Como Ensinantes do presente, somos desafiados a refletir sobre algumas palavras importantes para todos nós: Inclusão, Diversidade e Amorosidade, caminhos que estarão sempre em permanente construção, caminhos que se fazem de dentro para fora. Uma frase, atribuída a Carl Gustav Jung, nos diz que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”.
Despertar e sentipensar1 sobre Inclusão, Diversidade e Amorosidade, mais que elaborar teorias, é tecer convites para viagens interiores, rumos às mudanças de pensamentos e concepções para nutrir nossas atitudes. Inclusão e Diversidade podem parecer temas novos, mas sempre estiveram presentes nos desafios humanos de viver a Amorosidade em sua plenitude. Hoje, pode parecer novo e desafiante, mas sabemos que nos tempos passados de nossa história há todo um percurso de lutas e lidas que nos trouxeram até aqui, com seus retrocessos e avanços.
Seguimos no caminhar e situamos a humanidade num momento de encruzilhada entre guerras e paz, entre bombardeios e expectativas de compreensão e a tolerância, entre o valioso respeito e o extermínio do Humano pelo próprio humano. Amorosidade e Inclusão, Diversidade e Dignidade são ações, condutas, comportamentos e atitudes simples que são construídas de modo gradual, no cotidiano, nas relações que estabelecemos com os outros, com o mundo, conosco mesmos.
Construção importante que ocorre no respeitar a si mesmo e aos outros, ampliando percepções e compreendendo que todos nós somos verdadeiramente iguais e diferentes ao mesmo tempo, únicos em nossas singularidades, em nossas subjetividades.
Na contemporaneidade, é vital uma incansável busca por construirmos novos olhares4. Se o presente nos desafia e se percebemos o futuro permeado de inúmeras incertezas, somos exigidos a melhor viver o hoje, o agora, compreendendo que ao desenvolvermos nossas potencialidades de Amorosidade, podemos auxiliar no traçado de metas que sejam coerentes com nosso maior tesouro: saber que somos humanos.
Vivemos um tempo hiperativado e os avanços nos campos da comunicação, da informação, da tecnologia e da ciência demandam saberes outros, implicam em aprendizagens novas, para que seja possível surgir disponibilidades de acesso amplo a tais avanços, que sejam não tão somente para alguns poucos. Competências e solidariedade, aparentemente palavras desconexas, são necessárias na complexa sociedade mundial que emerge como a Aldeia Global, preconizada por McLuhan5. O que se torna inadmissível é aceitar que a competição seja sobrepujante as relações de solidariedade e cooperação que, segundo Maturana, são as razões pelas quais vingamos como biológica espécie6.
Solidariedade e cooperação, na verdade, devem ser características da Educação, que por si mesma e em sua finalidade primeira é inclusiva, pois educar é incluir todo ser humano na magia de sua própria vida, compartilhando-a com os outros e com o mundo. Educação que não se indigne com a miséria, o descaso e o abuso do poder é uma lástima, e atualmente, os maiores desafios da educação inclusiva não são tão somente os que se referem às pessoas com “deficiências”: nossos maiores desafios são a miséria, a desorganização e o profundo descaso com os seres humanos e com a vida em sua totalidade.
Nos tempos e espaços da escola habitam possibilidades de colaborarmos para a transformação social: é tarefa nossa fugir da miséria, do descaso e do abandono e atuarmos na busca de crescimento, respeito e aceitação. É tarefa nossa assumir como condição educativa a inclusão e diversidade, com a sabedoria de articular saberes das ciências e das experiências oriundas das maneiras distintas de percepções e discriminação do real, que são diferentes e singulares em cada ser humano.
Nossas mãos podem construir ou destruir, nossos braços podem estar abertos para o acolhimento ou fechados com o intuito, nem sempre consciente, de excluir. Nossa Amorosidade, para ser real, efetiva, necessita de atitudes que se transformam em ações individuais e coletivas. Não bastam apenas intenções boas, pois não se inclui de modo parcial, mas sim plenamente, com o corpo, com a mente, com o coração e com o espírito, pois ensinar é acreditar.
Sempre existem caminhos, mesmo que abertos em terrenos rochosos e pedregosos, pois com mudanças pequenas em nosso viver atitudinal é possível antever a geração de maiores transformações no nosso cotidiano hoje, buscando um novo amanhecer nas relações interpessoais, que se refletem no prisma social.
Você, cara leitora, caro leitor, que lê este artigo no aqui e no agora e caminha cotidianamente no campo da educação, é elemento construtor dessas mudanças no mundo que estamos vivendo: é preciso momentos de trocas e reflexões sobre a Educação que deixamos de herança para os que já estão e para os que vão habitar este plano terrestre no futuro. Em Richard Bach encontro um trecho que nos incita a ampliar estas reflexões: “O mundo é como é porque nós queremos que ele seja assim. Só quando nossa vontade muda, é que o mundo muda. Seja o que for que pedirmos, nós conseguimos. É só olhar em volta.”
Cabe-nos perceber melhores condições para intercâmbios e interações entre ensinantes e aprendentes inseridos no mundo e a proposição da Pedagogia da Amorosidade9 requer conhecimento, habilidade, atitude. Requer a tomada de consciência que aprendemos ao longo da vida, em nossas interações com o Saber, a Religião, a Informação, a Cultura, a Experiência, a Escola, a Família, o Ambiente e com as diferentes Mídias presentes na contemporaneidade.10
Aprender é pensar, autorizar, reconhecer, desejar, intervir. O desafio é nos dedicarmos à construção do desenvolvimento integral do humano nos diferentes espaços do aprenderensinar, atentos no exercício de todos nós – que somos, ao mesmo tempo, aprendentes e ensinantes -, da autoria de pensamento em prol de uma Ética do Cuidado que se ocupe das relações presentes no triângulo da Vida: indivíduo, sociedade, natureza, como proposto por Ubiratan D’Ambrósio.
