Como todos os projetos de arquitetura, quando se estuda e, principalmente, quando se enxerga o público para o qual ele está sendo projetado, os benefícios são imensuráveis.
Nos ambientes da educação não seria diferente.
Além de pontos bastante discutidos em outros textos, que mostram como a arquitetura bem aplicada ajuda no aprendizado, entre eles layout bem pensado, circulação generosa, aplicação correta das cores, mobiliário adequado, integração com interior e exterior; há um aspecto muito importante a ser considerado quando se fala em arquitetura escolar: o ponto de vista dos estudantes, pequenos ou grandes! Nada mais assertivo do que mergulhar nesse ambiente para olhar o mundo como os pequenos.
Que tal posicionar o olhar na altura das crianças? O que elas estão vendo?
Na idade dos bem pequenos, que ainda ficam muito deitados, como em trocadores ou berços, gostamos de trabalhar tetos e forros – sem esquecer da função de cada ambiente. Em fraldários, itens que acolhem e divertem, como luzes, fitas coloridas, pinturas; e em locais de soninho, formas e cores que acalmam. Em salas de estimulação, espelhos e formas grandes e coloridas fazem a sua função. Nos maiorzinhos, que vão enxergar da metade da parede pra baixo, gostamos de trabalhar painéis sensoriais próximos ao piso, cores e desenhos, e muitas vezes caminhos e cores no próprio piso.
Já os adolescentes, bem mais altos, os focos de visão estão na altura dos olhos dos adultos.
Importante lembrar que as crianças gostam de explorar, de descobrir. Já vimos como é importante o posicionamento do olhar, mas precisamos também pensar em quais são os interesses das crianças.
Se a sua natureza está para a descoberta, precisamos providenciar ambientes que sejam diferenciados, “exploráveis” e nada monótonos. Por isso, nos nossos projetos, valorizamos demais a utilização de formas e cores, texturas e mobiliários criados caso a caso, tudo sempre alinhado a metodologia e características da escola. Gostamos também de salas que podem ser remanejadas com facilidade, para que diferentes momentos possam acontecer em um mesmo espaço. Nesse tipo de sala é muito prático usar adesivos nas paredes, que podem facilmente ser trocados, e móveis soltos, que podem ser trocados de lugar para criar diferentes ambientações.
Trabalhar diferentes materiais, como pisos, revestimentos, cores e texturas, ajudam nesse dinamismo. Durante esse processo de exploração, as crianças não estão preocupadas em não se sujar e algumas coisas podem se quebrar, então sempre propomos itens que, além de seguros, sejam resistentes, para que a manutenção não seja um empecilho para a criatividade. Espaços que proporcionem a livre movimentação e brincadeiras divertidas.
Sempre que podemos, gostamos de conversar com as crianças sobre os espaços, o que elas gostariam que fosse feito ali. E traduzir essas vontades nos espaços é encantador. Ver através dos olhos de quem vai usar o espaço é um ótimo começo para um projeto transformador.
Claudia Porto
Sócia da Adell e Porto Arquitetura, escritório com quase 20 anos de experiência na área de arquitetura escolar.