A temática da saúde mental, assim como as suas reverberações, alcançou um lugar de destaque nas discussões sobre o cotidiano escolar nos últimos anos. Em um breve retrospecto, o avanço das tecnologias em diversas camadas, as transformações sociais, a pluralidade das redes sociais que emergiram e os efeitos da pandemia de Covid-19 são alguns dos fatores que podem influenciar diretamente na saúde mental da comunidade escolar.
“As demandas de saúde mental relacionadas ao cotidiano escolar não são novas. Sempre existiram. Mas, de fato, foi a partir da década de 2000 que vimos um recrudescimento importante”, afirmam a psicóloga Anne Prado e o médico Marcos Moraes. Eles comentam que um estudo publicado em maio de 2023 no JAMA Pediatrics (principal periódico médico que aborda as questões da infância e adolescência), com dados de 41 mil crianças de 12 países, mostrou que os sintomas depressivos aumentaram 26% e os ansiosos, 10% por conta da pandemia. “Ao fazermos um recorte no universo adolescentes, que representa nossos alunos do fundamental 2 e ensino médio, a principal piora foi em relação a ansiedade, piorou 16%”, completam.
A atenção com a saúde mental possibilita, aos estudantes, uma transição fluida para a vida adulta, interferindo diretamente no bem-estar, no desenvolvimento e na autoestima do jovem em período de formação. “Resultados positivos na educação estão diretamente relacionados com o grau de equilíbrio da saúde mental das nossas crianças e adolescentes, e os resultados negativos também”, afirmam Anne e Marcos.
Nesse sentido, estreitando o olhar sobre a escola, a psicóloga e o médico acreditam que a escola é um ambiente estratégico para promover saúde mental para crianças e adolescentes, sobretudo pelo longo período que os estudantes passam diariamente nas instituições. “Na nossa visão a escola deve atuar essencialmente em dois pontos. O primeiro é começar a educar sobre psicoatenção, ou seja, precisamos ensinar nossos alunos a reconhecerem suas emoções e a como gerenciá-las. O outro ponto de atuação da escola deve ser como ponte entre as famílias, os jovens e as questões de saúde mental, inclusive com troca ativa de informações sobre o aluno”, destacam.
Na prática, algumas ações podem ser desenvolvidas a fim de inserir o cuidado com a saúde mental na agenda escolar. Palestras e atividades em grupo, para a sensibilização do tema, são válidas, desde que tenha uma constância. “Não adianta falar uma vez no ano sobre saúde mental e achar que está caminhando. É preciso falar todos os meses, sobre diferentes tópicos”, reforçam. E se os alunos puderem participar desse processo, apontando temáticas de interesse, o engajamento aumenta.
“Outra ação factível é estimular que os alunos procurem ajuda, interna e externa. Se a escola for capaz de estabelecer um canal para isso, melhor ainda. Uma outra ação, mais estruturante, é implementar disciplinas de competências socioemocionais”, complementam os profissionais Anne Prado e Marcos Moraes. (RP)
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Anne Prado / Marcos Moraes – marcos.mindware@gmail.com