Nas últimas décadas, vimos o crescimento acelerado da educação bilíngue de línguas de prestígio, ou seja, aquela que oferece instrução na língua nacional e em outra de prestígio internacional, nesse caso, a língua inglesa.
Por causa disso, a demanda por escolas bilíngues português-inglês impulsionou também a criação de diferentes modelos de escolas deste segmento, cada qual com diferentes concepções e características.
Nesse cenário, a ausência de orientações nacionais motivou o Conselho Nacional de Educação a formular as Diretrizes Curriculares Nacionais para a oferta de Educação Plurilíngue, aprovadas em julho de 2020, mas que ainda aguardam homologação do Ministério da Educação.
As novas Diretrizes indicam alguns referenciais que devem ser observados, principalmente quanto à licenciatura, proficiência linguística e formação complementar dos professores que atuam na área.
Quando consideramos os desafios de formar jovens para um futuro cada vez mais diverso e multilíngue, não podemos deixar de compreender também as necessidades formativas dos professores que atuam nesse contexto. Quais concepções de língua e linguagem embasam sua prática? Como o currículo bilíngue pode ser organizado visando a ampliação do repertório bi/multilíngue dos alunos? Como criar engajamento e desenvolver mobilidade em diferentes contextos?
Compreender a integração bilíngue pressupõe uma mudança de paradigma. Significa conceber língua e linguagem de modo mais dinâmico e interconectado, em que os sujeitos bi/multilíngues estão constantemente ampliando seu repertório por meio de experiências diversificadas vivenciadas em suas duas – ou mais – línguas. Por esse motivo, compreender os processos de aprendizagem e desenvolvimento de alunos bilíngues é responsabilidade de todos os professores das escolas bilíngues, não apenas daqueles que atuam em língua adicional.
Por isso, é importante incluir os docentes em processos formativos, além de alocar horários de planejamento colaborativo semanais entre os que atuam nas diferentes línguas da escola. Essa formação, voltada a um processo colaborativo, deve contemplar não apenas a divisão de tarefas, mas a criação de experiências de aprendizagem diversificadas para a mobilização do repertório linguístico dos alunos de modo integrado.
O diálogo entre professores sobre como trabalhar o currículo, de modo que uma língua amplie e aprofunde a outra, é fundamental nas escolas bilíngues. Também, é essencial que os professores reflitam juntos sobre os resultados de aprendizagem, os percursos e desafios de cada aluno.
Na Rede de Escolas em que atuo, a colaboração e a formação contínua de professores são dois pilares essenciais. As perspectivas pedagógicas e linguísticas que fundamentam a prática em sala de aula são constantemente discutidas e ampliadas, a partir de diferentes atividades e eventos formativos.
Dentro e fora da escola, o planejamento colaborativo e a integração entre os professores que atuam nas diferentes línguas da escola favorecem a expansão das vivências bilíngues e a constituição da mobilidade dos alunos em diferentes contextos.
Uma equipe pedagógica engajada e inovadora requer um processo formativo igualmente engajado e aberto a novas perspectivas. Por isso, as escolas bilíngues precisam ir além e devem abrir espaços para a discussão crítica sobre a formação integrada de seus professores bi/multilíngues.
Susan Clemesha é bacharel em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo e mestre em Linguística Aplicada pela PUC-SP. Diretora acadêmica da rede Sphere International School, atua na área de formação de professores e desenvolvimento de currículo para escolas bilíngues (português e inglês) e internacionais. Professora de pós-graduação em Educação Bilíngue, integra o grupo de pesquisa LACE (Linguagem em Atividade no Contexto Escolar) e GEEB (Grupo de Estudos em Educação Bilíngue), vinculados à PUC-SP.