(Primeira parte do artigo)
Um dos maiores entraves para as mudanças e a assimilação de inovações são os hábitos adquiridos ao longo da nossa vida.
Hábito é a capacidade que temos de automatizar comportamentos corriqueiros, como escovar os dentes, atender a um telefone e realizar trajetos frequentes, para economizar energia e possibilitar que o cérebro concentre-se em situações novas, complexas e mais importantes.
O cérebro tem uma predisposição natural em criar hábitos para economizar energia. Quase metade das ações que executamos diariamente não são produtos de decisões deliberadas, mas sim de hábitos.
Enquanto a maioria dos estímulos que passam pelos órgãos sensoriais faz um longo caminho pelo cérebro límbico e o córtex, alguns criam atalhos até os gânglios basais, que são responsáveis por diversas funções como: coordenação motora, emoções, cognição e os comportamentos de rotina (hábitos).
Os hábitos formam-se através de um circuito de três fases: eles são desencadeados por uma sugestão que funciona como gatilho, ações que já fizemos muitas vezes, disparando a rotina gravada nos gânglios basais.
Quando o hábito toma o controle, o corpo segue a rotina habitual no automático até encontrar a porta de saída e a recompensa, que costuma ser uma boa descarga de dopamina, hormônio associado à saciedade e motivação.
Charles Duhigg, em seu best-seller “O Poder do Hábito”, denomina este ciclo de loop do hábito.
Exemplo – A coordenadora Jenifer muitas vezes chega ao final de um dia de trabalho com a sensação de missão não cumprida. Quer ser mais produtiva e, principalmente, assistir às aulas dos seus professores, mas se perde em meio aos trabalhos burocráticos e problemas do cotidiano.
Hábito – Interrompe seu trabalho o tempo todo vendo e-mails e entrando nas redes sociais. Busca sempre atividades que possa executar sem contar com ninguém e que, preferencialmente, não precise sair da sala, mesmo que não seja uma prioridade.
Gatilhos – Horário – Café – Local – Estado emocional – Julgamento do padrão emocional do outro.
A coordenadora Jenifer chega à escola, pega um café na sala dos professores, vai para a sua sala, liga o computador, verifica os e-mails e redes sociais – começa a trabalhar segura e tranquila, diferente da sensação de assistir a uma aula, na qual invadirá um espaço que não é seu, enfrentará um professor no mínimo incomodado e será obrigada a analisar, de forma lógica (gestão), uma pessoa que ela tem vínculo emocional.
Rotina – Costuma fazer isso há muito tempo, no mesmo horário, da mesma forma – quando chega à escola os gânglios basais são ativados automaticamente.
Porta de saída – Sensação de domínio e segurança.
Final do loop do hábito – Sensação no final do dia de frustração e autodepreciação.
Quando o loop termina e retomamos o controle do cérebro, surge a sensação de culpa tão familiar da comida que não deveria ter sido ingerida, do tempo perdido no Facebook, da agressividade ao colega, da unha roída, do cigarro fumado…
Isso significa que, quanto mais o usamos, mais ele se solidifica em nossa mente. Daí a dificuldade em abandonar velhas práticas, notadamente as que nos fazem mal.