Este termo foi utilizado pela primeira vez por Michael Young, no livro “The Rise of the Meritocracy” publicado em 1958. Associada comumente às atividades esportivas, a meritocracia é um sistema de reconhecimento público através da capacidade e do esforço de cada indivíduo ou equipe, com o objetivo de estimulá-lo a continuar evoluindo para que possa criar protótipos, isto é, modelos que sirvam de exemplo para os outros colaboradores.
Poder do protótipo – Ao observar uma peça de teatro, às vezes experimentamos a necessidade de realizar o ato. Este fato acontece porque enquanto assistimos a uma apresentação, neurônios especiais denominados “espelhos” são ativados em nosso cérebro. Os neurônios espelhos são um grupo de células que estão relacionadas com os comportamentos empáticos, sociais e imitativos. Eles têm como missão refletir a atividade que nós estamos observando.
Uma das formas mais eficazes de aprendizagem andragógica é através da apresentação de modelos. Por isso, as práticas que queremos que nossos colaboradores aprendam precisam ser divulgadas e enfatizadas.
Igualdade e equidade – Para o sistema de meritocracia ser justo e funcional, é necessário que as pessoas envolvidas iniciem o processo nas mesmas condições, com as mesmas regras, interpretadas pelo mesmo ponto de vista. Com oportunidades iguais é premiado o desempenho ou atitude diferenciada com equidade, isto é, de forma imparcial, objetiva e sem julgamento.
Alguns estudiosos criticam a meritocracia, explanando que os resultados não dependem somente do esforço individual, mas também de oportunidades, como condições financeiras, acesso às melhores instituições de ensino e contatos profissionais exclusivos. Por esta razão, a meritocracia só pode ser aplicada em casos onde exista igualdade de condições, como colaboradores com o mesmo nível hierárquico, com funções semelhantes e que tenham sido contratados com o perfil e nível de conhecimento similar. Estes mesmos estudiosos não enxergam que a meritocracia está incorporada em nossa sociedade desde antes do nosso nascimento.
Todos nós já fomos gametas que venceram a corrida da vida até o óvulo, tivemos que nos “comportar bem” para receber presente do Papai Noel, competir com outros colegas para receber a atenção da menina mais linda da classe, realizar inúmeras provas para passar de ano, nos envolver em competições esportivas, prestar o vestibular e participar de uma seleção de emprego. Em quase todos os casos, não necessariamente partimos de condições de igualdade para atingir nossos objetivos.
A utilização da meritocracia deve somente ser implantada em condições singulares já mencionadas e com o objetivo de mudar algumas contraculturas enraizadas no inconsciente coletivo.
Contraculturas
1 – Colocar em cheque os valores do “mundo dos direitos” e do estado de bem-estar – Ao longo dos anos surgiram algumas pessoas reativas, acomodadas, despreocupadas em relação à origem do seu salário e esperando a ação do Estado, da sociedade e da empresa para a solução de seus problemas. Este tipo de colaborador representa a antítese do personagem que deve ser um professor de vanguarda: autônomo, competitivo, empreendedor, criativo, proativo, esforçado, que tem o trabalho como um dos valores centrais de sua existência, justamente por ser um educador. A ideologia meritocrática tem que colocar em seus ombros a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do seu desempenho, ignorando as outras variáveis para que não atuem como bodes expiatórios.
2 – Contracultura da cobrança – A procrastinação, isto é, o ato de adiar as coisas, está enraizada nas relações hierárquicas entre os líderes e os colaboradores das instituições de ensino. Alguns professores estão acostumados a responder às cobranças e não aos pedidos. A coordenação perde muito tempo cobrando e lembrando os professores para que estes não se esqueçam de entregar determinados projetos ou relatórios, como se fossem crianças, ao invés de se preocupar com coisas mais importantes, como analisar sua didática, postura e as relações interpessoais em sala de aula.
Esta infantilização das relações deve-se muito à formação PEDAgógica entre as partes, mesmo não havendo na relação nenhuma “PEDA” (criança em grego antigo) e sim “ANDRA” (adulto em grego antigo).
O pior é que em nome de um “pseudo-humanismo” é comum ocorrer um “perdão público” para as pessoas que não cumprem as tarefas e atividades nos prazos, desde que tenham uma justificativa convincente e que toquem o coração dos demais. A meritocracia reduz muito a procrastinação, pois as pessoas que não cumprem determinadas normas são penalizadas e a coordenação perde a função chata e frustrante de cobradora, passando a ser a mediadora.
3 – Escolas como sociedades democráticas e igualitárias – Não existe nada pior que viver em uma corporação injusta, cheia de privilégios, na qual impera o corporativismo, o “puxa-saquismo” e o revanchismo, onde para não ser demitido você tem que construir apenas seu network. Quando um plano meritocrático é instalado, todos têm acesso às mesmas oportunidades ou igualdade competitiva. Assim, o único elemento a diferenciar uma pessoa de outra são as características idiossincráticas de cada uma delas, ou seja, seus talentos, competências e força de vontade para atingir seus objetivos (desempenho individual).
4 – Mantenedores e coordenadores reclamam da falta de comprometimento e esforço – Em uma visão macro, trabalho duro, sucesso e dinheiro nunca fizeram parte da mesma trilogia no imaginário nacional.
Trabalho, na maioria das vezes, está associado à exploração e frustração; já sucesso e dinheiro, associado à sorte e corrupção, muito mais do que determinação, recompensa e investimento em longo prazo.
Este conceito nasceu na época da colonização brasileira. Os portugueses, diferentes dos americanos, eram predadores que exploraram ao máximo, e por muito tempo, os trabalhadores brasileiros, enquanto a colônia americana era orientada para a criação de uma sociedade pioneira, trabalhadora e progressista.
O Brasil nasceu com a visão de que o trabalho não está associado ao sucesso e sim à exploração. Ao longo do tempo a desigualdade social serviu para reforçar essa crença de que trabalho duro não muda nada.
No caso de instituições de ensino, as coisas pioram ainda mais, pois um dos motivos que impedem alguns professores de sairem da segurança da zona de conforto e se deparar com o desconhecido é o medo e a falta de costume, pois, algumas vezes quem está acostumado a ensinar acaba se esquecendo de como é aprender.
Para que o corpo docente sinta-se seguro ao se deparar com o novo, é necessário que a instituição tenha líderes fortes e eficientes. Além das práticas meritocráticas, uma liderança inspiradora é essencial para que as inovações sejam implantadas sem que gerem receio, desconfiança e insegurança.
Existem três formas de meritocracia: a meritocracia extrínseca com reconhecimento tangível, que premia com recompensas concretas, como dinheiro, presentes e viagens; a meritocracia extrínseca com reconhecimento formal ou intangível, que valoriza através do elogio falado, por escrito, pessoal, em público, comemorações, etc.; e a motivação intrínseca, que é quando o prazer está na realização da própria tarefa.