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Guia para Gestores de Escolas

Doença social pode ser confundida com timidez

Mais de 90% das crianças com mutismo seletivo apresentam também uma fobia social ou ansiedade social, considerando alguns autores o mutismo seletivo como uma síndrome de Ansiedade Social, não estando claro ainda por que desenvolvem certos indivíduos os sintomas típicos da ansiedade social, sendo certo que as crianças/jovens com mutismo seletivo sentem um real medo de falar e de interagir em contexto social. Também podem ser incapazes de comunicar de uma forma verbal, ou de estabelecerem contacto visual e podem ficar paralisados de medo quando se vêem confrontados em certas situações sociais específicas. O modelo explicativo do quadro seguinte expõe o funcionamento do mutismo seletivo e os antecedentes e consequentes que interatuam com ele provocando-o, mantendo-o e reforçando-o.

Mutismo seletivo é um transtorno psicológico que ocorre principalmente na infância, caracterizado pela recusa ou incapacidade em falar em determinadas situações, mas em que o indivíduo compreende a linguagem e é capaz de falar normalmente em espaços onde se sinta seguro, usualmente dentro do ambiente familiar, sendo frequentemente considerada uma criança tímida.

O ingresso na escola torna-se um evento facilitador para a percepção da dificuldade da criança pois este, geralmente, apresenta-se como o primeiro meio social diferente do familiar que as crianças enfrentam, constituindo-se um cenário onde se tornam evidentes as dificuldades de interação e comunicação verbal. É importantíssimo que os educadores que atuam na Educação Infantil estejam atentos e possam colaborar no encaminhamento destas crianças, aparentemente tímidas, mas que vivenciam altos níveis de sofrimento.

Geralmente estas crianças permanecem retraídas e caladas mesmo após o período esperado de adaptação, podendo permanecer todo o período escolar sem poder solicitar ao educador ou outro adulto do ambiente escolar sequer um copo de água, ou permissão para ir ao banheiro. A timidez excessiva, o isolamento social, a dependência, o perfeccionismo, são indícios de sofrimento psíquico por parte da criança.

O primeiro caso de mutismo seletivo foi descrito em 1877 pelo médico alemão Kussmaul, que descreveu pacientes que, apesar de possuírem habilidades linguísticas necessárias para comunicação oral, escolhiam não falar em algumas situações, denominando-o “afasia voluntária”. A designação deste quadro foi alterada para “mutismo eletivo” Tramet, em 1934, para descrever um quadro em que há incapacidade de falar em algumas situações onde seria esperado que o fizesse, sugerindo que haveria uma decisão deliberada para não falar devido a características imaturas, controladoras e opositoras por parte da criança.

Porém, no século XXI, mudou-se o nome desta condição para mutismo seletivo, e passou-se a compreender que este quadro não se trata de um comportamento voluntario da criança, mas involuntário, passando a delinear-se um quadro com déficits específicos da funcionalidade e da ansiedade social.

Novos estudos vêm surgindo em torno deste tema, e sabe-se que o Mutismo Seletivo pode assumir variados padrões de manifestações, como por exemplo: a criança fala apenas com os pais; fala apenas com uma outra criança especifica; a crianças não fala com adultos em geral; limita-se a murmurar com poucas pessoas em algumas ocasiões especificas, dentre outras.

Os fatores envolvidos no desencadeamento de um quadro Mutismo Seletivo podem incluir características psíquicas, emocionais, orgânicas e ambientais, que dificultam ou até mesmo impedem o desenvolvimento da criança e a aquisição de competências emocionais, cognitivas e de interação social. Acredita-se que haja uma ligação entre fatores ambientais ( como depressão materna, superproteção parental, nível de autonomia, vergonha e ansiedade social sentida pelos pais, dentre outras) e intrínsecos da criança (alterações intrapsíquicas como traumas emocionais, conflitos não resolvidos, ansiedade de separação, sentimentos de abandono e dependência, fragilidade frente a impulsos instintivos, mecanismos de medo e insegurança, dentre outros) que culminem no aparecimento do Mutismo Seletivo.

As crianças com Mutismo Seletivo sofrem de níveis elevados de ansiedade social e timidez e frequentemente manifestam sintomas de fobia social e desordem de evitação e ansiedade. Alguns autores consideram o Mutismo Seletivo um subtipo da fobia social, sendo este o transtorno de ansiedade mais prevalente segundo estudos epidemiológicos. Estudos científicos atuais identificam 4 subtipos de Mutismo Seletivo: Mutismo Seletivo simbiótico, caracterizado por uma relação simbiótica com o cuidador por um lado, e relação negativa e manipuladora em relação aos restantes; Mutismo Seletivo com fobia para falar, caracterizada pelo medo de escutar a própria voz, acompanhado de comportamentos obsessivos e compulsivos; Mutismo Seletivo reativo, caracterizado por timidez, retraimento e depressão, que aparentemente são resultantes de um acontecimento traumático na vida da criança; Mutismo Seletivo agressivo, caracterizado por um uso hostil do silencio, como se este fosse uma arma.

A identificação do problema é difícil e muitas vezes tardia, por volta dos 3 ou 4 anos de idade, sendo comum o encaminhamento destas crianças para tratamento após meses ou até mesmo anos de mudez, pois os pais tendem a supor tratar-se apenas de timidez, que com o tempo passa, até que os prejuízos acabam se tornando mais visíveis e significativos. É importante que os pais fiquem atentos aos principais sintomas, pois quanto mais precocemente for realizado o diagnóstico e a intervenção, melhores as chances de desenvolvimento psíquico, emocional, cognitivo e social da criança.

Como principais sintomas a serem observados pelos pais podemos destacar: excessiva timidez, medo, ansiedade exagerada em situações novas ou na presença de pessoas estranhas, incapacidade de comunicação oral em situações onde é esperado que esta ocorra, desenvolvimento de formas alternativas de comunicação, como gestos, expressões faciais, movimentos corporais dentre outros enquanto no contexto familiar a criança brinca e fala livremente sem qualquer tipo de constrangimento, não demonstrando ansiedade, timidez ou medo; no início da vida escolar pode manifesta recusa em ir à escola, dificuldade para separar-se dos pais, choro e gritos, desejo de fuga da escola, queixas de dor de barriga ou de cabeça, inquietação, perturbações de sono, irritabilidade, dentre outros. Importante destacar que há casos em que o Mutismo Seletivo aparece no início do 3º ciclo, entre os 11 e os 15 anos, quando normalmente desencadeiam-se os quadros de ansiedade.

O diagnóstico deve ser realizado por equipe interdisciplinar para realização de uma avaliação dos aspectos psíquicos, emocionais, sociais, cognitivos e intelectuais da criança. O tratamento é realizado através de psicoterapia, envolvendo a criança, a família e a escola.

SERVIÇO:

Ana Paula Magosso Cavaggioni psicóloga da Clia Psicologia e Educação

Psicóloga Clínica – Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Especialização RAMAIN – Cari Psicologia e Educação

Especialização DIA-LOG – Cari Psicologia e Educação

Pesquisadora convidada do IPUSP – Departamento de Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade.

Diretora da Clia Psicologia e Educação

www.cliapisicologia.com.br

(11)4424-1284 / (11)2598-0732

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