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Guia para Gestores de Escolas

Especial Educação — A escola, a família e a sociedade

União necessária para a garantia da qualidade do ensino

Para que o trabalho nas instituições escolares obtenha resultados significativos a ação dos professores deve vincular-se ao Projeto Pedagógico da unidade escolar, e este deve ser discutido junto às famílias dos alunos. É necessário que as ações façam sentido, tenham significado a todos os envolvidos.

Vivemos um momento no qual o espaço escolar não pode mais restringir-se ao trabalho isolado da sala de aula. Os tempos são outros. Crianças na mais tenra idade são expostas a uma infinidade de estímulos sonoros, e convivem com as chamadas “novas tecnologias” (computador, internet, games, celulares) que exigem do professor, da unidade escolar e da família uma outra postura.

Além dos estímulos eletrônicos e sonoros, as crianças também estão expostas aos estímulos visuais que, na maioria das vezes, estão com o foco no sensualismo, no culto ao corpo, no incentivo ao consumo.

Existe uma gama de situações que imprimem no cérebro infantil repetidos estímulos com o claro objetivo de gravar conceitos e valores, os quais, infelizmente, na maioria das vezes, passam despercebidos da família e da própria escola. Passando despercebidos, estes conteúdos não são debatidos ou questionados e, desta forma, as crianças não recebem por parte da família os limites quanto a determinadas programações, ou o limite para o tempo no computador, ou ainda a reflexão em família ou na escola a respeito de determinados conceitos transmitidos pela mídia de forma geral.

Uma educação de qualidade não pode esquivar-se destes debates. Precisa garantir espaços no cotidiano escolar para a participação das famílias que, por sua vez, precisam considerar que a participação na vida acadêmica dos filhos é de fundamental importância para sua formação.

Heloisa Szymasnki ressalta a relevância de um trabalho sistematizado junto às famílias e que as práticas familiares “podem ser aprendidas e ou modificadas segundo uma proposta educacional e que os pais, enquanto educadores, podem ser sujeitos de um programa de formação”. (p. 30)

Importante considerar que, seres de relação que somos, dependemos das relações com os pares mais experientes, como nos ensina Vygotsky, para que desenvolvamos nosso próprio conhecimento. Muitos dos cuidados cobrados à família dependem destes aprendizados e, se os mesmos não foram construídos ao longo da história dos sujeitos que compõem a nova família, fazem-se necessários espaços que possibilitem estes aprendizados. A Escola também precisa identificar quem é o aluno que apresenta determinadas dificuldades em seu comportamento durante o período em que está na escola. Quais são as dificuldades apresentadas? Em que ambiente esta ou estas dificuldades se intensificam? Quem é a família deste aluno? Qual é a realidade social, econômica e cultural desta família? Quais encaminhamentos são possíveis?

Vivemos um momento no qual os valores de tolerância e convivência pacífica entre as pessoas parecem estar entrando em colapso. Talvez pela contradição existencial, onde as redes sociais são priorizadas, no entanto, o contato é virtual, nos distanciamos cada vez mais uns dos outros. Saímos de casa e muitas vezes sequer nos despedimos de nossos familiares, pois não podemos perder tempo. Com quantos vizinhos conversamos? Esbarramos com muitas pessoas em nosso trajeto até o trabalho, e com quantas trocamos olhares? A quantas desejamos um bom dia? Chegando ao nosso trabalho, como cumprimentamos aqueles que trabalham conosco? Como nos dirigimos ao nosso setor de trabalho? Enfim, vivemos um mundo que nos possibilita uma série de ferramentas capazes de encurtar espaços, que garantem a rapidez na comunicação, porém, estamos desaprendendo a conviver de forma real e próxima com nossos semelhantes. Somado a estas questões, os pais passam muitas horas fora de casa devido à carga horária e ao trajeto para o trabalho.

Muitos de nós, adultos, tivemos a chance de conviver mais proximamente com nossos familiares. Fizemos refeições juntos; ouvimos histórias; contamos estrelas; ajudamos a cuidar da horta e do jardim; aprendemos a dar banho no cachorro. Compreendíamos em um olhar que alguns momentos não eram para criança. Mas infelizmente, tantos outros não vivenciaram a metade destas experiências básicas de convivência. Experiências tais que nos possibilitam os mais importantes aprendizados, que são o de conviver; de cuidar; de tocar; de se perceber e perceber o outro, seja este outro nosso familiar, uma planta ou um animal.

