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Saúde mental na escola: vamos falar sobre isso?

Saúde mental era algo considerado distante do mundo escolar em uma época de maior comprometimento com os resultados acadêmicos. Mas vivemos hoje um momento muito diferente: em praticamente todas as escolas do mundo, vemos uma atenção crescente às questões emocionais.

Isso não se deve apenas à pandemia ou ao modo como as relações na sociedade vêm se construindo, de uma maneira bastante apressada, desconectada e desumanizada. Cresceu também a quantidade de notícias que, muitas vezes, nos atordoam, com uma negatividade crescente, fazendo-nos sentir assombrados, pessimistas e com a sensação de que o mundo é ruim.

Rutger Bregman, em seu livro “Humanidade: uma história otimista do homem”, mostra que o placebo, ou substâncias que não têm efetivamente uma química que faça a diferença no corpo, pode nos beneficiar. É como a água com açúcar que muitos alunos procuram em nossas enfermarias, ou na sala da orientação, quando se sentem sozinhos, inseguros ou carentes.

Assim como há o placebo, que dribla nosso cérebro com aquilo que não é, para produzir um efeito do que queremos que seja, existe o nocebo, ensina Bregman. Ou seja, a criação de uma realidade que, na prática, não tem evidências sólidas.

Pesquisas mostram como muitas pessoas tendem a achar que o mundo piorou, que a vida está mais difícil, ou pior em vários aspectos, contra diversas evidências. A esse respeito, noticiários constantes, que nos trazem a negatividade citada, podem afetar de maneira bastante dolorosa nossa saúde mental. Some-se a esse caldeirão de questões as mídias sociais e o uso insano de telas e estará feito o panorama que tem abalado tanto a saúde mental de nossos alunos.

Cabe então a pergunta: o que fazer diante disso tudo? Em primeiro lugar, vale lembrar aquilo que a neurociência tem nos ensinado: não há uma distinção absoluta entre o emocional e o cognitivo. Diversos estudos acadêmicos têm mostrado que o desenvolvimento de competências socioemocionais anda lado a lado com o desenvolvimento cognitivo.

Afinal de contas, como nos ensina António Damásio em seu livro “E o cérebro criou o homem”, aprendemos aquilo que faz sentido, que toca o nosso coração, que tem significado. Então, que tal transformar a sua escola em um ambiente onde as relações sejam significativamente bem cuidadas, em que as pessoas possam se expressar com a certeza de não serem julgadas? Que tal criar uma cultura na qual se reconheça que toda emoção, sendo parte de nossa expressão humana, é válida, bem-vinda e respeitada?

Sim, isso quer dizer que não há emoção boa ou ruim. Raiva, tristeza, medo, ansiedade e nojo, tudo isso faz parte de sermos humanos. E não podemos controlar as nossas emoções. O alvo de controle está nos nossos comportamentos.

Ambientes seguros para se trabalhar e estudar favorecem muito a saúde mental. Uma outra possibilidade é envolver seus professores nisso. Pense em uma conversa com os profissionais de Educação Física, para que tragam importantes insights aos estudantes sobre a importância do sono, ou de uma boa alimentação. Que tal o seu professor de História fazer uma reflexão sobre como se vê a saúde mental ao longo dos tempos?

Uma outra possibilidade é um professor de Geografia promover um sarau cultural, no qual cada um fale um pouco sobre suas origens, costumes, crenças e valores, formando um ambiente em que todos se sintam incluídos, pertencentes e seguros. A área artística pode montar um painel com fotos sobre as emoções humanas e o valor da diversidade nas sociedades.

A literatura pode trazer textos ou poemas ligados ao tema. E, claro, pode ser feito um painel com os próprios alunos e seus familiares, no qual se debata a questão, refletindo sobre o aumento alarmante de ansiedade, depressão e outras temáticas. E compartilhando serviços, livros, sites e outras maneiras que a nossa sociedade dispõe hoje para lidar com o fato de que a vida de todos nós merece cuidados.

Momentos delicados pedem atitudes dedicadas. Não basta ficarmos assombrados com os aumentos de casos ligados à saúde mental. A escola pode sim ser um lugar de superação, de acolhimento e de crescimento conjunto.

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