A população global atingiu 8 bilhões de pessoas e deve continuar crescendo até 2086, segundo o relatório Perspectivas da População Mundial 2022 da ONU (Organização das Nações Unidas). Foram 12 anos desde o 7º bilhão alcançado em 2010. Para termos uma dimensão dos números, no começo do século XIX a população mundial era cerca de 1 bilhão de habitantes.
Esse aumento na velocidade de crescimento da população é uma boa notícia, porque decorre de um grande ganho da humanidade, que foi a redução da mortalidade, impulsionada justamente pelos avanços da ciência, que só foram possíveis com o aumento das escolas e a valorização da educação. Em meio às Revoluções Industriais, iniciadas por volta de 1760, criou-se a necessidade de capacitar mais as pessoas e elevar seus níveis intelectuais, resultando, então, em uma educação mais plural em relação ao que havia naquela época e na sala de aula.
O livro Longevidade – Uma breve história de como e por que vivemos mais, de Steve Johnson, demostra de forma muito clara como aconteceu esta forte expansão demográfica. A expectativa de vida saltou de 35 anos no século XIX para 73 anos no século XXI. Sendo assim, não houve um estirão de longevidade, mas uma redução brutal na mortalidade. Vacinas, saneamento básico, fertilizantes, antibióticos, transfusões de sangue, cloração da água, pasteurização do leite, anestesia, cinto de segurança e angioplastia foram algumas das invenções que pouparam e ainda poupam bilhões de vida.
Johnson destaca ainda alguns trabalhos de pessoas que não entraram para a história diretamente, porém, foram fundamentais para a redução da mortalidade. É o caso do londrino William Farr que, além de médico, era estatístico e ajudou a criar o campo da epidemiologia. Na epidemia de cólera, em 1866, em Londres, ele supervisionou os números de casos e mortes e conseguiu perceber padrões em determinadas regiões da cidade. Ele chegou à conclusão de que a água de um poço artesiano utilizado por parte da população estava poluída pelo esgoto e sugeriu à prefeitura seu fechamento, possibilitando uma redução drástica no número de mortes pela doença na cidade, que logo depois construiu toda a sua rede esgoto em 6 anos. Entender os padrões da mortalidade se tornou tão eficaz para salvar vidas quanto qualquer intervenção médica tradicional.
Por outro lado, esse crescimento populacional coloca desafios enormes na capacidade de produção de alimentos e bens de consumo num mundo que tem limitações de recursos naturais, além de já termos, desde 1950, o debate em torno do aumento acelerado da tecnologia e produtividade e os riscos para o meio ambiente e mudanças climáticas, fatores que exigem uma busca por caminhos mais sustentáveis para toda a sociedade. Por exemplo, toda a África tem 16,7% da população mundial e é responsável por 3% das emissões de CO2, enquanto os EUA têm 4,5% da população e são causadores de 21,5% das emissões.
As baixas taxas de natalidade de países mais desenvolvidos também têm desafios para a manutenção dos seus níveis de produção, serviços e aposentadoria de sua população nos mesmos padrões anteriores, e alguns deles começam a facilitar a imigração de outros povos, a exemplo de Portugal, que aceita o nosso Exame Nacional do Ensino Médio em suas universidades e vem facilitando a obtenção de vistos de trabalho para brasileiros.
A população do Brasil ainda crescerá até 2050 e esses desafios todos, apresentados pelo crescimento populacional, vão exigir cada vez mais investimento em tecnologia, educação e ciência, e podemos aproveitar para termos como projeto uma sociedade mais forte economicamente. Para isso, será fundamental que tenhamos também um plano de educação nacional melhor estruturado para darmos condições de estudo a todos. Para mencionar apenas um dado como exemplo: apenas 5% das escolas públicas possuem velocidade de conexão à internet indicada para uso pedagógico, em um mundo cada vez mais competitivo e acelerado pela tecnologia e indústria 4.0. Além disso, não agregamos valor aos nossos bens de exportação e uma parte disso se deve à má formação dos nossos jovens e profissionais. Temos ainda um forte negacionismo científico na sociedade, campanhas contra vacinas e teorias vazias de que a terra é plana toda hora aparecendo nas redes sociais e em outros canais. E esse último marco de 8 bilhões de pessoas é decisivo para começarmos a olhar para esses problemas de maneira ordenada para combatê-los e reforçar, mais uma vez, a importância da ciência, pois, se chegamos a 8 bilhões de habitantes na Terra, é porque a educação, a ciência e seus avanços são um fenômeno social de sucesso e que devem continuar crescendo.