Matéria publicada na edição 58 | Maio 2010 – ver na edição online
Nascida sob o signo da modernidade, escola ousa novamente.
Lastreado em uma tradição centenária, o Elvira Brandão mantém viva a aposta na inovação, profissionalização e em grandes investimentos para dar um novo salto em sua história.
Por Rosali Figueiredo.
No final da manhã de uma segunda-feira do mês de abril, o mantenedor Fernando Caiuby acabara de dar posse à Maria Izilda de Godoy como nova diretora administrativa do Colégio Elvira Brandão, quando recebeu a Revista Direcional Escolas para relatar um pouco da história e do modelo de gestão da instituição. O foco era o processo de reforma e ampliação da escola, uma das mais tradicionais de São Paulo, com 106 anos de vida. No momento em que a rede privada de ensino busca a sua consolidação em um cenário de oferta ainda superior à demanda, por meio da revisão da estrutura de custos, de fusões e de novas estratégias de negócios (leia mais na reportagem de Gestão, na página…), o Elvira Brandão resolveu ousar, mais uma vez. Com um investimento de R$ 2,5 milhões, parte bancada com recursos próprios, outra financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), está reformando e ampliando a sua estrutura física, que passará dos atuais 800 metros quadrados para cerca de 5 mil nos próximos 3 anos, na Chácara Santo Antônio, zona Sul da cidade.
Além da reforma, entretanto, a posse da nova diretoria administrativa, assumindo o lugar do próprio Fernando Caiuby, mostrou-se reveladora daquele que parece ser mesmo o fio condutor de uma história chamada Elvira Brandão. Fio esse que explica não apenas os investimentos, mas uma série de decisões tomadas nos últimos anos, as quais foram capazes de reerguer uma escola que atingira 1400 alunos em 1987, viu-os minguar a 390 em 2002, e recompôs os quadros para 750 em 2010, a um crescimento anual médio de 10% desde 2004. “Ousadia e inovação são duas características que permeiam toda a nossa trajetória”, comenta Fernando. Em outras palavras, as mudanças não param e envolvem desde a estrutura física à forma de administrar a escola.
Atualmente mantenedor e membro do conselho consultivo, Fernando Caiuby é bisneto da fundadora e educadora Elvira Brandão, conduzindo o colégio juntamente com sua prima, a diretora pedagógica Camila Rocha. Ambos encabeçam uma estrutura com 120 funcionários, dos quais 70 professores. Na parte administrativa, setores organizados de contas a pagar, receber, recursos humanos, reprografia, secretaria, tecnologia da informação, almoxarifado, manutenção, limpeza, recepção, segurança e portaria garantem o funcionamento da escola. Na outra ponta, pedagógica, 3 coordenadores, docentes, professores tutores, bibliotecário, além de profissionais para os laboratórios de ciências e informática procuram dar permanência a uma imagem que posiciona o Elvira como escola laica de tradição e qualidade, avalizadas por ex-alunos como Antonio Ermírio de Moraes e Dorina Nowill, entre outros. “No século passado, o colégio era a grande alternativa para quem não queria escolas religiosas ou de colônias, e acabou atraindo filhos de imigrantes batalhadores, que traziam de casa o exemplo do esforço. Entramos com a formação escolar, aí eles foram para frente”, analisa.
Enxutos, mas “vivos e saudáveis”
Em seus 106 anos, muitos foram os marcos das mudanças e inovações da escola. Instalada no final do século XIX em um porão no centro da cidade como cursinho preparatório para a Escola Normal do Caetano de Campos, ela, nos anos 20, migrou para a região dos Jardins, inicialmente na esquina da Alameda Santos com a Rua Augusta. Em 1932 foi para a primeira sede própria, na Alameda Jaú, como escola mista que oferecia primário e ginásio. Em1973 mudou-se para o endereço atual, lugar em que registrou uma expansão extraordinária proporcionada pelo boom do Plano Cruzado, entre 1986 e 1987, mas onde também conheceu um enxugamento drástico, iniciado em 1989 e vivido até por volta de 2003. Além do aumento da concorrência, com a grande abertura de vagas pelo setor, o Colégio Elvira Brandão foi atingido também por uma mudança do perfil do bairro, em que as residências cederam lugar às atividades comerciais e industriais. Muitos moradores do entorno foram embora, levando consigo os estudantes.
