Matéria publicada na edição 113 | Novembro 2015- ver na edição online
“Compreender a educação como um mecanismo complexo, denso e repleto de métodos e ferramentas, é uma forma de alcançar resultados positivos – tanto na gestão como no universo peculiar inserido nas salas de aula. Produzir novas formas de vivência escolar transcende qualquer modelo em desuso, reformulando ideais, sonhos e inquietações positivas no extenso processo de formação do cidadão” – Francisco Antonio Serralvo, Diretor Executivo da Escola Germinare
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
Planejar programas didáticos convidativos. Elaborar avaliações que, de fato, contribuam para o desenvolvimento do aluno e consiga diagnosticar suas ausências e limitações. Compreender o campo pedagógico como uma unidade heterogênea capaz de acompanhar (e acolher) as diversidades existentes e distribuídas em salas de aula. Estabelecer metas, caminhos, ideias, objetivos e assim, com todos unidos por uma única causa, enfrentar os diversos obstáculos que a rotina estudantil pode proporcionar.
Ao observar a estrutura física de uma escola – criada especificamente para este fim ou adaptada para receber alunos de faixa etária distintas, pouco sabemos sobre o emaranhado de tarefas, obrigações, compromissos e ações que ultrapassam barreiras do nosso campo de visão e acomoda-se em um patamar superior, fomentando toda a complexa engrenagem do conhecimento.
O avanço educacional e a pluralidade pedagógica que começa a surgir em meios específicos e em anseios coletivos, reforçam um discurso presente na contemporaneidade: a busca pela diferença e os caminhos para a formação dos cidadãos. Antigamente, havia um modelo escolar pré-estabelecido, que revestia toda e qualquer necessidade do aluno em sala de aula, bem como em seus momentos de descontração, em suas brincadeiras e também na socialização com os demais alunos.
As transformações na sociedade e o surgimento de novas fontes de conteúdo, de diversas ferramentas de conhecimento, a democratização do aparato tecnológico e a entrada de uma nova geração de alunos nas escolas, dissolveu, aos poucos, os formatos e as relações entre aluno-professor; professor-aluno; aluno-gestor; professor-gestor.
As transformações embarcaram nas instituições de ensino em todos os campos, tanto na área pedagógica como na gestão do ensino, fazendo com que cada escola olhasse para sua identidade singular e compreendesse as reais necessidades de seus novos alunos em formação, redefinindo o repertório de líderes educacionais, seu papel frente à administração, seu relacionamento e convivência com os professores e os caminhos escolhidos diante de problematizações. Todos os caminhos, de certa forma, culminam na gestão, intercalando propostas que ajustem todos os núcleos de uma comunidade escolar.
Com tantas alterações no ciclo escolar e mudanças sociais, culturais e digitais, como prever uma excelência na gestão educacional? E, além disso, como instigar e envolver o aluno a participar cada vez mais do aprendizado diário?
Oneida Toniol Fioriti, com uma ampla trajetória escolar de 47 anos e diretora da Escola Estadual Ministro Costa Manso, situada no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, acredita que o fator humano move a escola, bem como a integração, o acolhimento e o cuidado com o aluno e “o desafio diário de planejar ações que surtam efeito, modelando, de certa forma, as necessidades dos nossos cidadãos em formação”.
A Escola Costa Manso é destinada aos alunos do Ensino Médio e especializada em ensino integral. Nela, o aluno ingressa às 7h, permanece até 16h20 e recebe cinco refeições ao longo do dia. Seu objetivo é formar um jovem protagonista, autônomo, solidário e competente. A base desse modelo é ser um núcleo formador de jovens priorizando a formação acadêmica, formação ética, desenvolvimento da autonomia, do pensamento crítico e seu aprimoramento como pessoa humana.
Para esse objetivo ser alcançado, a escola conta com um projeto intitulado “Projeto de Vida”, que guia todas as ações desenvolvidas no decorrer dos três anos do Ensino Médio. “O Projeto de Vida foi instaurado ano passado no colégio. A partir dele, o aluno descreve o que ele planeja para o seu futuro, seus ideais, seus sonhos, suas dificuldades e também seus interesses. Criamos, então, um sentido maior para a escola e o aluno sente toda a preocupação que os professores-tutores têm em relação ao seu desenvolvimento”, diz Oneida.