Nestas relações, a Diversidade vai se tecendo na Teia da Vida, com muitos fios, favorecedores de plurais movimentos conscienciais vitais para uma Pedagogia da Amorosidade que se proponha ir de encontro às possíveis respostas frente aos diferentes dilemas das crises presentes na sociedade atual. Para suprimir a tripla agressão do ser humano a si mesmo, aos demais e a natureza, urge uma tripla conscientização em busca de harmonia do humano consigo mesmo, com os demais e com a natureza.
A Pedagogia da Amorosidade envolve processos de Educação Afetiva, de Educação Social e de Educação Ambiental, numa convivência reguladora dos conflitos que faça uso da não–violência e seja permeada por uma Cultura de Paz. Valores humanos como Paz, Verdade, Ação Correta e Não-violência desdobram-se em processos de solidariedade e compreensão, em movimentos de cooperação e de silêncios interiores. Desdobram-se, ainda, no espírito permanente de pesquisa e da perene busca pelo autoconhecimento, numa escuta sensível que nos oferte a possibilidade de adquirirmos a imprescindível coerência interna.
Para tanto, em processos de formação inicial e continuada de educadores, faz-se necessário a presença de estratégias integradoras e inclusivas, onde a força e suavidade da diversidade se apresentem como construção cotidiana da Amorosidade12. Entretanto, é vital viabilizar cenários educativos inter e transdisciplinares humanistas, pois “(…) antes de qualquer técnica de trabalho, antes de qualquer metodologia em qualquer campo do encontro entre pessoas, o que de fato conta é o clima que se cria no momento e no lugar em qualquer encontro entre pessoas e entre grupos de pessoas acontece.”
Neste mover-se, construir a Pedagogia da Amorosidade é possível num cotidiano formativo onde alguns primeiros sejam dados no trabalho com as seguintes temáticas: Identidade, Autoestima, Autoconfiança e Autoconhecimento. Com isso nos será possível disparar processos de conscientização a respeito de cinco habilidades essenciais ao fazer educativo: habilidades de comunicação, habilidades cognitivas, habilidades sociais, habilidades de mediação e, principalmente, habilidades afetivas. Destaco as habilidades afetivas, pois de acordo com minhas compreensões, sem elas, nada se move, pois com a afetividade podemos seguir construindo e reconstruindo a cultura, cuidando de nossas orgânicas dimensões, de nossa espiritualidade, de nossas intuições. Com a afetividade, podemos continuar a ter fé em nossas atividades:
“A fé em nossas atividades
Vida e idades
Só faz sentido na busca da afetividade.
Amorosidade, encontros,
Símbolos, pessoas, amigos, luzes: solidariedade.
Destino de juntos
Caminhar no ensinar e no aprender
A ser e a viver
Na dinâmica da complexidade da vida
Vivida e revivida em todos nós.
Sincronismo, destinos, laços, caminhos, vínculos….
Somos ensinantes e aprendentes
Num presente de viver
No dia a dia de cada escola e sala de aula,
Convivências de corpo à alma
E assim,
Revelar, desvelar
Experienciar
A vivência subjetiva e concreta
Onde no diálogo façamos nossos exercícios de generosidade,
De humildade
Que fertiliza o terreno de nossas tantas perguntas e incertezas…
Nas forças de cada uma de nossas histórias,
Elementos de emoção podem nos dar novas coragens
Para atuar provocando mudanças
Mas respeitando o tempo e o espaço de cada um…
Sua idade, seus limites, sua velocidade.
Com o afeto o encontro é singeleza, troca e delicadeza,
Tempo de espera, paciência.
Elegância do saber esperar.
Com o afeto, o sentido de ser mais e melhor,
Pois, com cada humano que encontramos,
Há a possibilidade de construir a paz,
Novas idéias, novos sonhos,
Outros dias, mais amor“.
Assim, sigo acreditando nas palavras, na poesia nossa de cada dia. No tecer de nossas palavras é viável o encontro do humano com o Humano. Todos nós somos capazes de falar, dizer, conversar com as nossas palavras. Somos capazes de ouvir as palavras dos outros e, com isso, estabelecer contatos, dialogar e sentipensar. Dialogar, sentipensar são ações nutridoras que geram novas palavras, novos sentipensamentos, novas ações integradoras, de mais Amorosidade. A palavra é o encontro do humano com o Humano, é nossa possibilidade de novos caminhos de humanização, onde a Pedagogia da Amorosidade seja sinônimo sadio de Inclusão e Diversidade no Encontro do humano com o Humano.
Por João Beauclair
João Beauclair é Doutorando em Educação (Currículo) pela PUCSP e Doutorando em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo, Ourense, Galícia, Espanha. Pesquisador do GEPI Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares (PUC-SP) e do NEPPED Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial (UFAM – Universidade Federal do Amazonas). Docente de Pós-Graduação, Assessor Educacional, Palestrante e Conferencista Internacional sobre temas motivacionais, organizacionais, educacionais e psicopedagógicos. Autor, entre outros, de Me vejo no que vejo: o olhar na práxis educativa psicopedagógica. (Exclusiva Publicações, São Paulo, 2008). Site pessoal:
http://www.profjoaobeauclair.net
E-mail: joaobeauclair@yahoo.com.br