Ícone do site Revista Direcional Escolas

Gestão Escolar — Participação dos pais na vida escolar

Matéria publicada na edição 70 | Agosto 2011 – ver na edição online

Bons modelos de parceria geram comprometimento com formação

Experiência de implantação de coordenadores de pais, desenvolvida pela Fundação Itaú Social em parceria com o Instituto Fernand Braudel e a Secretaria de Estado de Educação, revelou-se como grande estratégia de aproximação entre as famílias e as escolas. Também em Taboão da Serra e Santa Bárbara D’Oeste programas voltados às famílias têm se mostrado bons modelos de parcerias, assim como um conjunto de ações desenvolvidas pelo Colégio Magister, de São Paulo.

A EXPERIÊNCIA PILOTO DOS COORDENADORES DE PAIS 
Mais de 80% dos pais dos alunos do Ensino Fundamental II e Médio da Escola Estadual Aquilino Ribeiro, localizada em Guaianazes, zona Leste de São Paulo, compareceram à reunião do primeiro trimestre deste ano, ou foram atendidos pela equipe docente em encontro posterior, conforme revela planilha apresentada pela coordenadora de pais Maria Aparecida Alexandre Custodio. Mas há três anos, quando a Fundação Itaú Social, o Instituto Fernand Braudel e a Secretaria de Estado da Educação iniciaram o projeto de coordenadores de pais em dez unidades da rede na região, dentro do Programa de Excelência em Gestão Educacional, a presença dos pais na escola “era quase zero”. Ex-funcionária terceirizada da Aquilino Ribeiro, mãe de quatro ex-estudantes e de uma aluna do Ensino Médio, avó de outro do 3º ano do Fundamental, Maria Aparecida ou simplesmente Cidinha mora há 27 anos no bairro e foi escolhida pela direção para desenvolver esse papel de coordenador de pais. “A proposta era chamá-los à participação na vida escolar dos filhos, mostrar a importância disso”, diz Cidinha, lembrando que durante o primeiro ano do projeto fez um mapeamento dos pais que nunca compareciam e foi atrás de cada família para identificar as razões disso.

“A maioria alegava dificuldade de horário, então a direção ampliou o atendimento, que ocorre agora em período integral, das 7h às 21h”. Houve semanas, neste ano, que Cidinha realizou 80 atendimentos, fazendo a triagem dos casos e encaminhando os familiares a quem competia dar solução à sua demanda, professores e/ou coordenadores. A média é de 20 a 30 atendimentos semanais. A coordenadora é contratada e remunerada pelo Programa e cumpre com jornada semanal de 40 horas, montando uma agenda que possa contemplar as diferentes rotinas dos pais.

Mas ela também realiza visitas domiciliares, cerca de 20 por mês. “Há situações em que eles não podem comparecer, cuidam de crianças pequenas ou portadoras de necessidades especiais”, explica. O importante, comenta, é estabelecer um vínculo e um compromisso do pai com a escola e com o próprio desenvolvimento do filho. “A participação começa em casa, com o seu envolvimento afetivo com tudo o que diz respeito à vida da criança”, observa. Vencida esta etapa, o pai começa a procurar a escola para tirar dúvidas e também a participar do Conselho de Escola ou da Associação de Pais e Mestres (APM), responsável pela destinação das verbas de custeio.

“Na verdade, o coordenador de pais colabora para uma mudança da cultura, trazendo a família para a escola e facilitando a comunicacomunicação entre esta e a comunidade, ou seja, ele ajuda a acolher esse pai”, explica Patrícia Mota Guedes, especialista em gestão educacional da Fundação Itaú Social. Inspirado em uma experiência desenvolvida em Nova York, o programa piloto da Fundação procurou trabalhar “com pessoas da própria comunidade”. “É um perfil profissional muito específico porque valorizamos o conhecimento local, além da capacidade interpessoal e de comunicação com os pais, as crianças e a equipe docente, com habilidades de mobilização que colaborem com ações de melhoria da escola”, diz. Assim, “o coordenador de pais se torna um grande aliado da equipe gestora, é um adulto que está próximo do aluno, o recebe na chegada à escola. Está próximo também do coordenador e professor, facilitando o contato destes com pais de alunos em dificuldades. Ele os envolve de forma propositiva com a escola, ajuda a organizar eventos e os convida para celebrarem as conquistas de seus filhos”, descreve Patrícia.

