Logo após o descobrimento do Brasil, os jesuítas começaram a catequização dos índios com o objetivo de ensinar os princípios católicos e da sociedade europeia da época. Aos poucos, imigrantes e indígenas fundaram pequenos vilarejos ao redor das igrejas e escolas.
Apesar dos papéis da igreja e da escola se misturarem, na Terra de Vera Cruz tudo que se referia à educação partia da instituição de ensino: crianças, imigrantes e índios aprendiam a ler, a cultura colonizadora e eram catequizados.
Logo após o início da monarquia, em meados de 1850, a educação mudou de rumo valorizando a rede doméstica de ensino (homeschool), organizada a partir de casas grandes para filhos dos senhorios. Nesse momento, nasceram as primeiras escolas particulares do país.
Depois de passar por um período elitista, no início do século XIX, com a entrada do regime republicano, a educação no Brasil voltou-se para o ensino laico e público.
Nessa época, a escola passou a se concentrar unicamente na informação. A aquisição de conhecimento era de responsabilidade da escola e a formação de valores ficava a cargo das famílias, principalmente das mães e avós.
Na década de 1950, após a Segunda Grande Guerra, o início do ingresso das mulheres no mercado de trabalho, o aumento da longevidade e produtividade dos avós, além da queda da qualidade do ensino público, forçaram as famílias a desembolsarem dinheiro para prover seus filhos de uma boa educação. Isso levou a um aumento na diferença da qualidade entre a escola pública e a particular.
Pela necessidade de trabalhar fora, os pais delegaram a educação plena para as escolas que, na maioria dos casos, não estavam preparadas para assumir esse papel, gerando sequelas sentidas até hoje.
Não sei ao certo o quanto os problemas da educação no Brasil contribuíram para o estado da nossa sociedade, mesmo antes da pandemia. O radicalismo, o preconceito, a violência e a corrupção são, provavelmente, causa e efeito do sistema socioeducacional brasileiro.
Diante deste cenário, ao invés da escola, a família e a comunidade unirem forças em prol da melhoria da educação, o que algumas vezes acontece é justamente o contrário. É comum escutar escolas atribuírem os problemas com alunos às famílias e vice-versa.
Como a escola vê a família:
• Professores sentem-se incomodados quando os pais opinam nas áreas em que se julgam competentes. Isto se intensificou com as aulas on-line, quando as famílias passaram a se apropriar do que ocorre em sala de aula.
• Professores responsabilizam as famílias pelas dificuldades apresentadas pelos alunos.
• Professores criticam os pais por não assumirem o protagonismo na educação dos seus filhos.
• A família, principalmente a mãe, exige uma educação compensatória, pois fica pouco tempo com os seus rebentos.
Como a família vê a escola:
• Os pais não compreendem o processo de ensino-aprendizagem, os projetos pedagógicos e, no caso da educação infantil, a importância do brincar.
• A escola mantém as suas atividades sem consultar os pais sobre temas de seu interesse e horários adequados.
• Grande parte do que a escola lança de novidade tem cunho comercial.
Neste fogo cruzado, as maiores prejudicadas são as gerações futuras, que continuarão com sequelas educacionais e formativas. Apesar de gerar algumas celeumas, precisamos parar, refletir e desenvolver um projeto de interação, reciprocidade e apoio mútuo em prol da educação de crianças e jovens. Para isso, a escola precisa retornar as suas origens do período do descobrimento do Brasil e ser protagonista na formação de uma rede social que influencie e eduque, além dos alunos, seus familiares e o meio ao seu redor.