Matéria publicada na edição 46 | Março 2009 – ver na matéria online
O gosto de “aprender fazendo”.
Por Rosali Figueiredo
Imagine uma aula de Física em que os alunos possam visualizar os movimentos simultâneos do Sol, da Terra e da Lua, tanto de translação quanto de rotação, por meio de um pequeno planetário construído e programado na própria escola. A impressão inicial é a de que esta seja uma situação do futuro, mas a educação tecnológica, e um de seus principais braços, a robótica pedagógica, ganham cada vez mais espaço nas instituições de ensino.
O conceito chave embutido neste novo tipo de atividade é o “aprender fazendo”, conforme destacam os professores da área. “A educação tecnológica não se restringe a computadores ou celulares, mas está ligada à possibilidade de criação de produtos e estratégias com vistas a atender às necessidades do homem”, observa Valéria Sitta, psicopedagoga e diretora pedagógica da Lego Educacional.
A robótica pedagógica diz respeito, por sua vez, ao uso articulado da mecânica, da eletrônica e da informática na produção de diferentes tipos de instrumentos, como o próprio planetário, robôs, animais, entre outros, observa o professor Carlos Henrique Matos dos Santos, do Colégio Global, localizado no bairro de Perdizes, em São Paulo. “Utilizamos materiais de encaixe, microprocessadores, que são o cérebro do robô, softwares e peças tecnológicas, como engrenagens, polias, rodas, eixos e alavancas”, completa. A ideia é trabalhar conceitos de outras áreas do conhecimento, como Matemática e Ciências, por exemplo, bem como dar oportunidade para o aluno “resolver seu próprio problema”. “Na robótica, quando precisa de uma chave de fenda, ele constrói a ferramenta”, ressalta.
A inserção da robótica no ambiente escolar ocorre de diferentes formas. Em algumas escolas, entra na grade curricular e também em oficinas extracurriculares. Este é o caso do Colégio Global, que a introduziu em 2007, e do Marista Arquidiocesano, da Vila Mariana, também em São Paulo. O Arquidiocesano a desenvolve em atividades extracurriculares há 11 anos e em 2005 a colocou também no currículo obrigatório. Mas o laboratório de robótica pode funcionar como apoio para as demais disciplinas, em projetos interdisciplinares associados ao conteúdo das aulas. Esta é outra prática adotada pelo Global e a linha principal do Instituto Madre Mazzarello, do bairro Santa Teresinha, zona norte paulistana, que trabalha com robótica desde 2003. Segundo o professor Sérgio Costa, o Instituto emprega robôs produzidos com materiais recicláveis. “Utilizamos interfaces eletrônicas conectadas ao computador e, por meio de um software, podemos controlar os projetos através da programação.”
Há também escolas que desenvolvem o projeto de forma extracurricular, como faz desde 1997 o Colégio Guilherme Dumont Villares, no bairro paulistano do Morumbi, envolvendo as turmas de 5º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio. “No início de cada projeto, fazemos uma explanação sobre os seus objetivos, a finalidade do material utilizado e possíveis soluções para seu desenvolvimento”, relata Rafael Gonzalez, coordenador e professor de Informática e Robótica Pedagógica do colégio.
O professor Carlos Henrique, do Global, observa que a robótica propriamente dita (com seus componentes mecânico, eletrônico e da informática) costuma ser introduzida a partir do 6º ano do Ensino Fundamental II, e que nas séries iniciais são trabalhados processos de educação tecnológica, utilizando-se mais a parte mecânica e, eventualmente, motores e dispositivos elétricos (no 4º e 5º ano, por exemplo). Muitos colégios adotam uma proposta pedagógica baseada no trabalho em equipe, em que os alunos se revezam nas funções de organizador, construtor, programador e líder para o desenvolvimento dos desafios propostos. “É uma forma de desenvolver a sociabilidade, a flexibilidade e o empreendedorismo”, observa Carlos Henrique.
Marcus Vinícius de Souza, supervisor do Núcleo de Tecnologia do Colégio Marista Arquidiocesano, destaca o conceito do “aprender fazendo” como um dos pilares centrais da robótica pedagógica. “A metodologia utilizada promove o trabalho em equipe e favorece a formação de um aluno que saiba pesquisar, criar e solucionar problemas por meio de atividades lúdicas”, afirma.
Segundo a psicopedagoga Valéria Sitta, a robótica pedagógica permite ainda desenvolver o raciocínio lógico, a criatividade, a relação com tecnologias de controle (softwares, sensores e motores), além de competências e habilidades. A Lego Educacional atua no Brasil desde 1998 e atinge hoje 1115 escolas públicas e 280 privadas, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, além da Educação de Jovens e Adultos.
Outra empresa com boa inserção entre as escolas é a PETe (Planejamento em Educação Tecnológica), criada em 2004 em conjunto com a PNCA Robótica e Eletrônica, no município de São Carlos, interior de São Paulo, com produção inteiramente nacional. Enquanto a PNCA desenvolve a parte tecnológica, a PETe se encarrega do suporte pedagógico. Segundo Jaques Weltman, sócio administrador das empresas, “a proposta é utilizar a robótica como suporte ao ensino das matérias curriculares, porém para conseguirmos realizar tal tipo de trabalho, iniciamos como curso extracurricular e ao longo do tempo introduzimos a ferramenta na escola inteira”. Segundo ele, os kits comercializados pelas empresas atingem mais de 20 instituições de ensino, além de universidades, grupos como o Positivo e a prefeitura de João Pessoa (Paraíba).
O custo da robótica pedagógica para os alunos varia conforme a escola. Quando oferecida na grade curricular, o preço está, em geral, incluso nas taxas de materiais. Nas oficinas extracurriculares são cobradas taxas de inscrição e, em alguns casos, o curso anual costuma ser parcelado pela instituição.