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Gestão Escolar — Investimentos: recursos próprios e financiamentos

Matéria publicada na edição 74 | Dezembro 2011 – ver na edição online

ORGANIZANDO-SE PARA O FUTURO

De olho na concorrência e pressionada por um mercado bastante competitivo, a rede privada de ensino procura investir mais na modernização física e na infraestrutura tecnológica. Segundo especialistas em gestão, o ideal é adotar um modelo misto de investimento, formando capital com recursos próprios e estudando as melhores linhas de crédito do mercado.

Por Rosali Figueiredo

O Colégio Joana D’Arc, instituição de 72 anos localizada no bairro do Butantã, em São Paulo, que desde 1963 está sob a gestão da família Pomarico, não vê a hora de construir um ginásio de esportes para seus 700 alunos. “É algo muito importante para a vida deles dentro da escola”, observa uma de suas mantenedoras, Ana Cristina Pomarico, lembrando que as obras devem iniciar em 2012 a um custo estimado de R$ 400 mil. Mas Ana Cristina está ainda quebrando a cabeça para programar esse empenho, que terá que ser feito com recursos próprios, já que a instituição não consegue, pelo perfil de seu faturamento, acesso a linhas de crédito com juros subsidiados, como as do BNDES, por exemplo (Leia matéria na pág. …).

Segundo Ana Cristina, a rede privada de escolas ressente-se da ausência de linhas ou programas especiais ao segmento, a exemplo do que está disponibilizado para o ensino público. Desta forma, o mantenedor empreende um ritmo lento de investimentos e encontra dificuldades para reter um índice entre 10% e 20% ao mês da sua receita e formar um capital exclusivamente destinado ao crescimento do negócio. Nos últimos dois anos, por exemplo, o Joana D’Arc investiu na reforma da sede do Ensino Infantil, “algo que teve muita repercussão e chamou a atenção dos pais e da comunidade”. Somente agora poderá iniciar o ginásio.

Paralelamente, a instituição pretende modernizar o laboratório de informática do Ensino Fundamental e Médio. Outro investimento previsto é a implantação gradual de lousas digitais nas salas de aula. Mas somente para o laboratório de informática Ana Cristina poderá contar com uma política de crédito mais favorável, pois utilizará o Cartão BNDES. O recurso foi empregado recentemente na implantação da sala de informática da Educação Infantil. Conforme observa Ana Cristina, o Cartão BNDES ajuda um pouco, mas está restrito a uma lista de fornecedores cadastrados pelo Banco, os quais nem sempre oferecem a melhor relação custo benefício. Assim, para as lousas digitais, ela não poderá contar com o banco, já que seu fornecedor recusou-se a se cadastrar e ela não pretende abrir mão dos seus serviços. Entretanto, o que mais auxiliaria a escola seria a existência de linhas exclusivas para pequenas obras e reformas, diz.

Para o presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, a abertura de linhas especiais de crédito destinadas às micro, pequenas e médias empresas nos últimos anos no país, não apenas pelo BNDES, mas também por outras instituições públicas, criou alternativas às instituições de ensino. Entretanto, o dirigente ressalva que “ainda há muita burocracia” para que se possa, efetivamente, ter acesso a elas. Segundo Benjamin, a maioria das escolas ainda mantém o formato tradicional de investimento gradual com recursos próprios, retendo mês a mês uma pequena parcela de seu faturamento para reaplicar no negócio. “O ideal é que buscassem recursos no mercado financeiro, mas os juros tornam isso proibitivo”, pondera Benjamin.

A alternativa, segundo análise do consultor Walter Luiz Diniz Braga, ex-CEO (chief executive officer) do grupo Kroton Educacional (controlador da Rede Pitágoras, entre outros), é buscar o apoio de profissionais da área que avaliem as melhores linhas disponíveis no mercado. E optar por um modelo misto de investimento, em que 30% dos recursos provenham de fonte própria, e 70% do mercado financeiro. Segundo ele, “há várias possibilidades de capitalização, as quais exigem, porém, conhecimento e expertise”. É preciso, acrescenta Walter Braga, realizar um planejamento financeiro articulado ao estratégico, à cultura do provisionamento (“despesas de 2011 têm que ser pagas com recursos de 2011”) e a uma boa gestão dos dividendos. “O mantenedor precisa saber o que pretende da escola, para saber o que fazer com o lucro. Não se deve matar a galinha de ovos de ouro, a fonte da receita, usando o caixa da escola como se fosse um caixa pessoal.” Em outras palavras, Walter sugere que parte dos lucros seja reinvestida no negócio, programando-se seu crescimento em médio e longo prazo. E que, por outro lado, se o mantenedor exerce função administrativa ou pedagógica, que receba um pró-labore compatível com os valores de mercado e lançado como custo.

