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SEGURANÇA… somos responsáveis?

Matéria publicada na edição 113 | Novembro 2015- ver na edição online

Um pesquisador europeu afirmou que buscamos por vários itens essenciais ao longo da vida e o único que se repete é a segurança, palavra com múltiplos significados na língua portuguesa.

Quando o aluno é matriculado, acredita-se a escola é segura e está preparada para atuar em emergências, afinal existem extintores pendurados nas paredes, caixa de primeiros socorros e algumas sinalizações de alerta.

Não é bem assim. É fato que o preconceito está presente e poucas ações são realizadas na área prevencionista. Uma simples queda no corredor interno de um conhecido estabelecimento de ensino em São Paulo provocou a parada cardiorespiratória, resultando no falecimento da aluna.

Após o lamentável fato foram adotadas ações corretivas e preventivas, além de indenização substancial aos pais que acreditaram que o local era seguro.

A busca pela aplicação de medidas prevencionistas e protecionais possibilita uma ampliação das condições de segurança frente aos cenários de acidentes, lesões e incêndios, reduzindo sua incidência. O acidente existe sim e pode ser catastrófico, cabendo-nos a sua prevenção, o seu combate e a sua extinção.

Quando estamos no conforto de uma escola ou em nosso lar, não imaginamos que nos encontramos no interior de uma enorme fogueira potencial. Todos os materiais “quentes” que nos cercam são basicamente combustíveis e utilizados na forma de mobiliário e acabamento.

Na ocorrência de um incêndio são liberadas muitas substâncias tóxicas e asfixiantes. Nem sempre é possível evitar o uso dos materiais combustíveis (papel, plástico, borracha, pvc, madeira, papelão) nessas aplicações, mas pode ser reduzido ou substituído.

Sabendo como se comportam quando queimados e o que será liberado, é fundamental para um projeto ou ampliação funcional ou estética do estabelecimento de ensino.

A existência de uma nova legislação exigente e, principalmente o valor de suas infrações/multas, são fatores determinantes para a aplicação da segurança contra incêndio e acidentes na área de ensino, porém só é atingido se realizam ações práticas. De nada adianta ter extintores se não existem pessoas treinadas na sua correta utilização.

A nossa cultura equivocada começou historicamente pelos equipamentos de combate e primeiros socorros, obrigatórios até pouco tempo atrás em todos veículos, envolvendo estojo de primeiros socorros e extintor veicular “apaga tudo”? de classes A,B,C. Só faltou o treinamento de uso correto.

Sempre foi mais assertivo aplicar ações preventivas do que combater o incêndio.

No dia 31 de julho de 2013, por volta de 10 horas, na rua Clark no bairro da Mooca, São Paulo, foram deslocadas 22 viaturas do Corpo de Bombeiros, com cerca de 80 bombeiros para combater o incêndio da Rede Armarinhos Fernando, recheada com 50 carretas de mercadorias entre artigos de papelaria, brinquedos e utilidades domésticas, ao lado do Colégio São Judas. Foram mais de 10 horas de incêndio, consumindo materiais, água, muita água e obrigando 300 moradores do edifício vizinho a abandonar seus lares.

O Colégio São Judas Tadeu realiza há mais de uma década o treinamento de abandono de área com seus professores e alunos, semestralmente, além de treinamento prático de combate a incêndios utilizando seus extintores “vencidos” em um centro profissional de aplicação com fogo de verdade.

No dia 3 de outubro de 2015, sábado, um incêndio destruiu o Restaurante que fica no último andar do Terraço Itália, na Avenida Ipiranga, um dos endereços mais famosos da Capital. A sorte, se é que pode ser chamada de “sorte”, é que foi pela manhã e não houve necessidade de realizar o Programa de Abandono da Edificação. O interessante é que a porta corta-fogo só existe no 35º pavimento e fica trancada (com chave). Descer do 42º ao 35º pavimento não é tarefa fácil, mesmo porque o prédio não possui o AVCB – Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, como afirmou a reportagem do SP TV 1ª Edição, no próprio dia.

Quem frequenta um renomado restaurante acredita que está “seguro”, tanto quanto um pai ou uma mãe que matricula seu filho na renomada “escola”. Não somos capazes de perceber que vivemos dentro de uma enorme fogueira que está prestes a ser consumida ? Somos responsáveis pelas nossas vidas e as vidinhas dos alunos ?

Nossas construções se encontram defasadas quanto a sua segurança em mais de duas décadas, principalmente na aplicação de sistemas protecionais de segurança, identificação, sinalização, equipamentos e, infelizmente treinamento dos equipamentos de combate.

Foram centenas de estudantes que tiveram suas vidas ceifadas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na Boate Kiss, pagando para entrar e morrer asfixiados, por espuma e outros materiais tóxicos.

Os proprietários do estabelecimento eram responsáveis ou então o grupo musical que utilizou elementos pirofóricos, ou ainda a Documentação emitida pelos Órgãos Responsáveis… Responsáveis?

Tirar a mão do bolso e por a mão na consciência é um ditado antigo, que ouvi pela primeira vez há mais de 50 anos. O ditado não envelheceu e continua cada vez mais atual.

SAFETY BRASIL ENGENHARIA LTDA

 Prof. Milton Ferreira é formando na área de segurança e engenharia do trabalho, especialista em prevenção de acidentes e incêndios. Diretor da empresa Safety Brasil Engenharia e Comércio Ltda e Safety Treinamento e Consultoria de Segurança do Trabalho, atuando desde 1979 na área prevencionista.

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