Podemos estar prontos para acolher o imprevisto, as mudanças de rota, as incertezas e as dificuldades, mas temos que concordar que diante da atual situação que o coronavírus trouxe, quase todos os paradigmas usuais e conhecidos foram quebrados, especialmente os relacionais, nos pressionando a um esforço a mais para expandir e colocar em prática as nossas competências socioemocionais, em especial o autoconhecimento, o controle das emoções, a resiliência, a cooperação, a empatia e os pensamentos novo, criativo, alternativo, original e inovador.
Essa emergência nos colocou frente ao desconhecido, fez tremer os alicerces da nossa vida e certezas, como a liberdade de movimento, as relações sociais, a forma de se comunicar e as modalidades de trabalho. Essas indefinições naturalmente criam ansiedade, colocando à dura prova o nosso raciocínio e a nossa lógica, os projetos, os desejos e elevando o estresse no nosso viver cotidiano, bagunçando o seu ritmo, seu tempo, seus hábitos e objetivos que nos dão segurança e sentimento de continuidade.
O tempo na escola, anteriormente tolerado e às vezes julgado e criticado, agora nos faz falta, assim como as salas, os ambientes conhecidos, a organização do tempo, os ritmos do dia, das atividades, o encontro com os outros e a segurança emocional que tudo isso nos proporciona. Percebemos mais do que nunca que ir à escola dava um ritmo ao dia a dia e reforçava a sensação de pertencer a um grupo e a uma comunidade. Pois é nesse ambiente que os alunos se encontram, interagem, se confrontam e começam a dar um significado e uma direção à própria vida.
Diante de todas essas reflexões, podemos constatar que a escola é um espaço fundamental para a vida social, para a participação e para o diálogo. No entanto, com a ausência deste local físico tão único e transformador, muitas perguntas vêm hoje à nossa mente: Como podemos viver essa situação? Como nossos filhos e alunos podem enfrentar a emergência? Como nos sentimos e que dificuldades experimentamos como professores e como pais?
O fechamento imprevisto das escolas criou uma sensação de instabilidade, de insegurança nos alunos, nas famílias, nos professores e nos educadores. Uma mudança no ciclo e na rotina da vida de todos. E para superar essa sensação, devemos encará-la como uma oportunidade, não devemos deixá-la passar sem tentar extrair dela ideias diferentes, projetos criativos, novas propostas sobre como fazer a escola e a educação de outras maneiras.
Agora que a escola está fechada, devemos encontrar uma outra forma de educação, precisamos de outros meios que nos permitam nos ver, nos ouvir, nos encontrar e a única ferramenta que temos disponível atualmente é o ensino a distância.Os canais on-line, as plataformas, os sites, as redes Facebook e WhatsApp e as videochamadas – frequentemente criticados no passado recente – hoje se tornaram nosso principal recurso, para manter relacionamentos e superar a sensação de isolamento. O ensino a distância é, agora, uma atividade que entrou nas escolas e nos lares e durará muito tempo, mantendo seu lugar nas modalidades de ensino.
Podemos aprender as diferentes modalidades do ensino a distância, experimentar novas formas de encontro entre escola e família, propostas educacionais adequadas para a idade das crianças, suas necessidades e possibilidades. Porém, precisamos manter claro o significado, o escopo e a intenção profunda de quando usamos essa forma de ensino – que é manter vivo nos alunos o sentimento de pertencer à comunidade escolar, suprir a necessidade de estar juntos, de compartilhar, de sentir-se parte de um grupo; dar continuidade a experiência escolar como possibilidade de encontro, de participação, de atenção, de troca e de escuta dos alunos, para romper a solidão e o isolamento em que se encontram atualmente e superar a falta de relacionamento com os professores e os colegas.
Educador, é preciso que os alunos sintam que você está lá com e para eles, que a escola está presente para confortar e tranquilizar os alunos e as famílias. Nesse momento – mais do que nunca – nós, professores, devemos ser portadores de serenidade e força, e não de insegurança e medo. O período que vivemos não é fácil nem simples, mas podemos superá-lo permanecendo juntos e considerando tudo isso uma oportunidade preciosa de aprendizado para professores, gestores, pais e alunos. Essa emergência vai passar, mas nossa força interior permanecerá ainda mais sólida!