Muitas vezes os alunos trazem expressões e comportamentos violentos que demonstram situações vivenciadas em seus lares. Fato que está tomando proporções alarmantes. É possível observarmos nos alunos, desde a Educação Infantil:

• Representações corporais e orais de cenas de filmes ou outras programações, assim como de situações sexuais inesperadas ao momento de desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.

• Comportamentos agressivos junto aos demais colegas de classe em variadas situações.

• Necessidade de dormir durante sua permanência na unidade escolar, o que demonstra que o horário de repouso no lar está aquém das necessidades biológicas da criança.

Estas e outras situações observadas nas Unidades Educacionais representam importantes conteúdos a serem trabalhados de forma educativa junto aos familiares responsáveis pelos alunos.

A unidade educacional precisa estar atenta a estas questões e ao planejamento de ações, para que desenvolva, de forma abrangente e significativa, temas que auxiliem no processo educacional da família, a qual precisa ser inserida no processo educativo, visando sempre a ampliação de conhecimentos que trarão maiores chances de desenvolvimento cognitivo e emocional aos componentes deste processo: educadores, educandos, familiares e a comunidade.

Os conhecimentos existentes em relação ao desenvolvimento do ser humano em suas várias etapas – que é conteúdo da formação de todo professor e, sendo assim, está presente no universo escolar – pode e deve ser trabalhado junto às famílias, de forma a ajudaremnas a compreender a importância de a criança ser atendida em suas necessidades principais de desenvolvimento emocional e cognitivo.

É um trabalho ousado e que, a médio e longo prazo, traz significativos resultados no desenvolvimento do trabalho dos professores e, consequentemente, dos alunos, e nas relações dentro da escola e da sociedade. Como não é uma ação comum na maioria das escolas, exige empenho e dedicação de todos os profissionais da unidade escolar. Primeiramente, a equipe de profissionais precisa compreender a proposta, pois é necessário construir uma nova dinâmica de trabalho. Talvez repensar espaços, horários e um sistema de ação.

O acolhimento aos familiares dos educandos considerando-os cidadãos que precisam também de orientações para desenvolverem melhor o seu papel na sociedade, favorece atitudes na Unidade Educacional, apartadas de pré-julgamentos e estereótipos que nada auxiliam no processo educativo. O afastamento da família da escola pode desencadear, algumas vezes, relações de rivalidade e, consequentemente, conflitos.

A escola influencia e é influenciada pela sociedade. Desta forma, precisa estar aberta para reflexões sobre as estruturas sociais, as transformações histórico-econômicas que atingem diretamente a família e, por consequência, a escola em sua totalidade: nas relações entre professores e alunos, alunos entre alunos, professores e familiares dos alunos e profissionais da escola e a comunidade.

A garantia de espaços e de profissionais com conhecimento para mediar estas reflexões é de grande urgência, pois o cotidiano nos revela a instalação de um sentimento de desesperança em relação ao papel da educação escolar nos rumos da sociedade.

Quanto aos profissionais envolvidos, estes apresentam sentimentos diversos, que pairam sobre a descrença no sistema, nas relações sociais e em seu próprio papel enquanto agentes facilitadores de novos conhecimentos, habilidades e competências.

Escola e sociedade precisam de ações urgentes, governamentais e civis, para que juntas possam construir espaços que ajudem a superar as contradições e que possibilitem ações objetivas na garantia de uma escola qualificada, segura e que cumpre a sua função social.

Referências bibliográficas
Gadotti, Moacir. Pedagogia da Práxis, 2001 3ª. Edição, Editora Cortez. Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 2001 30ª. Edição, Editora Paz e Terra. Szymanski, H. A relação família/escola desafios e perspectivas. 2ª Edição, 2007 Liber Livros.

Por Eliana Irena do Nascimento Menezes

Eliana Irena do Nascimento Menezes é Pedagoga pela Universidade Camilo Castelo Branco, com especialização em Saúde Pública pela USP. É psicopedagoga pela Universidade Cruzeiro do Sul e aluna do curso de Neuropedagogia pelo Instituto Saber Cultura em parceria com a Faculdade de Palmas, sob a coordenação da Profa. Maria Irene Maluf.

E-mail: [email protected]

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