Num voo do Rio de Janeiro para a Flórida (Estados Unidos), o comandante anunciou: “Uma notícia especial: estamos a bordo com estudantes da Secretaria Municipal de Educação, que ganharam a Olimpíada Carioca de Matemática (OCM). Estudar vale a pena! Aproveitem o voo”. A prefeitura da cidade resolveu premiar os melhores colocados na competição com uma viagem para a Disney e a Nasa, em Cabo Canaveral. Um misto de sonho e inspiração para os 292 alunos que, além da viagem, ganharam notebooks e livros, após uma disputa com quase 400 mil estudantes, do 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental.
Num outro exemplo envolvendo Olimpíadas Cientificas, o diretor e professor Gilton Lyra, do Colégio particular Núcleo, de Recife (PE), me relatou: “Muitos de nossos alunos foram aprovados para Unicamp, Unesp e Unifei sem precisar fazer vestibular”. Mas como isso foi possível?
Essas universidades reconhecem a cultura de estudos e a seriedade das Olimpíadas Científicas e, por isso, disponibilizam vagas em vários cursos de graduação para os alunos que ganham medalhas em competições de Matemática, Química, Física, Ciências, Robótica, Astronomia, Biologia, Português, Geografia e História. Com isso, facilitam o acesso ao ensino superior, estimulando a formação acadêmica em alunos de todo o país, que não precisam se deslocar para outros estados para realizarem as provas tradicionais de seus exames.
Tamanha é a importância das Olimpíadas Científicas que, em 1970, os Estados Unidos construíram um forte projeto para preparar alunos para essas competições, como uma forma de combater, na Guerra Fria, a hegemonia dos países do Leste Europeu, maiores vencedores das competições mundiais e aliados da então União Soviética. Após 1975, os americanos passaram a fazer parte dos 5 melhores países nas principais Olimpíadas internacionais e, atualmente, universidades americanas oferecem bolsas de estudo e outras oportunidades para os estudantes que se destacam. Foi uma destas oportunidades que levou o secretário de Educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha, a estudar e concluir seus estudos com bolsa integral em Harvard, uma das mais reconhecidas universidades do mundo. Ferreirinha foi aluno de escola pública e vencedor de algumas Olimpíadas Científicas.
A participação em Olimpíadas Científicas contribui para o desenvolvimento de habilidades específicas, como a resolução de problemas e a aplicação de conceitos e técnicas avançadas de trabalho em equipe, que são valiosas não apenas para a carreira acadêmica dos alunos, mas para a vida profissional e pessoal. Além disso, essas competições oferecem a oportunidade de aprender conteúdos não abordados no currículo regular, permitindo um aprofundamento em áreas de interesse pela ciência e tecnologia, incentivando os alunos a buscarem conhecimento além da sala de aula.
Alguns exemplos de Olimpíadas reconhecidas internacionalmente – e que ocorrem desde os anos de 1990 – são a Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), que acontece em escolas nacionais cadastradas na Sociedade Astronômica Brasileira, e a Canguru de Matemática, com origem na França e administrada globalmente pela Associação Canguru sem Fronteiras, com mais de 6 milhões de participantes por ano, em mais de 80 países. Também existem as Olimpíadas Científicas dedicadas às Ciências Humanas, como a Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB): uma competição formada por times de 3 alunos e orientadas por um professor, desenvolvendo habilidades cognitivas e sociais relacionadas a conhecimento, empatia, pensamento crítico e confiança mútua. Muitas escolas do Nordeste apostam na preparação de alunos para a ONHB, fazendo com que essa seja a região com o maior número de medalhas.
Um ponto importante: a participação das mulheres nessas competições ainda é baixa, o que evidencia a necessidade de maior incentivo para a sua inclusão. Por isso, algumas Olimpíadas nacionais e internacionais foram criadas exclusivamente para a participação feminina, estimulando a inserção das mulheres no mercado de trabalho em áreas ligadas à ciência e tecnologia.
É por essas e outras razões que entendemos como líderes escolares comprometidos são essenciais e responsáveis por garantir que seus alunos tenham acesso a diferentes oportunidades educacionais, fomentando uma cultura de estudos. Esse comprometimento vai se estendendo do corpo docente até as famílias, que se aproximam da rotina escolar e passam a valorizar mais o investimento da instituição na educação de qualidade. Precisamos de mais “pilotos”, como do voo do Rio de Janeiro, que levem inspiração aos jovens brasileiros. Afinal, estudar vale mesmo muito a pena!