Desde a invenção do primeiro microprocessador, o 4004, em 1971, muita coisa mudou. O 4004 continha 2.300 transistores. O atual, Core i7, da Intel, contém 731 milhões deles. Essa revolução na microeletrônica provocou a quarta revolução na comunicação humana, a saber, a Revolução Digital (as três primeiras foram: a escrita, o alfabeto, a imprensa). A reorganização da informação nesse novo molde transformou as formas de trabalho e a organização das empresas; as maneiras de se ler e o mercado editorial; os modos de se ouvir música e o mercado fonográfico.
Agora, são as escolas que estão, definitivamente, sentindo que entrar em sincronia com a Era Digital tornou-se questão de sobrevivência. O modelo educacional ainda hegemônico funcionou bem para os parâmetros da Era Industrial, com suas salas de aulas padronizadas por faixa etária e nível de conhecimento; sua hierarquia rígida, sendo o professor reconhecido como o detentor da informação e responsável pela transmissão dos conteúdos. Hoje, esse modelo não tem mais relevância para o mundo real. Assim sendo, para se pensar em um modelo novo de escola, não bastará garantir uma infraestrutura tecnológica eficiente. O aspecto mais importante será o reposicionamento dos professores em relação ao saber e aos alunos, de modo a desenvolver competências necessárias à resolução de problemas do mundo real.
Nas sociedades configuradas tecnologicamente, a gestão do conhecimento é remodelada constantemente. Cada vez mais, multiplicam-se as fontes de enunciação e de produção de saber e esse é o mundo real para o qual a escola tem o dever de formar os alunos.
Nesse sentido, a fim desenvolver uma estratégia eficiente para integrar tecnologias à educação, é preciso ter discernimento quanto ao estado atual e às tendências do desenvolvimento tecnológico, assim como de que forma ele transforma as interações das pessoas entre si e delas com o mundo. Partindo desse pressuposto, fazer uso de mídia social, por exemplo, não deve ser uma forma de policiar os alunos de modo a zelar pela reputação virtual da escola, mas, antes, uma forma de desenvolver relacionamento com a comunidade, e, também, estar inserido em um contexto em que as palavras e as ações dos adolescentes encontram sentido. As crianças de hoje terão que ler e escrever com várias tecnologias, incluindo textos, ferramentas digitais, mídia social de diferentes formatos, frequentemente usadas em combinação entre elas, pois é por essas vias que o conhecimento circula no mundo real.
Em sala de aula, será preciso desenvolver, entre os estudantes e os educadores, uma cultura propícia ao uso do ambiente virtual como meio de aprendizagem e produção de sentido. Essa cultura deverá promover o discernimento sobre relacionamentos e comunidades online; condições de acesso à informação; formas de identidade digital; além de estimular ações capazes de garantir uma internet segura e de prevenir comportamentos nocivos como o cyberbullying e a dependência de jogos e redes de relacionamento.
Ser capaz de se posicionar diante da técnica não garante, todavia, resposta ao problema sobre qual a real educação para alguém que deseja ser produtor e não apenas consumidor; participante e não apenas espectador; agente e não apenas vítima em um mundo dominado por ideologia, risco, medo e incerteza. Como observa o linguista americano James Paul Gee, em seu recém-publicado The Anti-Educacional Era, não há indícios de que as escolas preparem as pessoas com recursos necessários ao confronto com o mundo moderno, como pensamento profundo e habilidade para resolver problemas complexos de forma colaborativa.
o autor, as escolas estão mais preocupadas em transmitir habilidades para diferenciar os alunos, tornaram-se especialistas em testes e contabilidades, e o Ensino Médio e universitário tornaram-se produtores de status, meros campos para credenciamento e titulação. Acrescentemos que, entre nós, brasileiros, frequentar uma escola de elite agrega, ao status, a marca do privilégio, ou seja, do pertencimento a um grupo que supõe a exclusão dos demais. Com isso, a educação deixa de ser uma força em prol da igualdade, um princípio fundamental das sociedades modernas.
Diante disso, as escolas que quiserem atuar como verdadeiras instituições educativas, e não centros empresariais, em muitos aspectos, terão que remar contra a maré.
Por Rodrigo Abrantes da Silva*
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