Você, educador, já percebeu — no seu dia a dia — uma dor sutil, mas profunda, em muitos jovens que dizem não conseguir viver sendo eles mesmos? Jovens que demonstram um mal-estar existencial intenso, mas não conseguem nomear ou expressar o que sentem?
Ao longo da minha trajetória, dedicada ao estudo das emoções, das competências socioemocionais e da integração entre corpo, mente e emoção, venho ouvindo com atenção os relatos de alunos e professores. E uma das questões mais presentes é justamente essa: a dificuldade dos jovens em lidar com suas emoções, especialmente quando elas não se encaixam nas expectativas familiares, escolares ou sociais.
São jovens que aprendem, ainda muito cedo, a silenciar a raiva, a tristeza, a vergonha e a ansiedade para não “incomodar” os adultos — para não expor ainda mais as fragilidades emocionais que já existem ao seu redor. Em muitos casos, chegam ao ponto de não saber mais o que desejam, o que sentem ou quem são, porque foram educados a se moldar ao que os outros esperam deles.
Como educadores, temos um olhar privilegiado sobre o universo juvenil e percebemos, com clareza, o quanto esse tema é urgente e necessário.
Ouvimos com frequência frases como:
“Não posso decepcionar”; “Não sei quem eu sou de verdade”; “Eles não me entendem”; “Vou fazer essa faculdade por causa do meu pai”.
Esses jovens relatam que vivem papéis já definidos, moldados por expectativas externas. Sentem medo de expressar a própria voz. Sentem falta da própria verdade.
Querem ser ouvidos — mesmo quando estão em silêncio.
Querem poder ser frágeis, confusos, diferentes — e, ainda assim, serem amados, vistos e respeitados.
O psicanalista Donald Winnicott já falava sobre o falso self — uma máscara criada para sobreviver em um ambiente que não acolhe. Quantos jovens estão, hoje, construindo esse falso eu apenas para serem aceitos? E a que custo?
O que está faltando?
Falta legitimar o que eles sentem — sem minimizar, desqualificar, julgar ou corrigir antes de compreender.
Muitas vezes, dizemos que ouvimos os jovens…, mas só escutamos quando suas dores não nos incomodam, quando o que dizem não confronta a nossa visão de mundo.
Quando demonstram medo, raiva ou tristeza, ainda falamos frases como:
“Não é nada”; “Logo passa”; “Você precisa ser forte”; “Engole o choro”; “Você já está grande para isso”.
Desta forma, acabamos negando emoções primárias, que são essenciais para a formação da identidade e da autoestima.
Quando essas emoções são ignoradas ou invalidadas, deixamos os jovens sem ferramentas para se reconhecerem, se afirmarem e se posicionarem no mundo — assumindo o próprio protagonismo e a própria unicidade.
Dizemos que queremos que sejam autênticos, mas — muitas vezes — apenas dentro de um molde que criamos. Queremos que sejam eles mesmos… do nosso jeito.
Três pilares essenciais para o desenvolvimento emocional
Na base do crescimento emocional saudável estão três elementos fundamentais: A construção da autoestima; O desenvolvimento da identidade; e a expressão da autenticidade.
Esses pilares sustentam o bem-estar socioemocional e a maturidade emocional. Quando negligenciados, o jovem se torna um adulto inseguro, desconectado de si mesmo, da sua originalidade e da sua verdade — e mais vulnerável a modelos externos de comportamento e sucesso.
Reconhecer a importância desses pilares nos permite compreender melhor os desafios dos jovens e oferecer ferramentas reais para que enfrentem a vida com confiança — sem precisar abrir mão da própria essência.
A função do adulto — seja pai, mãe, educador ou familiar — é oferecer suporte, encorajamento e um espaço seguro de expressão.
Um caminho que também é nosso
É fundamental lembrar: o caminho da originalidade não é só para os jovens. É também o nosso caminho, como adultos.
Uma jornada de volta àquilo que somos de verdade — à nossa essência mais autêntica e a uma vida mais feliz — por nós e pelas futuras gerações.
Quando nos autorizamos a reencontrar a nós mesmos, também criamos permissão para que as novas gerações possam florescer. Com coragem, verdade e liberdade de ser.