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Especial Educação — Educar 2011 – A Educação transforma ou reproduz a sociedade?

Matéria publicada na edição 69 | Junho e Julho 2011- ver na edição online

A Transformação por meio da “Ressignificação dos Saberes”

As conferências do evento Internacional realizado em São Paulo em maio passado priorizaram a discussão em torno da missão da escola no contexto das transformações sociais, culturais, econômicas e tecnológicas do século XXI. E defenderam o resgate do foco sobre a aprendizagem, agora sob novas linguagens e possibilidades de abordagem, favorecida que está pela tecnologia.

A Educar 2011 reuniu o 18º Educador (Congresso Internacional de Educação), o 9º Avaliar (Congresso Internacional sobre Avaliação na Educação), o 7º Educador Management (Seminário Internacional de Gestão em Educação) e o 1º Educatec (Seminário Internacional sobre Tecnologias para Educação), além da Feira de Expositores. Acompanhe a cobertura nestas páginas e nas de Gestão.

O principal lema da educação do século XX foi “escola para todos”. No século XXI, cabe reelaborá-lo no sentido de defender que “a escola para todos assegure a aprendizagem de todos”. Essa foi a mensagem central deixada pela conferência do educador português António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa e um dos principais nomes presentes ao 18º Educador, Congresso Internacional de Educação realizado entre os dias 18 e 21 de maio, durante a Educar 2011, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo.

Conforme destacou Nóvoa, é preciso resgatar a missão da escola em torno do ensino, retomar a prioridade sobre o projeto educativo, adotá-lo como eixo das transformações – as quais devem ocorrer na prática diária, além de apostar na formação e no autoconhecimento do professor. Nóvoa lançou no evento a obra “O regresso do professor” (Editora Melo, 2011), uma forma de colocar o docente no centro do processo. Nóvoa chamou atenção ainda para “o excesso e o bombardeio de missões” aos quais as escolas se submetem hoje. Isso deixa a todos perdidos, incluindo pais e professores, emendou a pedagoga especializada em Psicopedagogia, Claudia Soares de Oliveira, presente à palestra.

MANTÉM OU TRANSFORMA?
Também o sociólogo suíço Philippe Perrenaud, um dos principais pensadores em educação na atualidade e palestrante de duas conferências na Educar 2011, defendeu o resgate da missão da escola. Qual seja, a de “transmitir para as novas gerações a cultura acumulada pelas gerações anteriores”. Dentro do eixo temático proposto pela Educar 2011 – a educação transforma ou reproduz a sociedade? – Perrenaud observou que ela tem reproduzido a desigualdade social, pois o aprendizado do aluno está diretamente relacionado a condições anteriores à escola: ao seu ambiente familiar, suas interações sociais e ao desenvolvimento intelectual dos próprios pais.

“Isso proporciona condições desiguais de desenvolvimento. As crianças de classe média e média alta recebem mais explicações e informações sobre os sentidos dos saberes, têm mais experiências que lhes permitem vivenciar esses saberes, o que as prepara para aprender por aprender.” Já nas classes populares, “as distâncias a serem percorridas são muito maiores e mais sofridas, com confl ito de lealdade e perda de identidade”, disse. Segundo o pensador, “não basta escolarizar em condições semelhantes, pois basta tratar com igualdade os direitos e deveres para ratifi car as desigualdades”. O desafi o é “transmitir uma cultura escolar de base”, mas, paralelamente, “democratizar o acesso a cultura (por meio do combate à pobreza, à precariedade e às desigualdades), reformar e deixar o currículo mais próximo à vida das pessoas e desenvolver uma pedagogia diferenciada em larga escala”, indicou Perrenaud.

COMO FAZER?
Não é tarefa simples recolocar a aprendizagem no centro do processo educativo quando a sociedade vive a inovação diária das tecnologias de informação e comunicação, as quais colocam, a qualquer tempo e em qualquer ambiente, o estudante em contato com o mundo, novas experiências e linguagens. Assim, a Educar 2011 organizou um fórum exclusivo para discutir o uso das tecnologias (o 1º Educatec) e, na área dos expositores, as novidades em softwares, lousas e carteiras digitais, entre outros, foram os itens que mais chamaram a atenção do público (Leia mais sobre o assunto nas páginas 8, 9 e 10).