Assim que o aluno ingressa no 1º ano do Ensino Médio, conta Oneida, mostramos todo o nosso cronograma pedagógico, nossos princípios e a forma como trabalhamos o ensino integral. Através do “Projeto de Vida” – onde os alunos descobrem seus interesses, como atingir seus objetivos, suas habilidades, competências e o motivo pelo qual os estudos e os pilares da educação são relevantes para sua formação, “mencionamos a parte diversificada do currículo pedagógico. Trabalhamos, aqui, com um projeto de 10 eletivas em várias áreas do conhecimento e, de acordo com os anseios descritos no Projeto de Vida dos alunos, direcionamos, a cada semestre, para uma eletiva. Essas aulas diversificadas ocorrem todas as terças-feiras em duas aulas de 50 minutos e complementam de forma lúdica e descontraída o currículo pedagógico comum”, ressalta a diretora.
O protagonismo juvenil, tido como premissa do Costa Manso, declara um modo de gestão ímpar, diminuindo, assim, as faltas, as saídas durante o período, além de fortalecer o estímulo de conhecimento dos alunos e a procura por uma excelência na formação educacional e pessoal de cada indivíduo. “Nossa escola está localizada na região oeste da cidade de São Paulo e tenho alunos aqui que moram em bairros extremos, distantes, mas que encontraram aqui um meio de evolução e transformação pessoal”, afirma Oneida.
Ser autor do seu destino é valorizar a educação pela oferta de um ensino de qualidade, através da pedagogia da presença, da educação interdimensional e da corresponsabilidade.
INCLUSÃO SOCIAL
Atuando como diretora há 26 anos do Colégio Bom Retiro, Claudia Farkas enfrentava muitas dificuldades com relação às crianças que apresentavam algum tipo de dificuldade de aprendizagem, seja no processo de leitura, escrita, cálculo e até em relacionamento social, principalmente quando se tratava de deficiência intelectual. Além desses, outros sinalizavam e apontavam a necessidade de ir em busca de novos conhecimentos para melhorar a dinâmica e prática educativa. “Como educadora, acredito que uma das funções sociais que a escola tem para com o exercício da Educação é, sem dúvida, promover a Inclusão Social”, destaca Claudia.
A inclusão social das pessoas portadoras de deficiência intelectual e outras se constitui uma questão pertinente. Esta inclusão se promove pela criação das condições que favoreçam ao máximo a autonomia dessas pessoas na comunidade. Sua importância consiste tanto no que se refere a formação dessas pessoas, através da apropriação do saber, quanto na criação de um espaço real de ação e interação que favoreça o fortalecimento e o enriquecimento da identidade sociocultural.
“Outro aspecto a ser considerado é o papel do professor, pois é difícil repensar sobre o que estamos habituados a fazer, além do mais a escola está estruturada para trabalhar com a homogeneidade e nunca com a diversidade”, afirma a diretora.
O intuito do colégio é focar as deficiências dos sistemas educacionais no desenvolvimento pleno da pessoa, onde se fala em fracasso escolar, no déficit de atenção na hiperatividade e nas deficiências onde o problema fica centrado na “incompetência do aluno”.
Assim, após inúmeras reuniões pedagógicas e trabalhos realizados com os professores e coordenadores, o processo de inclusão do aluno acontece de forma fluída e harmoniosa, tendo, acima de tudo, o respeito como guia do convívio no colégio, mostrando que todos os alunos têm capacidade de desenvolver seu aprendizado.
PLANO DE AÇÃO
“Quando recebemos alunos com algum grau de deficiência, primeiro conhecemos sua trajetória escolar através de conversas com seus responsáveis. Caso já possua algum laudo médico, solicitamos uma cópia para estudar o caso da criança. Depois, em reuniões pedagógicas, passamos a todo o corpo docente, pois é importante que todos tenham conhecimento para discutirmos o assunto e procurar a melhor forma de uma interação com esse aluno. E quando o aluno já possui algum acompanhamento psicológico, neurológico, e outros, caso seja necessário, entramos em contato com esses profissionais que nos auxiliam a entender melhor o aluno”, ressalta Claudia.