O programa piloto da Fundação será concluído no final deste ano e, ao longo deste semestre, sua equipe estará debruçada sobre a análise dos resultados. “Serão avaliados impactos sobre a percepção dos pais em relação às escolas (acolhimento, acompanhamento do filho e compreensão da missão da instituição), os indicadores sobre o desempenho dos alunos, a melhoria na sua relação com os colegas e na mobilização”, diz a gestora. Para a coordenadora Cidinha, a trajetória de três anos já se mostrou vitoriosa, haja vista o retorno positivo que tem observado na mobilização em que está envolvida hoje: formar novos coordenadores de pais que possam atuar voluntariamente a partir de 2012, já que o governo do Estado não definiu se dará continuidade à experiência. “Foi muito difícil unir a comunidade, mas acredito que se ficarmos com cinco pais voluntários, já estará de bom tamanho.”

PROJETO INTERAÇÃO FAMÍLIA ESCOLA: TABOÃO DA SERRA
Foram quatro mil visitas de professores às casas dos pais de alunos do Ensino Fundamental I em 2010, ou 36 mil em seis anos. Em 2011, em seu 7º ano, o Projeto Interação Família Escola da rede municipal de Taboão da Serra, município situado nos limites sudoeste da Capital paulista, está passando por reestruturação, mas a expectativa é que neste semestre haja a retomada das visitas domiciliares, as quais funcionam como importante “disparador de refl exão do professor em torno de sua prática pedagógica”, avalia Roberta Bellinato, supervisora de ensino e coordenadora do programa.

Pedagoga graduada pela Universidade de São Paulo, onde cursa mestrado em Pedagogia Social, Roberta afirma que a ideia é buscar na família elementos que permitam ao professor compreender um pouco mais o universo do aluno, e ao mesmo tempo facilitar uma relação de maior entrosamento e confiança entre escola, os pais e estudantes. “Em uma avaliação que realizamos com professores no final de 2010, 62% revelaram que houve melhora na aprendizagem após as visitas, 34% identificaram novo entrosamento e 66% modificaram, em algum ponto, a sua prática pedagógica”, apresenta Roberta.

Segundo ela, as visitas possibilitam ao professor compreender o contexto sem culpar nem julgar o aluno, desencadeiam uma prática mais tolerante e ajudam a estabelecer as verdadeiras responsabilidades dos pais e da escola neste processo. “O professor percebe como a escola é importante para mudar a vida de uma criança, ao mesmo tempo em que a família passa a auxiliar o filho a se tornar um bom estudante, a construir uma postura de autoestima e confiança.” E nessa nova relação, mais próxima e aberta, “o aluno se sente mais a vontade para conversar, questionar e tirar dúvidas com o professor, o que é decisivo para a aprendizagem”.

As visitas são feitas somente junto às famílias que aceitam receber o professor, através de um agendamento que ele próprio faz. “O laço de confiança entre escola e família se estreita, esta passa a entender a instituição de outra forma, a acompanhar o filho, a procurar o professor, ou seja, a visita favorece a integração.” Por outro lado, em sala de aula, muitas das situações observadas em casa ajudam a introduzir novas temáticas na abordagem dos conteúdos, “favorecendo uma prática mais real, contextualizada e articulada com a vida da criança”. É uma perspectiva educacional que considera o aluno como “indivíduo multifacetado, não apenas um ser cognitivo, mas perpassado por outras relações, que são afetivas, sociais, relacionais, ou seja, tudo aquilo que muitas vezes o professor não consegue visualizar apenas na sala de aula”, finaliza Roberta.

