas permitissem avaliar a eficiência do ensino brasileiro. O objeto principal era o trabalho da escola, da sala de aula, não a classificação dos alunos.
Paulo Nathanael diz que o Enem “deveria voltar às origens de mostrar como os alunos estão aprendendo. Esse retorno é uma forma de salvar o Enem”, acredita o ex-dirigente de secretarias e órgãos públicos ligados à área da educação. Na verdade, Nathanael pontua que a “grande crise” que atinge a educação brasileira é que “as escolas estão perdidas, não sabem mais o que fazer em educação. Elas não sabem para que lado tocar seu trabalho, este é um problema básico do Brasil, que não tem políticas consistentes em nenhum setor.
Falta planejamento sistêmico, um desenho do que queremos para o Brasil, o que está nos levando ao desperdício de energia”, conclui Nathanael.
Por Rosali Figueiredo
Saiba+
Carlos Eduardo Bindi bindi@etapa.com.br
Paulo Nathanael Pereira de Souza paulonathanael@yahoo.com.br