Para que haja sucesso no desempenho escolar do aluno é muito importante a parceria com a família. “Enfrentamos casos em que é necessário conversar com os responsáveis para realizar o encaminhamento dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem”.
É muito comum, conta Claudia, recebermos crianças que já passaram por diversas instituições de ensino, que apresentam algum tipo de déficit, mas que nunca se apresentaram a um especialista, para que possa auxiliar na orientação dos professores e familiares, e compreender a própria criança. Com isso, o desgaste faz com que a família e a criança se tornem vítimas traumatizadas de tantas reclamações e suspensões. Os hiperativos, principalmente, com necessidades de gastar tanta energia, porém mal compreendidos, muitas vezes, forçados a migrar para outra instituição.
“Assim, é primordial que sejam revistos os papéis desempenhados pelos diretores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, e acreditem na orientação para os professores e para toda a comunidade escolar”, conclui.
JOVENS GESTORES
O Instituto Germinare inaugurou, em fevereiro de 2010, a Escola Germinare, aprovada pelo MEC (Ministério da Educação) e reconhecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), com a missão de formar líderes e gestores em negócios preparados de maneira efetiva, com uma educação de alta qualidade, conectada com a realidade empresarial, voltada para o desenvolvimento de habilidades de liderança, orientação para resultados, capacidade de inovação, visão sistêmica e conduta ética.
O Programa Jovem Gestor, projeto pedagógico de grande influência e destaque da instituição, foi implantado em 2013 e possui em sua estruturação três estágios no decorrer dos sete anos que o jovem estuda na escola. De acordo com o Diretor Executivo, Francisco Antonio Serralvo, no primeiro estágio, a Germinare desenvolve o Perfil do Gestor ao longo do 6º e 7º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio, envolvendo três grupos de habilidades fundamentais, são elas: habilidades mentais superiores, habilidades sociais e habilidades humanas.
O segundo estágio da formação do Jovem Gestor acontece no 8º ano do Ensino Fundamental II e serão desenvolvidos os conteúdos relacionados ao Processo Decisório, que envolve a Tomada de Decisão e Solução de Problemas.
O terceiro estágio da Formação do Jovem Gestor envolve o 9º ano do Ensino Fundamental II e 1ª à 3ª série do Ensino Médio. Nesse estágio do aprendizado, os alunos trabalham com a empresa como um processo com início, meio e fim, no qual os insumos (entrada do processo) constituem-se nos recursos essenciais da organização (a saber: financeiros, humanos, materiais, tecnológicos e de informações). No contexto do processo, os insumos são transformados em produtos. Os principais meios de transformação de insumo em produtos na organização estão fundamentados nas atividades de contabilidade, estratégia e marketing. Nesse sentido, os conteúdos centrais do processo organizacional são estudados sob o modelo da formação das competências gerenciais.
O grande diferencial desse programa é o foco em administração de empresas. “Além das disciplinas regulares, os alunos têm aulas de gestão em negócios, como Marketing, Matemática Financeira, Gestão Estratégica, Finanças, Direito Empresarial, dentre outras, que são ministradas por professores universitários. Para transmitir estes conhecimentos sobre liderança, administração de empresas, visão sistêmica e inovação, a Escola oferece ampla preparação com conteúdos dirigidos ao desenvolvimento de habilidades profissionais e competências voltadas à gestão de negócios”, diz Francisco.
Além do ensino gratuito, o aluno recebe 3 refeições diárias, uniforme e todo o material didático. O processo de seleção inclui provas de matemática e português, produção textual e entrevista. “A porta de entrada na Germinare é obrigatoriamente o 6º ano do Ensino Fundamental. Pois, é essencial, que o aluno ao ingressar na Germinare passe por todas as etapas do Programa Jovem Gestor para garantir o seu desenvolvimento pleno e completo no decorrer dos sete anos que estudar na escola”, finaliza.