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Guia para Gestores de Escolas

Como erradicar o bullying e promover a igualdade e o respeito nas escolas?

Intimidação, humilhação, insultos, apelidos jocosos, ataques físicos, ameaças e tantas outras práticas negativas são consideradas bullying. Essa agressão – intencional e repetitiva – está enraizada em fatores e mudanças sociais e culturais. Nesse contexto, deve ser analisada de maneira cautelosa, propondo aos alunos uma reflexão densa sobre respeito, diversidade e liberdade.

Por Rafael Pinheiro

O termo bullying (bully = “valentão”), de origem inglesa, foi adotado no Brasil em sua forma original. Márcia Zenker, educadora, professora, psicóloga clínica e consultora da Humus, diz que “todos os atos violentos, intencionais, que se tornam repetitivos, de um agressor ou de um grupo agressor, dirigidos a uma pessoa (vítima)”, são práticas características do bullying.

O aluno que sofre atos discriminatórios, insultos, humilhações, ameaças e ataques físicos recorrentes pode apresentar consequências relevantes, principalmente no progresso escolar – e social. “A vítima pode desenvolver baixa estima, enfraquecer seus recursos psíquicos para se defender do agressor, isolar-se, começar a se desinteressar pelos estudos, desenvolver medos, entrar em depressão, pedir para mudar de escola, cometer suicídio, dentre outras coisas”, diz Márcia.

Já o agressor, segundo a especialista em educação, pode se tornar um adulto extremamente agressivo e violento em vários ambientes: familiar (violência doméstica), no trabalho, nas relações sociais não formais, etc. Ou seja, esses atos – tanto para quem pratica, como para quem recebe – traz influências que acompanharão um longo trajeto que ultrapassa os muros da escola.

Para romper essa (triste) realidade de violência, que atinge inúmeros alunos em todo o país, certas medidas devem ser tomadas com o intuito de erradicar essas ações, promovendo a igualdade, o respeito às diferenças e o conhecimento do outro como fonte de descobertas e experimentações saudáveis.

O Colégio Friburgo, localizado na região sul da capital paulista, investe em prevenção e estimula a discussão aberta com todos os atores da cena escolar, incluindo pais e alunos. Além do trabalho constante dos educadores na aceitação das diferenças. “Conversar com os alunos e escutar atentamente as reclamações, incentivar atitudes dos alunos no combate ao bullying, interferir nos grupos quebrando a dinâmica do bullying, incentivar a solidariedade e respeito às diferenças através de conversas, ações e desenvolver um ambiente propício ao debate aberto são nossas ações. Observar com atenção o comportamento dos alunos, dentro e fora de sala de aula, e perceber se há quedas bruscas individuais no rendimento escolar também faz parte de nosso dia a dia”, ressalta Ciro de Figueiredo, Diretor Geral e Gestor do Colégio Friburgo, Casinha Pequenina e Maple Bear Granja Julieta.

De acordo com o diretor do colégio, as reuniões de pais e os encontros entre família e escola são, de certa forma, ocasiões especiais para trazer à tona questões atuais e emergentes – como o bullying, por exemplo. “Palestras com profissionais especializados também são promovidas periodicamente para favorecer que a comunidade escolar – professores, gestores, alunos e familiares – ampliem seu olhar para a questão e estejam preparados, não só para identificar o bullying, como para agir rapidamente no sentido de interrompê-lo quando necessário”, destaca.

PLANO DE AÇÃO

A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência (Abrapia) produziu uma cartilha com o tema “Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes” e apresenta, entre outros tópicos, estratégias sugeridas para redução do bullying nas escolas. A cartilha aponta sete etapas a serem cumpridas para implementação de um programa anti-bullying. Primeira etapa: Pesquisar a realidade.

Primeira etapa: PESQUISANDO A REALIDADE – Resume-se na aplicação de um questionário de pesquisa com a participação de todos os alunos da escola, antes de receberem qualquer tipo de informação sobre o bullying. O questionário deve ser aplicado simultaneamente em todas as turmas de um mesmo turno, evitando a troca de informações nos corredores, ou a possível intimidação de alguns alunos-alvos de bullying.

Os resultados dessa aplicação vão determinar a prevalência, incidência e consequências do bullying em cada escola. Seus dados caracterizam a percepção espontânea dos alunos sobre a existência de bullying e seus sentimentos sobre isso. Nem mesmo os professores devem estar cientes sobre o tema. No momento da aplicação do instrumento, deve-se entregar a cada um deles um comunicado, explicando o objetivo da pesquisa e fornecendo algumas orientações sobre a metodologia utilizada.

Segunda etapa: EM BUSCA DE PARCERIAS – Uma vez analisados os resultados, todo o corpo docente deve ser informado e incentivado a discutir suas implicações, definindo que estratégias devem ser utilizadas durante o processo de divulgação e sensibilização dos alunos.

Terceira etapa: FORMANDO UM GRUPO DE TRABALHO – Esse grupo deve ser composto por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, incluindo professores, funcionários, alunos e pais. Com base na realidade percebida por seus membros e com o auxílio dos dados da pesquisa, serão definidas coletivamente as ações a serem priorizadas e as táticas a serem adotadas.

Quarta etapa: OUVINDO OPINIÕES – As propostas definidas pelo Grupo de Trabalho poderão ser submetidas a todos os alunos e funcionários, permitindo-se que sejam dadas sugestões sobre os compromissos e ações que a comunidade escolar deverá adotar para a prevenção e o controle do bullying.

Quinta etapa: DEFININDO OS COMPROMISSOS – A definição da relação final dos compromissos e prioridades poderá ser feita em assembleia geral contando com todos os alunos, professores e funcionários ou, apenas, pelo Grupo de Trabalho.

Sexta etapa: DIVULGANDO O TEMA – Os compromissos e prioridades deverão ser amplamente divulgados. Diversas cópias serão afixadas em vários locais da escola.

Sétima etapa: INFORMANDO AOS PAIS – Os pais serão informados sobre os objetivos do projeto por meio de comunicados ou utilizando espaços dentro de reuniões organizadas pelas escolas.

Trabalhar para erradicar os atos discriminatórios no processo educacional é projetar caminhos da liberdade, do respeito às diferenças e celebrar a heterogeneidade entre alunos. Inserir e (re)adaptar ações para a promoção de um ensino e convivência igualitária não é tarefa fácil, já que permanecemos durante longas décadas enraizados em padrões tradicionais que perpetuaram e formaram várias gerações.

Mas, observando por outro lado, quebrar essas práticas é uma forma de estabelecer em um futuro próximo uma relação agradável e respeitosa. “O principal combustível do bullying é o silêncio. Procuramos transformar o conflito em uma reflexão para o avanço no conhecimento sobre a compreensão da vida”, completa Ciro.

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