Também Alan Castro Barbosa, profissional da área contábil que atua com uma carteira de 220 instituições de ensino, defende um planejamento financeiro criterioso como ponto de partida a um plano de investimentos. Isso começa por uma política realista no reajuste das mensalidades, adequada aos custos da instituição e não à majoração média praticada pelo mercado; prossegue com uma boa gestão da folha de pagamentos, que não ultrapasse 50% da receita; e exige uma planilha anual dos custos, incluindo manutenção, inadimplência, gastos com benefícios e capacitação dos recursos humanos, além de extras como 13º, entre outros. Nesta planilha, Alan sugere separar a taxa de reinvestimento, algo em torno de 10% do faturamento, dos dividendos.

Segundo Alan, com a falta deste planejamento, muitos gestores tornam-se reféns de créditos imediatos de custos mais elevados para cobrir extras como férias e 13º salário, comprometendo a saúde financeira da instituição. “O que vai determinar se um empréstimo dará certo ou não será a capacidade administrativa e de planejamento do mantenedor”, observa Alan. O especialista destaca, por exemplo, que ao contratar linhas a juros altos, o gestor tende a repassar o custo para as mensalidades, “correndo o risco de perder aluno pela questão do preço e da queda da qualidade”.

 

AS OPÇÕES DO BNDES

A assessoria de imprensa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informa que a instituição não possui linhas ou produtos específicos às instituições de ensino, mas que as escolas privadas podem contar com os serviços do “Cartão BNDES” e do “BNDES Automático”. Ambos são intermediados por instituições parceiras. Para obter o cartão, é preciso fazer um cadastramento junto ao Portal do Banco (www.cartaobndes.gov.br), preenchendo um formulário e encaminhando-o a um banco emissor (Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Caixa Econômica Federal ou Itaú). Diferentemente dos cartões convencionais do mercado, o do BNDES não possui tarja magnética ou chip, “o que não possibilita realizar determinados tipos de operações, como, por exemplo, saque em caixas eletrônicos”.

Sua principal vantagem é proporcionar uma linha de crédito pré-aprovada no limite de até R$ 1 milhão, a ser quitada com prestações fixas, prazo de pagamento de três a 48 meses e taxa de juros menor que a do mercado (foi de 0,97 % em novembro passado). Segundo o BNDES, mais de 176 mil itens estão disponíveis para compra através do cartão e com operações somente através da internet, entre eles máquinas e equipamentos, computadores, softwares, móveis comerciais, veículos utilitários e motocicletas para serviços de entrega. Os fornecedores devem estar cadastrados e os produtos relacionados às atividades de micro, pequenas e médias empresas.

O “BNDES Automático”, por sua vez, financia projetos entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, conforme o tamanho da empresa, também via agentes financeiros, credenciados pela instituição. Compete a esses agentes avaliar o perfil do cliente e decidir pela concessão ou não do crédito, já que “ele assumirá todo o risco da operação junto ao BNDES”. O produto contempla várias linhas de financiamento, como o “MPME – Investimento”, destinado a micro, pequenas e médias empresas de qualquer segmento. Segundo um dos agentes financeiros consultados, o “BNDES Automático” oferece financiamento de longo prazo, juros inferiores à média do mercado, alíquota zero do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e possibilidade de carência. Os recursos podem ser aplicados na expansão, modernização ou recuperação da atividade.

Ana Cristina Pomarico
anacristina@colegiojoanadarc.com.br

Alan Castro Barbosa
alan@bwcontabilidade.com.br

Benjamin Ribeiro da Silva
sieeesp@sieeesp.com.br

BNDES Automático
http://www.bndes.gov.br/

Portal de Operações do Cartão BNDES
www.cartaobndes.gov.br

Walter Luiz Diniz Braga
walter@walia.com.br 

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