Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
“Metodologias ativas são focadas na aprendizagem e não no ensino, em que o aluno se torna protagonista da própria aprendizagem. Com a mediação do professor, que tem papel fundamental, o estudante vai em busca de conhecimento através de pesquisas, entrevistas, participa de debates, e demais ações que o tiram da posição passiva de assistir aulas e responder questões prontas”, afirma Cristine Soares, mestra em Currículo Inovador (PUC-SP)
O denso processo educacional percorre, na atualidade, um emaranhado de pesquisas instigantes, reflexões e questionamentos sobre todos os âmbitos que compõem o sistema de ensino. Nesse aspecto, tendo a educação como um fenômeno sociocultural, as reverberações que atravessam a sociedade refletem, de certa forma, na relação com o aprendizado e suas atribuições.
Nos últimos anos, em especial, avistamos a entrada de uma nova geração totalmente conectada em todas as séries de ensino e, com isso, esses estudantes nativos digitais anseiam da rotina escolar aspectos criativos, inovadores, instigantes e que produzam, em sua realidade, novas/outras experimentações com o campo do conhecimento. Assim, o questionamento central que norteia a contemporaneidade, é: O sistema pedagógico tradicional é capaz de resolver as demandas que emergem na atualidade?
Para responder esta questão, encontramos nas metodologias ativas estratégias de aprendizagem que reestruturam o modelo convencional em sala de aula, incentivando, nos estudantes, a participação ativa no processo de ensino-aprendizagem. Para Cristine Soares, mestra em Currículo Inovador (PUC-SP), pedagoga, escritora e palestrante sobre metodologias ativas e inovação, os principais benefícios na utilização dessas metodologias para os alunos são: promover autonomia, responsabilidade, desenvolvimento do relacionamento interpessoal, resiliência, criatividade, motivação e a capacidade de solucionar problemas.
“Além disto, com alunos engajados a aula se torna mais prazerosa e interessante, o professor aumenta o vínculo com os estudantes pois se torna mais próximo, o que também permite a personalização do ensino, podendo criar jornadas de trabalho individuais, de acordo com as necessidades de cada um”, ressalta Soares. Dessa forma, estratégias como Ensino Híbrido, PBL (Problem Based Learning), Sala de Aula Invertida, Design Thinking, Cultura Maker e Rotação por Estações (alunos estudam de forma compartilhada e em diferentes espaços da escola), podem ser utilizadas com o intuito de engajar o aprendizado.
“Mais importante do que pensar nas estratégias é mudar a cultura da escola, esse é o primeiro ponto. Todos os envolvidos devem estar alinhados com o que se pretende, porque a abordagem por si só não vai garantir o êxito, mas sim a intencionalidade pedagógica e a concepção de educação que embasa as práticas”, reflete Soares.
PROTAGONISMO NO CONHECIMENTO
Nas dinâmicas que compõem as metodologias ativas, o papel dos educadores em sala de aula, bem como sua relação com os estudantes e o campo da aprendizagem, apresenta caminhos e possibilidades diversas. Nesse contexto, o professor transita de expositor de conteúdo para observador, ressaltando, dessa forma, o protagonismo do conhecimento nos alunos.
“O docente deve ter conhecimento de como funcionam e os objetivos de cada metodologia ativa, para poder aplicá-las de forma adequada. Ao aplicar, seu papel é orientar os passos, intervir quando necessário em pontos-chave da metodologia escolhida, como um coach. O maior desafio do professor é fazê-lo de modo que não atrapalhe a autonomia do aluno, explica Janaína Spolidorio, especialista em educação.
De acordo com a especialista, qualquer conteúdo ou disciplina do currículo pode ser trabalhada com estratégias das metodologias ativas. Um exemplo prático, cita Spolidorio, são as aulas investidas – nesse modelo, os alunos trabalham em pequenos grupos e apresentam para a classe uma “aula” sobre determinado assunto. A ideia, que a princípio remete aos convencionais seminários, pode ser reformulada com orientação adequada e um sentido ativo.
Nessa reformulação, “o professor pode entregar aos grupos um formulário de registro dos passos da pesquisa, para formalizar e deixar mais organizado. Neste formulário constarão sugestões de leitura (até textos anexos, se julgar interessante), data de apresentação, objetivos a serem atingidos pelo grupo e tópicos a serem estudados. Note que é um trabalho completo, tanto para o professor quanto para o aluno”, indica Spolidorio.
Para complementar essa ideia, o Prof. Dr. Francisco A. C. Mendes, pesquisador e consultor educacional, ressalta que toda estratégia e metodologia em educação deve ser usada de maneira parcimoniosa. Tendo em vista os objetivos a serem traçados, é interessante verificar os instrumentos de mediação disponíveis (tecnologias, espaços diversificados, materiais complementares, etc.), além de compartilhar suas ideias com outros professores a fim de promover uma ação multidisciplinar.
“Garanta a coesão da trajetória pedagógica de aprendizagem. Lance periodicamente desafios prévios aos alunos visando prepará-los para o momento da aplicação. Crie uma história para desenvolver a atividade do início ao fim. Estude formas de melhorar as aplicações e participe sempre de discussões sobre o tema”, ressalta Mendes.
FORMAÇÃO DINÂMICA
“Eu crio procedimentos, rotinas e atividades de aula que servem como guias para o exercício do aprendizado. Enquanto que na didática tradicional, iria expor o conteúdo, incentivar os alunos a repetirem as lições e depois a fazerem exercícios para fixarem o conhecimento”, explica o professor Ricardo Lourenço da Escola Bilíngue Pueri Domus – uma das mais tradicionais escolas paulistanas, atendendo desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Segundo o professor, o aprendizado torna-se mais eficiente através do protagonismo, alterando a lógica da didática tradicional pela metodologia ativa. De maneira prática, o processo em sala de aula se dá com o professor gastando menos tempo na exposição de conteúdo e destinando boa parte da aula para o aluno trabalhar na construção do aprendizado. Mas isso não significa que o papel do professor é menor – ao contrário, é redirecionado e mais focado no aluno e não apenas no conteúdo.
No processo, enquanto os estudantes estão fazendo as atividades propostas, o professor acompanha os grupos para identificar quem está aprendendo e quem está tendo dificuldade. Assim, o professor consegue ajudar na absorção de conhecimento no primeiro contato com a matéria. “Com as metodologias ativas eu passo a primeira atividade e começo a observar os alunos, sempre focado na aprendizagem deles”, comenta Ricardo.
Dessa forma, como consequência, o estudante desenvolve a autonomia e maior confiança e autoestima nos estudos. Ao serem estimulados a resolverem problemas durante as aulas, eles estarão melhor preparados para enfrentar os desafios da fase adulta. Nas salas de aula do Pueri Domus onde as metodologias são adotadas, o eixo fundamental baseia-se na interação aluno-professor, sem perder o foco do conteúdo através de um contato maior com os alunos, divididos em grupos menores. Essa interação, na prática, estimula uma proposta pedagógica de formação integral e dinâmica – comprometida com as demandas da contemporaneidade.
Saiba mais:
Cristine Soares – cristine.educadora@gmail.com
Escola Pueri Domus – sonia.xavier@alfapress.com.br
Francisco A. C. Mendes – franciscoacmendes@gmail.com Janaína Spolidorio – contato@janainaspolidorio.com.br