Como brasileiros, costumamos ouvir quase que diariamente relatos de obras inacabadas, de museus e pontes que desabam, de tragédias que poderiam ser evitadas e de mortes que não precisariam ter acontecido caso não tivessem ocorrido o abandono e o descaso com o que é público.
Em nosso país sofremos de um problema muito frequente, advindo da ideia de acreditar-se que o que é público é de ninguém. Sendo assim, há quem pense que não haverá consequência se jogar a latinha para fora do transporte público. Que não tem problema roubar dinheiro pela corrupção. Há quem acredite que não tem grandes efeitos não entregar o prometido, não honrar a palavra, não fazer o certo. Para estas pessoas é como se não houvesse o outro, apenas o desejo próprio, imediato.
O que é preciso lembrar é que o outro não existe de forma absoluta, pois somos todos o outro uns dos outros. No livro O poder das conexões[1], de Nicholas Christakis, são apresentados estudos que indicam que somos afetados direta e indiretamente uns pelos outros de forma consciente ou não. Nosso olhar, nossas ações, nossas palavras reverberam nos sistemas sociais e deixam marcas e mesclas que diariamente nos inspiram ou nos adoecem.
Todos nós conhecemos a expressão “alto astral”, que é quando estamos ao lado de alguém que em pouco tempo nos anima, nos alegra, nos deixa mais leves. E há também o “baixo astral”, ou seja, o contrário disso. O que não pode acontecer em uma escola é justamente a instalação do baixo astral. Simplesmente porque escola é lugar de sonhar, de aprender, de conviver, de crescer, de sorrir e de amar a vida, para podermos, a partir dela, construir um projeto de vida. E isso se faz com gente que se sente viva por dentro. Afinal, não ensinamos somente o que sabemos, mas também o que somos.
Em sua instituição escolar, como têm sido tratadas as pessoas? Será que elas se sentem vistas, queridas, olhadas, notadas de verdade? Será que os profissionais que dedicam horas preciosas de suas vidas trabalhando para você se sentem animados quando toca o despertador? Ou este é para eles e elas o momento do martírio começar? Seus professores se sentem estimulados, inspirados? Eles são constantemente treinados e capacitados para dar o seu melhor? Ou eles acabam deixando por isso mesmo, afinal, ninguém se importa com eles?
São perguntas que podem nos aliviar ou nos incomodar, dependendo do que se constrói diariamente nas relações de uma instituição. Cabe ao gestor ou a gestora de uma instituição zelar para que o abandono e o descaso não acabem por fazer ruir todo um sonho depositado pelos que nela confiam.
[1] CHRISTAKIS, Nicholas. O poder das conexões. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2009.