Estudo levanta aspectos socioemocionais de professores brasileiros
Eles não se sentem preparados, muito embora estejam academicamente bem qualificados, para lidar com as questões de relacionamento com os alunos
Apesar de bem qualificados, professores revelam: muitas vezes não se sentem preparados para o dia a dia da sala de aula. Foi o que constatou um estudo inédito realizado pela Comunidade Internacional de Cooperação na Educação (MindGroup) com professores de 11 estados do Brasil, mais o Distrito Federal.
O professor passa muitos anos se preparando para a docência: 66% dos pesquisados têm especialização Lato-Sensu e 13% investe em mestrado e doutorado, mas o dia a dia da sala de aula vai muito além dos livros. A pesquisa revelou que 68% dos docentes demonstraram ter alguma dificuldade de vínculo com seus alunos: 1 em cada 3 professores percebem-se com um alto nível de dificuldade.
Não é à toa que a motivação desses professores está em baixa e o aumento da ansiedade surpreende até os mais experientes. O estudo apontou que cerca de 74% dos profissionais da rede pública mostraram traços de desmotivação e ansiedade, o que reflete diretamente na autoeficácia, ou seja, confiança em si mesmo, sendo que mais de 50% dos professores pesquisados revelaram um dado alarmante: eles admitem ter baixa autoconfiança.
Mas o que gera tudo isso? Qual é o impacto no dia a dia da sala de aula do professor e no processo de aprendizagem do aluno?
A construção de vínculo aluno-professor é o primeiro passo para uma relação de confiança e aprendizagem. Quando isso está comprometido, a chance de sucesso para ambos os lados diminui consideravelmente. “É como uma bola de neve”, afirma a Anita Abed, respeitada consultora da UNESCO, psicóloga, psicopedagoga, mestre em psicologia e uma das autoras do estudo. “O professor sofre pressões de cobrança das instituições, transferência de responsabilidades das famílias, escassas ferramentas de suporte e baixo investimento em programas de engajamento e formações mais práticas. Isso faz com que os educadores se sintam despreparados, desamparados e desmotivados, o que pode impactar na implementação de uma aula com maior nível de qualidade”, complementa Anita Abed.
Devido aos fatores socioemocionais sofridos pelos professores, a aula de qualidade passou a ser um desafio para grande parte deles: o estudo apontou que cerca de 40% dos docentes apresentam dificuldade de aplicar o conhecimento que têm, reflexo também gerado pela dificuldade de planejamento das aulas, principalmente na rede pública, onde 7 de cada 10 professores pesquisados relataram algum nível de dificuldade neste quesito fundamental para a prática docente.
Os dados são alarmantes, mas existe uma luz no fim do túnel. “Quando os professores passam por este tipo de autorreflexão e as lideranças das escolas tomam consciência de que precisam tratar o problema, ou seja, cuidar de quem cuida, nota-se um grande salto nos indicadores”, revela Sandra Garcia, pedagoga, mestre em psicologia e autora do livro Mediação da Aprendizagem “Os professores precisam de apoio para enfrentar o dia a dia da sala de aula e isso só funciona se for implementado um programa prático e orientado, para que ele possa assumir a autoria de sua docência. Percebemos que com isso, não apenas a prática do ensino melhora, mas também a relação com os alunos, seus familiares e consequentemente sua motivação e auto valorização”, complementa Sandra Garcia.
Outro aspecto fundamental para endereçar este problema está nas políticas públicas e investimentos em educação. O estudo demonstrou que municípios que investem neste tipo de abordagem apresentaram saltos de engajamento por parte dos professores, o que impactou diretamente na aprendizagem dos alunos em disciplinas como matemática, português e ciências.
Para Tadeu Ponte, um dos autores do estudo e estatístico responsável por diversas pesquisas na área educacional, “um estudo como este revela a composição do quadro educacional brasileiro e indica que é possível fazer melhorias se pensarmos e trabalharmos a longo prazo”.
O Estudo revela vários outros indicadores relevantes que podem contribuir com a educação brasileira. Ele está integralmente disponível no site www.mindgroup.cc/publicacoes.
Sobre a MindGroup – A Comunidade Internacional de Cooperação na Educação (MindGroup) é composta por instituições de ensino, lideranças governamentais e não governamentais interessadas em promover a produção de conhecimento e troca de experiências por meio de simpósios, reuniões técnicas, estudos, pesquisas e publicações diversas no campo educacional. Todos que fazem parte dessa comunidade compartilham da visão de que é preciso cooperar para que a educação forme os cidadãos com as habilidades e as competências de que tanto precisamos.