PROJETO REIZINHOS FELIZES: SANTA BÁRBARA D’OESTE 
Atuando há 33 anos com educação, a chefe do Departamento de Estudos e Normas Pedagógicas de Santa Bárbara D’Oeste, Ernestina Conceição Zanqueta Kinsui, acredita que a responsabilidade pela formação de valores em crianças, jovens e adolescentes deve ser “compartilhada por três pilares fundamentais: a família, a sociedade e a escola”. Nesse sentido, o Projeto Reizinhos Felizes, desenvolvido ano passado em 50 classes do 3º ao 5º ano, em 24 escolas da rede, procurou trabalhar, simultaneamente, a capacitação de professores e a conscientização de pais e alunos acerca das posturas éticas nos relacionamentos interpessoais. “Nas oficinas com professores e pais a abordagem foi a mesma: conscientizá-los da necessidade de proporcionar ao aluno parâmetros de valores de como se relacionar com o meio”, diz.

Foram sete encontros com os docentes e um com os pais, baseados na leitura e discussão dos livros da coleção “Falando de Sentimentos”, de autoria da psicóloga Luciene Regina Tognetta, publicados pela Editora Adonis com apoio do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo (ProAC). Entre os alunos, 1.700, o trabalho aconteceu em sala de aula também em torno dos livros da coleção, durante três meses, e envolveu a presença da autora, de contadores de histórias e do ilustrador das obras.

A psicóloga Luciene Tognetta, que coordenou a implantação das oficinas, afirma que o objetivo central foi capacitar o professor “para trabalhar a indisciplina na escola, mas, para que ele possa fazer isso, as crianças precisam se conhecer, conhecer ética e aprender a resolver os confl itos coletivamente”. Foram propostas “situações em que as crianças pudessem, prazerosamente, manifestar sentimentos e emoções em prol de suas relações consigo mesmas e com os outros, visando a superação de condutas agressivas”. Já os encontros com os professores totalizaram 45 horas e, com os pais, divididos em 20 grupos, atividades de duas horas. Para a chefe do Departamento de Estudos e Normas Pedagógicas de Santa Bárbara, Ernestina Kinsui, “os resultados foram satisfatórios, porque ainda existem familiares preocupados com o desenvolvimento de valores em seus filhos”.

A ESCOLA COMO LUGAR DE REFERÊNCIA PARA PAIS E FILHOS: MAGISTER
Este semestre promete para os estudantes das duas unidades do Colégio Magister, instituição que atua há 40 anos na zona Sul de São Paulo. Logo na primeira quinzena deste mês, está programado um Fórum da Juventude na sede da Rua Beijuí, Jardim Marajoara. Em setembro, por sua vez, as crianças menores receberão os avós na unidade Júnior, mas haverá outras atividades nas unidades até o final do ano, como o festival de esportes, a mostra cultural e um bazar de Natal. Em boa parte dos eventos, a participação direta ou indireta da família entra como um pilar indispensável à experiência empreendida com o aluno. “A escola vem desde o ano passado trazendo mais a família para o envolvimento formativo da criança, por isso desenvolvemos projetos de responsabilidade social e eventos em que haja a comunhão entre as partes”, afirma Carlos Enrique Garcia, professor de Teatro e coordenador das ações sociais na instituição.

Neste ano, o Magister promoveu a segunda edição do Dia da Família, que desde 2010 substituiu as comemorações tradicionais do Dia das Mães e Dia dos Pais. Segundo a escola, a proposta atende a orientações da Unesco, no sentido de se criar oportunidades de colocá-la como local de referência para pais e filhos, “aquecendo, assim, o relacionamento familiar”. Pais e alunos participam juntos de momentos lúdicos, como brincadeiras e oficinas educativas. Outra proposta da escola é promover reuniões periódicas entre os pais e a equipe docente “com o objetivo de formação”, abordando-se temas específicos para cada série.

