O fechamento das escolas e a introdução do ensino remoto na educação básica, implementado durante a pandemia do coronavírus, trouxeram desafios gigantes para famílias, estudantes e educadores. Junto com o ensino remoto veio também o maior uso de plataformas digitais para a educação. Muitas destas plataformas já existiam antes da pandemia, mas costumavam ser usadas de forma esporádica e complementar aos recursos mais tradicionais. No novo contexto, recursos de videoconferência tomaram o dia a dia das escolas, além de sistemas integrados de aprendizagem por onde professores enviam conteúdos e atividades para os alunos, aplicativos de comunicação com as famílias e ferramentas de avaliações digitais, entre outros.
Com a volta do ensino presencial, algumas ferramentas como as videoconferências darão lugar novamente às aulas presenciais, mas outras que foram experimentadas e aprovadas durante a pandemia devem continuar sendo usadas no formato de ensino híbrido. Isso porque muitos educadores perceberam que as tecnologias podem trazer ganhos de eficiência e eficácia no processo de ensino e aprendizagem, que vão muito além das necessidades do ensino remoto.
Um exemplo destes ganhos trazidos pelas tecnologias educacionais é a geração automática de dados sobre o processo de aprendizagem. Com os alunos distantes dos professores durante o ensino remoto, plataformas digitais de avaliação tem sido um grande auxílio para monitorar os estudos e a aprendizagem dos estudantes. Por meio delas é possível ver quais conteúdos os alunos vêm assimilando bem, onde estão as maiores dificuldades e também as diferenças entre os estudantes. Sabemos que os contextos familiares diversos acentuaram ainda mais as diferenças entre alunos de uma mesma classe quando eles passaram a ter aula online.
Esta necessidade de entender melhor a aprendizagem dos alunos durante o ensino remoto tem levado vários professores a colocarem a análise de dados no centro de seu planejamento pedagógico. Ao observar de forma continuada os resultados das atividades dos alunos, é possível planejar ações para retomar aqueles conteúdos em que grande parte da sala teve dificuldade ou dar uma atenção maior para alguns alunos que possam ter ficado para trás em relação a turma. Educadores de todo o país com quem temos conversado nos contam que é uma mudança que deve ficar, pois traz um nível de informação difícil de observar “a olho nu” e que ainda será muito importante quando todos os alunos estiverem presenciais.
A volta às aulas presenciais é um excelente momento para um diagnóstico mais aprofundado da aprendizagem dos alunos durante o período remoto, a fim de entender as necessidades dos alunos e planejar o próximo semestre. Para isso, precisamos ter clareza do que estamos querendo medir, ou seja, quais informações vão auxiliar o nosso planejamento. A partir daí, buscar quais os melhores meios para coletá-las. Um exemplo seria selecionar as habilidades ou conteúdos fundamentais que são pré-requisitos para o ano letivo e aplicar uma avaliação diagnóstica destas aprendizagens. Outro exemplo é buscar entender quais barreiras de cunho emocional os estudantes podem estar trazendo após tanto tempo de ensino remoto. Neste caso, não faríamos uma avaliação de conteúdo, mas sim um diagnóstico qualitativo, a partir de conversas individuais, coletivas ou produções de texto/audiovisuais pelos alunos.
Por fim, para consolidar uma cultura de análise estratégica de dados educacionais na escola, este processo deve ser liderado pela direção, ou corre o risco de ficar restrito apenas àqueles professores mais entusiastas. É fundamental a promoção de espaços permanentes onde educadores possam discutir e trocar experiências sobre objetivos de aprendizagem, indicadores, coleta e análise de dados e planejamento pedagógico.
O choque trazido pelo ensino remoto e a necessidade de todos nós nos reinventarmos tem sido um motor para mudanças importantes nas escolas. É possível usarmos este aprendizado para nos aproximarmos mais das necessidades de alunos e professores, apoiando-nos mutuamente em nossas particularidades e em nossos potenciais.
Isabel Farah Schwartzman atua como Diretora de Avaliação Educacional da Santillana no Brasil, onde lidera o desenvolvimento e implementação de produtos e serviços digitais de avaliação para escolas públicas e privadas de todo o país. Mestre em Tecnologia, Inovação e Educação pela Universidade de Harvard, sua especialidade está na intersecção entre pesquisa e gestão para inovação na educação.