Nos últimos anos, o Brasil cresceu significativamente em termos de conscientização sobre a acessibilidade. Mas, para tornar esse tipo de infor- mação viral é preciso disseminá-la por aqueles que mais têm sede de transformação: os jovens. As universi- dades assumem um papel fundamental para a construção de uma nação de fato mais participativa e inclusiva.
Infelizmente, hoje, menos de 1% das pessoas com deficiência conseguem cursar uma faculdade. Embora nos últimos tempos o ensino superior no Brasil tenha passado por transfor- mações significativas, a pessoa com deficiência ainda não se beneficiou. No último Censo do IBGE, quase 20 milhões de brasileiros com deficiência declararam possuir alguma ocupação. No entanto, somente 330 mil estão trabalhando com carteira assinada.
Muitas destas pessoas não tiveram sequer acesso à educação básica. Quando nos referimos a uma forma- ção superior a realidade é ainda mais desafiadora. É comum que as barreiras continuem a existir ao universitário com deficiência. Recebo muitos relatos de estudantes que não conseguem circular por muitas áreas do campus por falta de acessibilidade. Ou que tenham de ser carregados pelas escadas para as aulas em andares superiores, onde não há elevador. Este preparo por parte da instituição vai refletir na maneira como os outros alunos vão lidar com seus co- legas com deficiência. A informação em um lugar como a universidade é muito importante para engendrar o respeito e provocar o olhar para a outro. Além
disso, cursos como o de Arquitetura e Design devem ter em suas grades dis- ciplinas como Desenho Universal, além de conteúdos para se diagnosticar Autismo nos cursos de Medicina. Essa obrigação de conteúdos inclusivos é uma das propostas da Lei Brasileira da Inclusão (LBI), projeto que relatei e que pretendemos votar no início deste ano legislativo. A LBI ainda propõe a reser- va de 10% de vagas às pessoas com deficiência nos processos seletivos de cursos de ensino superior (graduação e pós-graduação), educação profis- sional tecnológica e educação profis- sional técnica de nível médio, em ins- tituições públicas federais e privadas.
Universalizar o ensino é dar acesso às pessoas aos espaços, mas aten- dendo suas diferentes necessidades. Como diria Mauro Chaves “A acessibilidade é o instrumento arquitetônico da dignidade”. Quantas pessoas com deficiência você conhece na sua universidade? Já foi atendido por um advogado cego? Ou teve aulas com um professor cadeirante, por exem- plo? Precisamos universalizar o ensino para universalizar as oportunidades.
Tá aí nossa primeira lição!
Mara Gabrilli é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo, vereadora na Câmara Municipal de São Paulo e atualmente é Deputada Federal pelo PSDB. Empreendedora social, fundou em 1997 o Instituto Mara Gabrilli, ONG que apoia atletas com deficiência, promove o Desenho Universal e fomenta pesquisas científicas e projetos sociais.