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Saúde mental: Acolhimento, cuidado e bem-estar

Diante das mudanças radicais e das reestruturações causadas pela pandemia ao longo do ano passado, na atualidade, com o início do ano letivo de 2021, algumas questões emergem em desdobramentos acerca da preocupação e do cuidado com a saúde mental de todos e todas que transitam no cotidiano escolar – em especial os/as educadores/as e estudantes.

Em um breve panorama, no primeiro semestre de 2020, quando eclodiu a pandemia do novo coronavírus no Brasil, todo o sistema educacional foi afetado: o presencial se tornou remoto; a sala de aula migrou para a sala da casa; o corpo docente reinventou o seu cronograma pedagógico por meio das tecnologias; e, em paralelo a todas as mudanças práticas, o luto, a perda de entes queridos, a preocupação com o trabalho, e todos os elementos que compõem a vida social foram abaladas, tanto físico como psíquico.

Nesse momento de volta às aulas, de atividades totalmente presenciais ou híbridas, para além de todos os protocolos de higiene e segurança (distanciamento social, utilização de álcool em gel, número reduzido de alunos, etc.), é de extrema importância abordar os aspectos emocionais, as inseguranças, a adaptação do ensino remoto para a presença física nas escolas, e de refletir sobre as novas dinâmicas que surgem no cotidiano escolar – já que ainda estamos em tempos de pandemia.

Para a psicóloga Luciana Deutscher, que trabalha na linha da Psicologia Positiva, esse é um momento que deve ser visto como uma chance de reflexão. “Além de todas as normas de segurança que estão sendo amplamente divulgadas, as escolas precisam trabalhar o aspecto emocional que é necessário para a preparação e o apoio especializado aos professores para um retorno, seja nesse ano ou no próximo”, avalia.

O retorno às aulas, conta Luciana, deve priorizar a convivência social, o estar com seus pares e deve ser baseado em atividades que propiciem a troca de experiências de como foi esse tempo de distanciamento, que explorem e foquem no lado lúdico do ambiente escolar. “Conteúdo se recupera facilmente com revisões, retomadas, aulas de assistência. Porém, os impactos causados pelo isolamento social na esfera emocional só se dissolverão com uma convivência leve, alegre, segura e que vise o lúdico, o debate, o brincar orientado, a prática de esportes e atividades recreativas com a segurança das medidas sanitárias necessárias para esse momento atual”, reforça a psicóloga.

Para complementar essa ideia, Ana Café, psicóloga clínica especializada em saúde mental da infância e adolescência, acredita que a escola precisa desenvolver um ambiente acolhedor, criativo e motivacional tanto para os docentes quanto para os discentes. “Não tentar impor limites muito rígidos, nem impor cobranças desnecessárias. O momento é de usar a criatividade, a boa vontade e desenvolver atributos como coragem, persistência e permanência em ambos. É fundamental que a escola abra espaços para a escuta desses jovens, para isso o desenvolvimento de grupos operativos, palestras informativas sobre ansiedade e depressão, seguidas de debates. Priorizar questões mentais e comportamentais será fundamental através da transversalidade de conteúdo”.

ACOLHIMENTO E CUIDADO EMOCIONAL

Cintia Sant’Anna, diretora acadêmica da Maple Bear Latam, destaca que as instituições de ensino têm um papel importante para a promoção do bem-estar em um contexto atual tão desafiador. Para ela, a implementação de ações, procedimentos e políticas pela gestão escolar, por exemplo, pode trazer contribuições essenciais para o desenvolvimento de sentimentos positivos para a comunidade escolar.

Nesse sentido, a diretora destaca: “a criação de rotinas que integrem o acolhimento de seus professores e alunos, promovam a oportunidade a todos expressarem seus sentimentos e compartilharem estratégias para aprendizagem de habilidades que promovam autoconsciência de seu estado emocional e desenvolvam estratégias que os possibilitem autorregulação de suas emoções, seja através de prática de meditação, movimentação, alimentação, diálogo, e deem abertura para busca de apoio individualizado”.

Na prática, diz Sant’Anna, outras ações podem ser realizadas pelas escolas para priorizar a saúde mental dos alunos no retorno às aulas em 2021, bem como em seu planejamento e na transição para o ensino presencial, como: a reconstrução do relacionamento com os alunos e estabelecimento de novos procedimentos de comportamento e rotinas. Além da “organização e análise das evidências de aprendizagem dos alunos no período de isolamento, utilizando recursos como documentação, diálogo e atividades envolventes que não gerem mais ansiedade aos alunos. E o compartilhamento com toda a comunidade escolar do plano de retorno às atividades, para que todos saibam o que é esperado e quais procedimentos seguir”.

JANEIRO BRANCO

Com o tema “Quem cuida da mente, cuida da vida”, no último mês ocorreu a campanha Janeiro Branco – movimento criado em 2014, por iniciativa de um grupo de psicólogos da cidade de Uberlândia (MG). “O Janeiro Branco só vem reforçar a importância de cuidar da saúde mental, mais ainda em tempos de pandemia, nos quais houve um aumento considerável de transtornos mentais nas pessoas e, em contrapartida, a precarização dos serviços de saúde mental”, diz Ana Paula Chaves, psicóloga, pesquisadora e coordenadora do curso de Neuroaprendizagem da Unyleya.

O movimento é uma maneira de promover a psicoeducação para que a população passe a ter consciência de suas emoções e saiba como identificar os problemas psicológicos, de forma a se prevenir e evitar que se tornem algo mais grave no futuro. (RP)

Saiba mais:
Ana Café – cafe.ana@gmail.com
Ana Paula Chaves – psic.anachaves27@gmail.com
Cintia Sant’Anna – comunicacao@maplebear.com.br

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