Todas as tentativas de melhorar o resultado do processo ensino/aprendizagem são fundamentadas em propostas filosóficas. Da mesma forma, cada nova proposta de organização de conteúdo e de metodologias voltadas à educação parte de uma base de conhecimentos essenciais necessários ao cumprimento de um papel na sociedade ou em um grupo de atividade produtiva.
Assim, desde a essência, qualquer projeto educacional trata e passa pela dicotomia saber e saber aplicado. Quanto maior for esta relação, melhor será o seu resultado. Esta é a fundamentação da proposta da Reforma do Ensino Médio, detalhada na Base Curricular do Ensino Médio e no instrumento regulatório que parametriza sua carga horária. Ela define os componentes curriculares obrigatórios e estabelece cinco eixos de especialização a serem oferecidos aos jovens para permitir uma terminalidade ao Ensino Fundamental.
A Reforma do Ensino Médio se apresenta como uma resposta regulatória e tecnicista ao fato que, após três anos de estudo, apenas 25% dos 8 milhões de cidadãos matriculados anualmente no Ensino Médio dão continuidade aos estudos, seja privado ou público.
Assim, a cada ano, 6 milhões de brasileiros que estudaram muitos temas, sem grande profundidade em nenhum deles, saem do fluxo educacional sem qualquer motivação para se graduarem e sem especialização que propicie uma inserção adequada no mercado de trabalho.
Há muito tempo destinado ao estudo e que não resulta em uma grande quantidade de saber, já que este não se aplica a sua continuidade e nem a uma atividade produtiva que gere receita.
Quando tratamos da redução da quantidade de disciplinas como determina a Base Nacional Comum Curricular, temos que ter certeza que o princípio norteador da proposta não é facilitar o aprendizado, mas sim dotá-lo de foco, para que se busque profundidade em temas essenciais que não são, comprovadamente, apreendidos. É o que ocorre com leitura e interpretação de textos, análise lógica, síntese de temas e vínculo do aprendizado a cenários da vida real.
Neste início de Século XXI, onde o acesso à informação é algo extremamente ágil e fácil, não soa um contrassenso reduzir e concentrar temas? Obviamente o acesso às informações, aos temas, aos conteúdos é muito mais rápido e em volume muito maior. Isso exige uma capacidade de interpretação muito mais criteriosa e delicada, uma análise fina para que não sejam consideradas verdadeiras informações não submetidas a levantamentos quanto à sua origem e à observação de outras fontes, o que resulta no que é ainda mais perigoso: a propagação de mentiras.
Portanto, neste momento de fácil acesso a todo tipo de informação, nada mais adequado do que fazer uma delimitação dos conteúdos, a fim de assegurar que estes façam sentido e tenham significado, o que se dá a partir de sua aplicação.
Esta delimitação permite que os conteúdos possam ser transformados em competências, habilidades e atitudes. Assim, a Reforma do Ensino Médio tem o papel de organizar um processo ensino/aprendizagem mais criterioso e profundo de temas essenciais à formação de cidadãos produtivos.
Ter informação é fácil. Selecioná-la, filtrá-la, analisá-la e aplicá-la é o diferencial esperado. Desta forma, os estudantes devem passar por níveis mais profundos de aprendizagem para se tornarem críticos, criteriosos e ativos na aplicação do saber de maneira efetivamente produtiva.
Quando se fala em criticidade e critério, passamos a pensar na relevância dos temas estudados e na sua real aplicação. Ao saber o porquê da necessidade em se conhecer um tema, ele ganha relevância.
A Reforma do Ensino Médio prevê um quinto eixo de formação, que é o da Educação Profissional. Nele, os alunos poderão escolher disciplinas adequadas à formação de um perfil voltado ao desenvolvimento de atividades profissionais demandas pelo mercado de trabalho.
Há casos de grande sucesso nesse sentido. A educação da Finlândia, por exemplo, permite que os alunos, desde os primeiros anos de educação, escolham e incluam aulas de culinária, artes, carpintaria aos seus currículos, assegurando que além do saber, o fazer contribua para desenvolver habilidades, competências e, daí, atitudes.
No Brasil, o Centro Paula Souza, mantenedor de Faculdades e Escola Técnicas que oferecem cursos Técnicos concomitantes, possibilita a alunos desenvolverem o ensino propedêutico de nível médio e, no contraturno, as disciplinas de um curso técnico. Dentre os resultados acadêmicos comprovados figuram a queda da evasão e a empregabilidade da ordem de 85% dos alunos ao final da parte profissionalizante/técnica.
Na linha da educação significativa, pensando no setor da educação como mercado, dois grupos educacionais se destacam: o Anima, que atua no Ensino Superior, e o Eleva, da educação Básica. Ambos apresentam um posicionamento qualitativo, o que resulta numa demanda bastante expressiva pelos seus cursos e serviços. Suas experiências trazem a certeza de que modelos educacionais bem concebidos e sustentados em conteúdo contextualizado, professores competentes e capacitados e em ambientes educacionais que permitam a movimentação dos alunos, trabalhos em grupo, discussões e atividades práticas trazem reais resultados ao aprendizado.
Salas de aulas são transformadas em ambientes de pensamento livre, cadeiras e mesas são movimentadas e organizadas de forma a permitir associação, discussão, debates sobre temas previamente disponibilizados ou indicados em endereços na Internet.
As atividades são desenvolvidas em ambientes integradores de áreas e que permitem a realização desde um plano de negócios até a materialização de insumos, produtos e embalagens. Estes ambientes são denominados Espaços Makers, em alusão à condição do fazer com o saber desenvolvido.
Os docentes são preparados a pensar suas aulas a partir do objetivo a ser atingido e, daí, traçar as estratégias de desenvolvimento das atividades e da apresentação dos conteúdos. Isto é denominado planejamento reverso.
Este novo pensar e olhar a educação, com menor diversidade de temas, mas com mais profundidade e maior aproximação com o mundo real e do trabalho que precisa ser desenvolvido nas redes públicas e nas instituições privadas. Dissociar o saber da sua real aplicação no mundo do trabalho é ampliar a desigualdade socioeconômica e criar uma geração de despreparados para a vida real.