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Especial Enem: Exame apresenta “mais um problema de aplicação que de conceito”

Com ou sem Enem, e qualquer que seja o perfil de cada exame de acesso ao ensino superior, a educação básica deve “fortalecer o conhecimento de forma ampla, que prepare o aluno para compreender cientificamente o mundo e interagir com ele, independente do que este jovem vá fazer no futuro”. Este é o pano de fundo que deve nortear a definição dos projetos pedagógicos pelas escolas, aponta Carlos Bindi, diretor do Grupo Etapa. Ele condena principalmente a visão unilateral que se formou na sociedade em torno do Enem, tomando-o como “único instrumento válido de avaliação das escolas”. Teme ainda o risco de que o Enem se torne também única forma de acesso aos cursos de nível superior.

“O Enem tem um papel importante de universalização do acesso ao ensino superior, mas que não seja único, que as instituições possam usar cada uma os seus critérios”, defende. O diretor do Grupo Etapa considera que o Enem gera problemas mais de ordem prática do que conceitual. Segundo ele, por exemplo, a forma como vem sendo atribuídos os pesos das notas do Exame, bem como a maneira como é feita sua divulgação, criaram uma “lente deformada” pela qual os pais e a sociedade estão olhando para as escolas hoje. “É mais um problema de aplicação do que de conceito. Não é preciso mudar sua estrutura, mas a conta”, analisa Bindi.

Ou seja, há, em sua visão, problemas decorrentes da correção das provas, entre eles a aplicação da metodologia da TRI – Teoria de Resposta ao Item – nos testes e a correção da redação; da composição das notas – “redação representa apenas 10% de todo o esforço do estudante, mas tem o mesmo peso das demais provas” -; e de como essas médias por escolas são divulgadas à sociedade. “A prova é nacional, mas os avaliadores são regionalizados”, observa o diretor, explicando que estados como Maranhão e Santa Catarina, por exemplo, acabam utilizando critérios diferenciados na hora de corrigir a redação dos candidatos.

Assim, mesmo que em Santa Catarina eles registrem bom padrão de desempenho nas áreas de Matemática e Português, por exemplo, em redação, sob rigorosa correção do avaliador, acabam com notas baixas. Como ambas as provas – conhecimentos específicos e redação – têm o mesmo peso, a média geral em Santa Catarina torna-se baixa. “A média de redação no Maranhão é absurdamente alta, o que já é um sinal de que a redação tem muitos problemas”, enfatiza Bindi. No Brasil, destaca, “são quase 4 milhões de correções feitas em pouco tempo, são feitas cerca de 300 correções por dia por pessoa”. “A partir disso tudo se classifica as escolas, imagina a deformação de imagem que isso cria sobre essas instituições”, analisa. Para o diretor e um dos fundadores do Grupo Etapa, compete à educação básica proporcionar “formação de base científica e cultural, que é indispensável para que se melhore o mundo. A educação básica tem a obrigação de cuidar disso de forma ampla.” A partir daí, o diretor defende que compete a cada instituição de ensino superior definir os critérios de acesso dos estudantes.

“As escolas estão perdidas”

O economista Paulo Nathanael Pereira de Souza, doutor em Educação e autor do livro “Caminhos e Descaminhos da Educação Brasileira” (Integrare Editora, 2011), faz críticas mais contundentes ao Enem. Para ele, o Exame “mudou de rumo e objetivos e tornou-se mero instrumento de classificação para acesso ao ensino superior”. A ideia inicial era que as provas permitissem avaliar a eficiência do ensino brasileiro. O objeto principal era o trabalho da escola, da sala de aula, não a classificação dos alunos.

Paulo Nathanael diz que o Enem “deveria voltar às origens de mostrar como os alunos estão aprendendo. Esse retorno é uma forma de salvar o Enem”, acredita o ex-dirigente de secretarias e órgãos públicos ligados à área da educação. Na verdade, Nathanael pontua que a “grande crise” que atinge a educação brasileira é que “as escolas estão perdidas, não sabem mais o que fazer em educação. Elas não sabem para que lado tocar seu trabalho, este é um problema básico do Brasil, que não tem políticas consistentes em nenhum setor.

Falta planejamento sistêmico, um desenho do que queremos para o Brasil, o que está nos levando ao desperdício de energia”, conclui Nathanael.

Por Rosali Figueiredo

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Carlos Eduardo Bindi bindi@etapa.com.br

Paulo Nathanael Pereira de Souza paulonathanael@yahoo.com.br

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