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O tom da comunicação com crianças

A palavra comunicação tem sua raiz etimológica no termo latim communicare, da communis, ben comum. A comunicação representa, então, o instrumento privilegiado para construir, manter e organizar as relações interpessoais.

Com as palavras, transmitimos mensagens, informações, significados, emoções, necessidades, intenções, desejos, expectativas e também quem somos. Por isso podemos dizer que a comunicação tem, em síntese, dois níveis de significados: o primeiro é do conteúdo e das informações; o segundo é da relação, do diálogo e da interação com o outro.

Com as crianças a comunicação assume um aspecto ainda mais importante no nível da relação, porque é necessário calibrá-la e moderá-la de acordo com a idade e a compreensão de cada uma. É importante lembrarmos que elas possuem uma percepção diferente do mundo, que está alinhada ao seu desenvolvimento.

Nesse sentido, conhecer e compreender como o cérebro da criança amadurece – quando ela alcança determinadas competências e capacidades e quando consegue atingir específicas funções mentais e executivas – é de grande ajuda para os educadores que interagem com ela. Muitas vezes, as crianças não conseguem compreender a mensagem transmitida verbalmente, às vezes conseguem entender só uma parte e outras vezes interpretam com resultados negativos.

Para ajudar as crianças a nos entender melhor e permitir que a comunicação seja uma ponte que nos une, podemos ficar atentos a algumas interações, como:

Ameaças

Para uma criança a ameaça é algo sério e verdadeiro. Frases ameaçadoras são emocionalmente desestabilizantes e criam uma sensação de medo e de “não tenho saída”.

Incoerência entre comunicação verbal e não verbal

As crianças, que são mais intuitivas que os adultos, percebem muito bem os aspectos incoerentes dos elementos da comunicação verbal e não verbal, como o olhar, o tom de voz, a postura e as expressões faciais. Esteja sempre atento se a mensagem que quer transmitir à criança está alinhada à sua comunicação não verbal.

Ironia e sarcasmo

Quando adulto, conseguimos facilmente compreender essas expressões, mas as crianças ainda não têm as competências cognitivas para compreendê-las (elas desenvolvem normalmente a partir dos 7 anos). Por isso, essa é uma modalidade ineficaz com os alunos pequenos e pode criar vergonha ou inadequação, impactando na sua autoestima.

Desqualificação de sentimentos

Diminuir a dor e o sentimento da criança quando ela teve um pequeno machucado, por exemplo, desqualifica o que ela está comunicando e expressando.

Mesmo que a intenção do adulto seja boa, o ideal é primeiro reconhecer e escutar o que a criança está sentindo, para depois consolar e falar que vai dar tudo certo.

Uso do “não”

Quando usamos o não acompanhado de um verbo, como “não corre”, precisamos lembrar de que o cérebro funciona por representações e imagens mentais. Logo, a ação “correr” será ativada primeira e imediatamente na mente da criança, levando-a a representar o comando e seguir correndo. Por isso, é melhor usar frases positivas, que tragam o resultado que queremos, por exemplo: “vá devagar” ou “fale mais baixo”.

Falar de comunicação eficaz significa falar especialmente de relações, e com as crianças é ainda mais importante abordar o aspecto afetivo, emocional e relacional, para que elas aprendam a criar pontes entre as pessoas, tornando-se adultos mais conscientes, completos e felizes.

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