Para os especialistas em tecnologia educacional, Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida e Nilbo Nogueira, o imenso desafi o das instituições e dos profi ssionais reside em imprimir “signifi cado aos saberes escolares” dentro desta nova realidade, em que as tecnologias devem atuar como suporte, apoio, e não como uma razão em si mesma. Beth Almeida e Nilbo comandaram uma das mesas de maior interesse da Educar, ao abordarem a incorporação do universo digital no desenvolvimento do currículo. Nilbo Nogueira, ex-PUC São Paulo, é gestor de tecnologia educacional em três instituições de nível superior. Já Beth Almeida é coordenadora do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP).

Ambos defenderam a importância de se trabalhar “com essas diferentes linguagens”, entretanto, “é preciso dar signifi cado ao currículo, à tecnologia, saber onde, como, quando e para quê incorporá-la”, conforme destacou Beth. “É preciso que professor desenvolva no aluno capacidade de articular essas informações, de entender o que é necessário para o seu desenvolvimento, até como formação de cidadãos e não somente para o conhecimento científi co.” Na prática diária, “o currículo deve ser trabalhado com intencionalidade e a tecnologia estar perfeitamente integrada a ele”, defendeu a coordenadora, lembrando que um ótimo paradigma desse equilíbrio é dado hoje pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Segundo Beth Almeida e Nilbo Nogueira, todo esse aparato demanda investimento contínuo em formação e capacitação, tanto do professor quanto do gestor. Do ponto de vista do professor, a tecnologia educacional não signifi ca transportar a tabuada para o Power- point, mas fazer uso de sua linguagem própria, criando-se, por exemplo, jogos que desafi em os estudantes e os obriguem a utilizar a tabuada. É um novo professor, “inovador e autor de processos diferenciados”, disse Beth Almeida.

Ao gestor, por sua vez, compete se preparar inicialmente para utilizar os recursos tecnológicos em seu trabalho e, posteriormente, compreender isso no âmbito pedagógico, “para que possa prover condições ao educador”, enfatizou a coordenadora, que está lançando a obra “A integração das tecnologias com o currículo”, pela Editora Paulus.

Dentro desta linha, o diretor de Mídias Digitais da Pearson Brasil, Tadeu Terra, ressaltou que a tecnologia, ao contrário do senso comum, “não tem vida própria”, mas está ligada à prática docente, “é um instrumento”. “O uso das diversas mídias permite acesso a notícias, animação, fi lmes, infográfi cos, entre outros recursos de linguagem que funcionam como elemento de refl exão”. Também conferencista da Educar 2011, Tadeu Terra, Físico graduado pela Universidade de São Paulo em São Carlos, ex-professor, coordenador e professor de escolas, também ressaltou que a implantação de qualquer projeto pedagógico passa antes pelo gestor, pois envolve, “de cara, três aspectos relevantes”.

Em primeiro lugar, a formação do docente, “que não está acostumado à linguagem multimodal”, mas precisa conhecer “como funciona um fórum, um chat, um ambiente colaborativo”. Depois, entra a infraestrutura, com ênfase nas conexões em banda larga. E, fi nalmente, o custo do dispositivo móvel, que no caso da Pearson, empresa que responde pelas publicações dos sistemas COC, Dom Bosco, Pueri Domus e Name, sairia “equivalente à lista tradicional do material”. O dispositivo móvel, no caso, refere-se a netbooks com acesso à internet, que a escola disponibilizaria a cada estudante e que fazem parte de um projeto de educação interativa desenvolvido pela Pearson e lançado neste ano sob a bandeira COC.

Saiba mais

Claudia Soares de Oliveira
clasoareso@gmail.com

Maria Elizabeth Almeida
ced@pucsp.br / bethalmeida@pusp.br

Nilbo Nogueira
www.nilbonogueira.com.br / nilbo@nilbonogueira.com.br

Tadeu Terra
tadeuterra@uol.com.br

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