O Impacto da Tecnologia na Educação
“Hoje a humanidade dispõe das melhores ferramentas de todos os tempos – graças à tecnologia, mídia digital, e mídia social – para agir de modo inteligente. Mas essas ferramentas não nos tornarão mais inteligentes por elas mesmas. Na verdade, de muitas formas, elas podem nos tornar estúpidos.” (James Paul Gee. The Anti-Educational Era, creating smarter students through digital learning)
Desde a invenção do primeiro microprocessador, o 4004, em 1971, muita coisa mudou. O 4004 continha 2.300 transistores. O atual, Core i7, da Intel, contém 731 milhões deles. Essa revolução na microeletrônica provocou a quarta revolução na comunicação humana, a saber, a Revolução Digital (as três primeiras foram: a escrita, o alfabeto, a imprensa). A reorganização da informação nesse novo molde transformou as formas de trabalho e a organização das empresas; as maneiras de se ler e o mercado editorial; os modos de se ouvir música e o mercado fonográfico.
Agora, são as escolas que estão, definitivamente, sentindo que entrar em sincronia com a Era Digital tornou-se questão de sobrevivência. O modelo educacional ainda hegemônico funcionou bem para os parâmetros da Era Industrial, com suas salas de aulas padronizadas por faixa etária e nível de conhecimento; sua hierarquia rígida, sendo o professor reconhecido como o detentor da informação e responsável pela transmissão dos conteúdos. Hoje, esse modelo não tem mais relevância para o mundo real. Assim sendo, para se pensar em um modelo novo de escola, não bastará garantir uma infraestrutura tecnológica eficiente. O aspecto mais importante será o reposicionamento dos professores em relação ao saber e aos alunos, de modo a desenvolver competências necessárias à resolução de problemas do mundo real.
Nas sociedades configuradas tecnologicamente, a gestão do conhecimento é remodelada constantemente. Cada vez mais, multiplicam-se as fontes de enunciação e de produção de saber e esse é o mundo real para o qual a escola tem o dever de formar os alunos.
Nesse sentido, a fim desenvolver uma estratégia eficiente para integrar tecnologias à educação, é preciso ter discernimento quanto ao estado atual e às tendências do desenvolvimento tecnológico, assim como de que forma ele transforma as interações das pessoas entre si e delas com o mundo. Partindo desse pressuposto, fazer uso de mídia social, por exemplo, não deve ser uma forma de policiar os alunos de modo a zelar pela reputação virtual da escola, mas, antes, uma forma de desenvolver relacionamento com a comunidade, e, também, estar inserido em um contexto em que as palavras e as ações dos adolescentes encontram sentido. As crianças de hoje terão que ler e escrever com várias tecnologias, incluindo textos, ferramentas digitais, mídia social de diferentes formatos, frequentemente usadas em combinação entre elas, pois é por essas vias que o conhecimento circula no mundo real.
Em sala de aula, será preciso desenvolver, entre os estudantes e os educadores, uma cultura propícia ao uso do ambiente virtual como meio de aprendizagem e produção de sentido. Essa cultura deverá promover o discernimento sobre relacionamentos e comunidades online; condições de acesso à informação; formas de identidade digital; além de estimular ações capazes de garantir uma internet segura e de prevenir comportamentos nocivos como o cyberbullying e a dependência de jogos e redes de relacionamento.
Ser capaz de se posicionar diante da técnica não garante, todavia, resposta ao problema sobre qual a real educação para alguém que deseja ser produtor e não apenas consumidor; participante e não apenas espectador; agente e não apenas vítima em um mundo dominado por ideologia, risco, medo e incerteza. Como observa o linguista americano James Paul Gee, em seu recém-publicado The Anti-Educacional Era, não há indícios de que as escolas preparem as pessoas com recursos necessários ao confronto com o mundo moderno, como pensamento profundo e habilidade para resolver problemas complexos de forma colaborativa.
o autor, as escolas estão mais preocupadas em transmitir habilidades para diferenciar os alunos, tornaram-se especialistas em testes e contabilidades, e o Ensino Médio e universitário tornaram-se produtores de status, meros campos para credenciamento e titulação. Acrescentemos que, entre nós, brasileiros, frequentar uma escola de elite agrega, ao status, a marca do privilégio, ou seja, do pertencimento a um grupo que supõe a exclusão dos demais. Com isso, a educação deixa de ser uma força em prol da igualdade, um princípio fundamental das sociedades modernas.
Diante disso, as escolas que quiserem atuar como verdadeiras instituições educativas, e não centros empresariais, em muitos aspectos, terão que remar contra a maré.
Por Rodrigo Abrantes da Silva*
*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.
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