“Neste momento fizemos o primeiro grande barulho de nossa história recente, adquirindo outra escola do bairro, de Educação Infantil e Ensino Fundamental I. De seus 60 alunos, ficamos com 30, mas encampar outra escola é uma maneira eficiente de aumentar o número de alunos e aí reverter para a cura”, diz Fernando. Médico com experiência em clínica até 1987, o mantenedor assumiu a gestão do colégio justamente no início da crise, em 1989. “O grande segredo de uma escola é que ela apresenta um custo fixo muito alto, que não altera muito se você ampliar o número de alunos.” Ou seja, os novos estudantes ajudaram a diluir o custo, ao mesmo tempo em que trouxeram outras famílias para a área de influência do colégio. “É a teoria do test drive; pudemos mostrar que oferecemos uma escola melhor por um preço compatível”, observa. Suas mensalidades variam entre R$ 650,00 e R$ 1.380,00. Por outro lado, acrescenta, “passamos a mensagem de que estávamos vivos e saudáveis, mostrando toda a nossa capacidade”.
Não foram momentos fáceis. O mantenedor relata que chegou a ficar 2 anos sem remuneração, em uma “gestão muito espartana”. Paralelamente, entretanto, trabalhou no enxugamento das estruturas e processos, bem como na profissionalização da administração. Fernando lembra que havia um profissional exclusivamente contratado para organizar estudos do meio, função que resolveu terceirizar. A atual liquidez do colégio, por exemplo, foi obtida por meio de “um rigoroso controle de custos, com gastos muito bem justificados, pela profissionalização e pela criatividade, que permite achar soluções baratas sem prejuízo da qualidade”.
Em termos de profissionalização, a escola instituiu um bônus salarial a todos os seus funcionários, que varia conforme o cumprimento de metas coletivas e individuais. Chamado de “avaliação 3600” e implantado sob a consultoria de uma empresa especializada em gestão de recursos humanos, o método avalia o desempenho do profissional a partir de indicadores coletados junto aos superiores, subordinados, colegas, alunos e ou familiares. Fernando Caiuby diz cercar-se sempre de bons colaboradores, desenvolvendo um estilo de gestão “quase participativo”. “Tenho muita facilidade para delegar, não faço coisa nenhuma, repasso, terceirizo ou contrato.” Segundo ele, o tempo médio de casa de seus professores é de 12 anos, “com baixa rotatividade”.
“A visão de fora areja muito”
Outro grande passo ousado do colégio na última década foi a criação do conselho consultivo, um colegiado que envolve três consultores remunerados das áreas de psicopedagogia, gestão e RH, e atuam junto aos mantenedores, auxiliando-os na definição das estratégias e tomadas de decisão. “A visão de fora areja muito”, observa o ex-médico, hoje com MBA em administração. Segundo ele, a implantação do conselho, em 2005, “ajudou na virada”. Confiante na continuidade do crescimento, os mantenedores resolveram então apostar na repaginação de toda a estrutura física da escola, de olho naquilo que vem de fora: uma nova mudança do perfil do bairro, que nos próximos 2 anos deverá receber mil novas unidades habitacionais de classe média alta em um raio de apenas 2 quilometros de sua sede, trazendo de volta uma demanda que se perdera há uma década.
Nessa perspectiva, os investimentos em infraestrutura preveem, entre outros, a construção de estacionamento rotativo no subsolo e de auditório. Paralelamente, entretanto, a escola busca subsídios para orientá-la nos passos futuros em termos de posicionamento e proposta pedagógica. O Elvira Brandão acaba de participar de uma pesquisa em conjunto com dez outras instituições tradicionais, no sentido de observar os caminhos trilhados por seus ex-alunos na formação superior, na empregabilidade e na faixa salarial. “Fomos bem avaliados em todos os quesitos pesquisados, queremos saber onde estamos acertando para melhorar ainda mais esse desempenho.” A ideia é que, sob casa nova, o centenário colégio conheça melhor os passos trilhados por seus egressos, sempre de olho nas tendências e nas necessidades da sociedade. Postura essa presente desde o final do século XIX, quando a bisavó Elvira Brandão percebeu que havia demanda por um curso preparatório para a Escola Normal e deu início a uma história que desconhece acomodações.