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Questão de gênero

Matéria publicada na edição 119 | Junho-Julho/2016 – ver na edição online

Discute-se de forma inútil e estéril se o novo Governo brasileiro deve compor seu ministério com mulheres ou não, mostrando-se que uma eventual exclusividade masculina ou feminina seria prova de discriminação quanto ao gênero. Impossível pensar em tolice maior e quem quer que viva o cotidiano “chão da escola” sabe que este é um assunto antigo, e que tanto em escolas públicas como particulares sempre se debateram sobre a capacidade do homem ou da mulher, do professor ou da professora, jamais faltando os que tentavam ver nessa composição docente uma prova de sabedoria.

Inexiste a real dimensão para essa bobagem. Preconceito mais enrustido para tal equívoco. A tarefa docente, para qualquer gênero, se inspira essencialmente em dois fundamentos: competência e dedicação. E quando estes atributos se fazem presentes, discutir qual gênero o exerce de forma superior representa discussão estéril e, o que é pior, preconceituosa.

Fui professor em escolas públicas e particulares da Educação Infantil ao Ensino Superior, em entidades públicas e particulares e fui também diretor em instituições de toda natureza. Por muito tempo convivi e lutei contra as tolices de se atribuir a um gênero predicado de qualidade maior. Tive professores de Educação Infantil maravilhosos, verdadeiros mágicos na arte de encantar e transformarem informação e conhecimento, como também contei, ministrando aulas apenas para meninos, maravilhosas professoras de Educação Física. Convivi com excelentes professoras em Cursos Superiores, não raramente ministrando Ciências Exatas, da mesma forma como conheci mulheres exemplares no ensino de disciplinas técnicas, como por exemplo mecânica ou computação e, de igual forma, tive professores excelentes em aulas de culinária e até mesmo de bordado.

Nunca deixaram de se fazerem imprescindíveis ainda que sempre causassem o espanto de serem vistos como em “atividades erradas”. Isso é preconceito, visão míope, tendência a olhar o amanhã com olhos de ontem. Se o Brasil puder contar com umas vinte Ângela Merkel, por exemplo, em seu ministério será um país melhor e mais sério e nada confirma com maior ênfase essa tese que temos atravessado períodos críticos e que nos faz pagar um preço caríssimo – tanto quando governado por homem, como por uma mulher.

O país e a nossa educação necessitam, depressa, descobrir que competência e dedicação, dignidade e profissionalismo é questão de caráter, não de gênero.

 

Celso Antunes tem bacharelado e licenciatura em Geografia. É mestre em Ciências Humanas pela USP e é considerado um grande formador de opinião no mundo da educação. Tem mais de 280 publicações e suas obras forma traduzidas pra mais de seis países. Celso Antunes também ministra palestras em diversos países como Argentina, Uruguai, Peru, México, entre outros. 

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