Por Cesar Silva (*)
No final do ano letivo de 2017, os dois maiores grupos de educação superior do país anunciaram medidas aparentemente antagônicas, que levariam um leitor desatento a crer que atuam em segmentos e mercados distintos. A Kroton apresentou um plano de crescimento institucional para os próximos dez anos, prevendo, entre outros, a conquista de 650 mil alunos e uma expansão de R$ 1 bilhão em seu EBITDA. Paralelamente, a Estácio demitiu, de uma só vez, mais de 1.200 professores. Outras instituições realizaram cortes significativos, adequando seus modelos de negócios ao que o setor se tornará nos próximos anos.
Quando negociavam o processo não concretizado de compra da Estácio pela Kroton, equipes gestoras dos dois grupos estudaram possibilidades de integração de equipes, redução de quadros e otimização de processos. O primeiro suspendeu operações como criação de novos cursos e unidades e aquisições. Ao retomar a gestão individual, executou, no primeiro momento que que pôde – o final de um semestre letivo –, os planos de otimização e de economia elaborados anteriormente.
A Estácio, como todos os grupos educacionais, prevê a migração de estudantes de cursos presenciais para os na modalidade a distância (EaD), o que possibilita a redução dos seus quadros de professores. Outra variável é a Reforma Trabalhista. Não expressamente declarada mas facilmente identificada nas entrelinhas da lei, a possibilidade de contratação temporária permite que os quadros de docentes efetivos sejam reduzidos em todas as instituições.
Já a Kroton, sem perspectivas de adquirir concorrentes de grande porte, pretende manter a tranquilidade de seus acionistas por meio de uma expansão orgânica, que terá como base campos destinados ao EaD em cidades onde não atua. São planos ambiciosos, particularmente quando a procura de alunos pelo ensino superior cai mais de 16%, na média.
Recentes decretos e portarias normativas do Ministério da Educação fomentam a ofertar de cursos de graduação EaD, mas não há nada que estimule o ingresso de estudantes no ensino superior. Os mais de 650 mil alunos que a Kroton pretende conquistar virão de outras instituições. Ainda assim, a proposta do grupo para 2027 não se sustenta na captação de estudantes, que ingressarão em programas EaD, de ticket médio significativamente inferior ao dos cursos presenciais. A previsão de um salto de 41% no EBTIDA baseia-se não no crescimento de receita, mas na redução de custos e despesas. Portanto, até 2027, deverá realizar cortes sistemáticos de docentes a cada final de semestre letivo.
Lamentavelmente, qualquer análise sobre a Educação Superior passa longe da discussão sobre novas estratégias, metodologias, novos recursos tecnológicos ou melhoria do processo ensino-aprendizagem. O caminho que as Instituições trilham leva a um crescimento a partir da massificação do ensino e da redução de custos para elevação do EBTIDA.
(*) Cesar Silva é presidente da Fundação FAT, entidade sem fins lucrativos que desenvolve cursos e treinamentos nas áreas de educação e tecnologia.