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A educação que a voz das ruas pede

As manifestações populares que tomaram conta do Brasil nas últimas semanas trouxeram uma carga grande de situações que merecem de todos (políticos ou não) muitas reflexões.

Nas estatísticas dos cartazes sempre aparece educação como um dos pedidos mais frequentes. Na realidade, o senso de prioridade por educação é recorrente. Bem sabemos que só conseguimos as outras coisas se houver educação. Haverá saúde se não houver educação? Sintomática a experiência feita no Oriente, quando nômades foram instalados em residências. Depois de algum tempo, os vasos sanitários haviam se transformado em vasos para plantas.

Ocorre que a própria educação hoje sofre interferências variadas, deixando incertas as propostas de como deve ser exercida. A disputa pelo marketing exacerbado, que tomou conta das entidades educacionais, acabou desviando o foco dos maiores interessados: a família e o aluno.

Já testemunhamos pais que, ao procurarem informações para matrícula dos filhos no ensino infantil, perguntam: qual o resultado da escola no ENEM. Como se vê,  a confusão é generalizada a ponto de o pai achar que o resultado de uma prova feita por alunos do último ano do Ensino Médio seria importante para classificar a escola infantil.

Lembremo-nos de Robert Fulghum: “O que eu aprendi de mais importante na vida eu aprendi no JARDIM DA INFÂNCIA”.

Inegavelmente, o exame do ENEM veio mudar o rumo natural dos procedimentos em educação. De repente, um exame instituído para avaliar alunos, passou a avaliar escolas, cujo resultado, transformado em “ranking”, teve um poder midiático extraordinário. Foi o bastante para acirrar a disputa entre escolas, que fizeram disso um marketing importante para conseguirem alunos, mesmo que, se preciso for, usem-se métodos pedagógicos absolutamente condenáveis.

E quais são esses métodos condenáveis?

Ora, basta ver as notas atribuídas pelo ENEM às escolas, que perceberemos que, para alcançar boa classificação, a escola só pode concorrer com ótimos alunos (qualquer nota baixa a desclassifica). O que se faz, então, é um processo odioso, dentro da própria instituição, barrando os alunos (mesmo os bons) que contribuiriam para o rebaixamento da média.

Muitas escolas acabam participando do ENEM com um grupo muito pequeno de alunos que, ultra preparados, elevam a nota da instituição ao ponto máximo.

Isto tem pouco a ver com educação – como ela deve realmente ser entendida, isto é, universal.

Achamos, entretanto, que estas reflexões têm também que fazer uma análise mais profunda sobre a própria “educação”. Afinal, qual é a educação pedida nos cartazes? Seria satisfatória apenas aquela que levasse todos os jovens brasileiros a saberem ler, entender o que leram e operar Matemática? Sem dúvida, absolutamente necessária essa base, sem o que qualquer pessoa estaria fadada à cegueira do analfabetismo.

Seguindo nessa linha, deseja-se mais, um ensino que dê condições de os jovens assumirem posições na sociedade e que possam viver o momento atual entendendo-o em toda a sua complexidade.

Ocorre que aqui cabe algo importante. Não podemos apenas nos conformar com a educação de resultados. A escola, que prepara alunos para entrar em boas faculdades, já cumpre o seu papel? No nosso entender isso não é o bastante, pois estaria sendo perdida a oportunidade de transformar o aluno em cidadão, isto é, que possa amanhã direcionar seus conhecimentos também em prol da sociedade.

Vamos a um exemplo, ainda mais uma vez nos valendo dos acontecimentos das ruas. Ainda está na memória de todos que assistiram pela TV, a agressão inaceitável contra o prédio da Prefeitura de São Paulo. Nessa passagem triste destacava-se a figura de um rapaz, bem vestido, possivelmente de classe média, cuja fúria destruidora realmente impressionava.

No dia seguinte, jornais focaram o incidente apresentando o rapaz, seu advogado e a revelação mais triste: é estudante de arquitetura. Pergunto: como alguém, que escolheu uma profissão cuja finalidade é construir, tem uma personalidade tão destruidora? Será que não podemos atribuir a uma falha na educação que ele recebeu? Será que é suficiente que a parte técnica seja satisfeita (ENEM, FACULDADE, etc.) e não seja atendida a parte cívica?

Temos certeza que a educação assim entendida não produziria uma sociedade em que as pessoas teriam prazer de viver. Acreditamos que a educação, seja a de casa, seja a formal, tem sim a obrigação de trabalhar com os alunos para que, quando em posição de mando, tenham sensibilidade para produzir uma sociedade melhor.

É uma oportunidade que nenhum educador pode perder!

Por José Carlos Pomarico

 

José Carlos Pomarico é fundador e diretor-geral do Colégio Joana D´Arc, localizado no bairro do Butantã, em São Paulo (SP).

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