Nosso governo, nas últimas décadas, tem priorizado a educação do Ensino Médio e do Ensino Fundamental em detrimento aos primeiros anos de vida (de zero a 6 anos). Porém, estudos neurocientíficos de relevância e consenso evidenciam que o investimento nos primeiros períodos de desenvolvimento do cérebro é crucial. Ora, para ler e escrever, contamos com o cérebro, ambiente de estímulos, fatores sociais, físicos, psicológicos, neurocognitivos e educacionais.
Fica simples se usarmos a metáfora da construção de um prédio: se o solo não estiver firme e bem nutrido e as estruturas não forem feitas com qualidade de material, mão de obra e planejamento apropriado, o resultado da construção não será competente.
Remendos e “puxadinhos” não são competentes nem na estética e função, muito menos em qualidade.
Sabemos hoje, através das neurociências, que nascemos com quase 100 bilhões de neurônios e que os perdemos ao longo da vida. Nos primeiros anos de vida existem podas neuronais muitos significativas e que são vitais para a exuberância do desenvolvimento cognitivo. Mas por que perdemos neurônios? Para nos tornarmos inteligentes e competentes. A máxima “menos é mais” deve ter sido pensada a partir desta realidade cerebral, não é mesmo?
Nesta fase das primeiras grandes podas, o cérebro se encontra apto para algumas funções em detrimentos de outras. Por exemplo, entre zero e três anos o cérebro pode aprender mais de uma língua com muita facilidade e sem sotaque! Já o mesmo cérebro não consegue colocar uma linha na agulha. Cada fase tem uma importância ímpar. A natureza, com suas regras e pré-condições, é tão complexa e incrível que chega a maravilhar qualquer um, mesmo quem não se interessa por cérebro. Estimular, criar oportunidades, aproveitar as janelas de oportunidades e promover o desenvolvimento saudável é de grande valia e prioridade.
É importante ressaltar que da mesma forma que o cérebro tem possibilidades, também tem limites. Somos seres humanos e enquanto humanos não podemos voar. Podemos, sim, criar formas de voar, desenvolver recursos, estratégias etc. Inclusive, podemos voar com a imaginação, atividade bastante exclusiva, até então, de nossa espécie.
Outro exemplo: até por volta dos três anos de idade, se a criança não for estimulada a ver, enxergar, ou melhor, se for privada dos estímulos visuais, mesmo se não tiver lesões na área da visão, não poderá “ver”, pois a janela de oportunidade da visão se fecha nos primeiros anos.
Logo, a importância de se conhecer, estimular e prevenir desde a primeira infância é fundamental.
Por Adriana Fóz*
Ministra cursos e palestras por todo o Brasil sobre temas relacionados à neurociência na educação em suas diversas vertentes. Recentemente leva a palestra “Plasticidade Emocional” para o mundo corporativo, instituições e escolas. Em dezembro de 2012 lançou o livro “A Cura do Cérebro” (Editora Novo Século, 2012), onde narra a sua história de superação após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Mais informações: