Matéria publicada na edição 121 | Setembro/2016 – ver na edição online
O segundo semestre sempre parece curto demais na escola… Cuidar do destino pedagógico dos alunos para finalizar o ano e, ao mesmo tempo, começar o planejamento do ano seguinte, rever as escolhas realizadas e implementar as novidades. Além de tudo, é desafiador ter um tempo para olhar um pouco mais à frente no calendário e antecipar-se às tendências educacionais.
A Base Nacional Curricular Comum (BNCC), por exemplo, está a caminho. O documento atual está em sua segunda versão, ainda como proposta, e já incorpora as sugestões feitas pela sociedade. Foram mais de doze milhões de sugestões sobre o documento inicial, que mostram o expressivo desejo da sociedade de participar ativamente dos rumos da educação.
Sabe-se que, quando entrar em vigor, a Base Nacional Curricular trará a necessidade de modificação de currículos tanto da rede pública quanto privada. A parte relacionada às competências emocionais e sociais vem ganhando força como “a bola da vez” nas tendências da educação para o século XXI.
Várias escolas se adiantaram, até por identificação filosófica, com a chamada educação integral e adotaram projetos para desenvolvimento de habilidades socioemocionais de forma específica e sistematizada. Para essas, a tendência é de melhorar a avaliação dos projetos e ações em relação aos resultados que essas propostas estão trazendo aos alunos.
Não basta mais a escola ter em seu projeto político pedagógico o comprometimento com qualquer objetivo sem ser capaz de explicar se ele está sendo atingido e de que forma isso ocorre. O envolvimento crescente da sociedade na atuação da escola está buscando maior transparência e evidências concretas do que está sendo efetivamente realizado.
Em fins de 2015, por exemplo, a lei sobre a intimidação sistemática, chamada “antibullying” mostrou um novo olhar para a ação da escola. O reconhecimento de que os prejuízos do bullying são devastadores fez com que, sem esperar pela implementação da BNCC, a lei fosse criada. É um chamado para um dos problemas gerados quando faltam habilidades socioemocionais na comunidade escolar e ele aponta para a necessidade de medidas imediatas.
A lei esclareceu e definiu o que é o bullying, cunhou o termo intimidação sistemática e definiu formas e contextos em que ocorre. Ainda foi além, estabelecendo deveres específicos para as escolas e agremiações. O artigo quinto define que é dever dos estabelecimentos “assegurar medidas de conscientização, prevenção diagnose e combate à violência e intimidação sistemática”. Dessa forma tornou obrigatória uma posição formal das escolas a respeito do assunto, de forma a indicar quais ações e programas de prevenção à intimidação sistemática estão adotando, explicitamente. Mais transparência.
Felizmente, para que as escolas possam responder à demanda e atuar com eficácia na área, estudos e programas já avaliados estão hoje disponíveis para implementação nas salas de aula. Estes vêm para apoiar a ação do professor e melhorar o ambiente de convivência dos alunos, no sentido de promover na escola ambientes emocionalmente seguros.
Sabe-se que esses ambientes favoráveis além de reduzirem a intimidação, também contribuem muito para a aprendizagem acadêmica e estabelecem um ciclo positivo de relacionamento dos alunos, familiares e escolas, fazendo com que a partir de algo tão danoso possa surgir um novo ciclo de conquistas sociais para todos.
Sobre Miriam Guimarães
Coordenadora de equipe de psicólogos e pedagogos da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC) atuando em formação de professores para a Educação Emocional nas escolas e desenvolve treinamentos na área de educação emocional. É Consultora em metodologias de desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais para crianças para a Metodologia Internacional de Educação Emocional – Programa Amigos do Zippy. Professora, com licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da USP. Mestre em Psicologia da Educação pela Faculdade de Educação da USP. Consultora e Palestrante atuando nas áreas de Educação Emocional, Desenvolvimento de habilidades e competências, Heterogeneidade na sala de aula, Resolução de conflitos, Bullying e Formação docente. É Professora e Coordenadora no Colégio Dante Alighieri, São Paulo.