Atualmente temos assistido a um significativo aumento nos diagnósticos relacionados às psicopatologias da infância. Os pais buscam profissionais queixando-se de problemas de comportamento e dificuldades na aprendizagem, frequentemente encaminhados pela escola. Temos ouvido falar insistentemente sobre a patologização e a medicalização da infância. Cabe uma reflexão acerca dos fatores que podem promover o desenvolvimento da aprendizagem, que tem seu início no ambiente familiar.
Os três primeiros anos de vida são considerados fundamentais para o desenvolvimento humano, pois o mesmo ocorre de forma acelerada tanto no que diz respeito aos aspectos orgânicos, quanto intelectuais, emocionais, sociais e psíquicos, criando condições para que a criança se torne um adulto capaz de conduzir positivamente sua vida. Partindo dessa premissa, é fundamental que as crianças estejam inseridas em ambiente familiar amoroso, sensível, acolhedor e cognitivamente estimulante para seu desenvolvimento, inclusive o da aprendizagem e da linguagem.
A partir do desenvolvimento da linguagem, a criança está apta a compartilhar significados com o outro e a participar da aprendizagem sociocultural, sendo esta a base da prontidão para a aprendizagem escolar. E a linguagem começa a desenvolver-se desde o momento do nascimento do bebê. O bebê se comunica com seu outro primordial, frequentemente a mãe, através do choro, do olhar, de seu corpo, suas expressões. A mãe poder pensar, interpretar o significado desse choro, desse gesto, desse grito, marca o início do desenvolvimento da linguagem no sentido mais amplo da palavra. Desta forma, é fundamental que a mãe suponha a existência de um sujeito para que este venha a existir e desenvolver-se.
Através da fala suave e melodiosa da mãe, o carinho transmitido através do olhar, a criança aprenderá a sorrir e imitar alguns sons. As brincadeiras amorosas iniciadas com o bebê, deste o nascimento, através da voz, do corpo, e que vão se tornando mais complexas na medida em que o bebê cresce contribuem de forma fundamental para o desenvolvimento emocional, cognitivo, intelectual e social. Enfim, estar com a criança nas atividades do dia-a-dia, tendo prazer em sua companhia, interagindo com ela, apresentando-lhe o mundo e oferecendo-lhe um ambiente afetivo e estimulante é fundamental para sua constituição subjetiva que coordena o desenvolvimento de forma global.
As experiências positivas que as crianças vão compartilhando com seus pais desde o nascimento, e mesmo antes dele, vão moldando seu desenvolvimento. É neste período, do zero aos 3 anos, que também se inicia o aprendizado das regras de convivência, o que é ou não permitido, a percepção de que existe um outro a ser considerado e respeitado. Inicia-se a percepção de que nem todos os seus desejos serão atendidos, aprenderá a tolerar a frustração, inerente à vida humana e fundamental para o desenvolvimento. É um longo processo que parte das situações mais elementares do dia-a-dia para as mais complexas.
Quando este processo ocorre de modo inadequado pela não atuação e participação dos pais, o desenvolvimento da criança fica comprometido, tornando-se pouco habilidosa para administrar as adversidades naturais do dia a dia, desenvolvendo uma baixa tolerância à frustração, além de comportamentos desviantes e que irão prejudicá-la no seu desempenho como ser social, como ser de linguagem.
É fundamental que os pais sejam esclarecidos da importância da sua participação no desenvolvimento dos seus filhos. Necessitam saber que são eles que vão moldar este desenvolvimento e por isso precisam estar atentos e informados para agir da melhor forma.
SERVIÇO:
Ana Paula Magosso Cavaggioni psicóloga da Clia Psicologia e Educação
Psicóloga Clínica – Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
Especialização RAMAIN – Cari Psicologia e Educação
Especialização DIA-LOG – Cari Psicologia e Educação
Pesquisadora convidada do IPUSP – Departamento de Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade.
Diretora da Clia Psicologia e Educação
(11)4424-1284 / (11)2598-0732