Também são organizadas palestras abertas às famílias e à comunidade acerca de questões contemporâneas, definidas pela direção pedagógica e a coordenação. No semestre passado, o colégio realizou dois encontros, um sobre Mídias e Tecnologia, com a professora Maria da Graça Setton, da Universidade de São Paulo, e outro sobre como falar do consumo de drogas e álcool com os estudantes, tema desenvolvido pelo psicólogo Murilo Battisti, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp (Cebrid/Universidade Federal de São Paulo). O Colégio Magister vem registrando um aumento na participação dos pais em todos esses encontros, além de ter anotado bons resultados em sua estratégia de agendamento de encontros individuais. Segundo o professor Carlos Enrique, a importância educacional das escolas aumentou na medida em que as famílias passaram a ter menos tempo para lidar com as crianças. “A sua formação deveria estar mais centrada na figura da família, mas, infelizmente, a escola acaba tendo que abraçar dois papéis, o de educar e o da escolarização”, defende o professor.

ESCOLA DISTRIBUI GUIA DE ORIENTAÇÃO AOS PAIS 

A Escola Estadual Aquilino Ribeiro costuma distribuir aos pais de seus 1.600 alunos do Ensino Fundamental e Médio um guia com orientações simples de como lidar com o dia a dia da vida escolar do filho. O propósito é envolvê-los com a dinâmica da escola e deixar claro que eles devem procurar o coordenador de pais e a equipe docente em caso de dúvidas, reclamações e sugestões. Confira abaixo.

Este folheto tem algumas dicas sobre o que você pode fazer para participar mais da vida escolar do seu filho. Sabemos as dificuldades que todos nós temos que enfrentar: ser mãe, ser pai, trabalhar longe de casa, mas não podemos deixar de auxiliar nessa importante tarefa que é a de educar.

Realização
Instituto Fernand Braudel
EE Aquilino Ribeiro
2011

LEIA AS DICAS ABAIXO:

• Olhar sempre o caderno de seu filho, assim você pode saber se ele está fazendo as atividades e até mesmo se ele está indo para escola. É importante que você peça que ele sempre marque as datas das aulas.

• Sempre que possível vá até a escola, converse com a coordenação para saber o andamento do seu filho na escola.

• Peça sempre para ver as provas do seu filho. Isso ajuda você a saber quais são as datas das provas e, se possível, você pode fazer um calendário com estas datas. Procure deixar em local visível, isto ajuda seu filho a não esquecer as datas e a você pode verificar se ele está se preparando para a prova.

• Procure conhecer os amigos de seu filho na escola, isso pode ajudá-lo a saber um pouco mais sobre o comportamento dele que, muitas vez, pode ser parecido com os dos amigos.

• Converse com seu filho para saber suas opiniões, seus sonhos, isto além de aproximá-los cria um vínculo de respeito e confiança mútuo.

• Procure saber a rotina de funcionamento da escola tais como, horários de entrada, saída, intervalos, projetos em andamento/ eventos, entre outros.

• É importante saber quem é a equipe de profissionais que trabalham na escola tais como professores, coordenadores, inspetores, equipe de limpeza, da merenda, direção, coordenador de pais, porque isso o aproxima um pouco mais da vida escolar de seu filho.

• Qualquer dúvida, sugestão, reclamação, referente ao cotidiano escolar de seu filho procure a coordenadora de pais, Cidinha, para que ela possa direcionar o seu caso a pessoa certa. Cidinha está na escola:

– Segundas, quartas e sextas – Feiras: Das 7h00 ao 12h30 e das 19h00 às 21h30

– Terças e Quintas: Das 7h00 às 16h00 

Saiba mais

CARLOS ENRIQUE GARCIA
enrique@magister.com.br

COLÉGIO MAGISTER
luciene_pereira@magister.com.br

ERNESTINA CONCEIÇÃO ZANQUETA KINSUI
ernestina.educacao@santabarbara.sp.gov.br

MARIA APARECIDA ALEXANDRE CUSTODIO
custodioaparecida@ig.com.br

PATRÍCIA MOTA GUEDES
Patrí cia.mota-guedes@itau-unibanco.com.br

ROBERTA BELLINATO
be_nato@yahoo.com.br

Sair da versão mobile