fbpx
Guia para Gestores de Escolas

Mediação de conflitos na escola

Hoje, instituições de ensino em todo o mundo investem esforços na coesão do grupo e na mediação de conflitos por parte dos alunos. Assim, buscam garantir um trabalho sistemático e educativo em prol da convivência que parte da concepção do conflito como algo natural que faz parte da vida de todas as pessoas e que, por si só, não é positivo nem negativo. Quando o conflito se transforma em violência, fica claro que é destrutivo, enquanto se abordado de forma dialógica, criativa e colaborativa, as soluções são transformadoras, melhoram a vida das pessoas e as ajudam a amadurecer.

Para ter uma equipe de mediação no jardim de infância, escola primária ou secundária, os professores devem ser treinados a adquirir habilidades de comunicação efetiva e afetiva, métodos de negociação colaborativa, gestão de emoções e sentimentos, criação de alternativas e consensos etc. desenvolver seu perfil de mediador e aplicá-lo, principalmente, à gestão de sala de aula. Em seguida, os alunos também devem ser treinados a aprender as etapas da mediação e conhecer as ferramentas básicas para mediar um conflito entre iguais. Também é conveniente conscientizar as famílias sobre o compromisso da escola em enfrentar os conflitos de forma proveitosa, informando-as sobre os princípios da mediação e, ainda, convidando-as a se capacitarem em técnicas positivas de resolução de conflitos.

A partir daqui o serviço de mediação do centro pode ser iniciado adotando uma destas três modalidades: uma equipe mediadora composta apenas por alunos (mediação entre iguais), uma equipe mediadora composta apenas por professores, ou uma equipe mediadora mista formada tanto de adultos (professores e famílias) quanto de meninos e meninas. Na escola, é normal que os mediadores trabalhem em pares (co-mediação), de modo que dependendo se se trata de um tipo de conflito ou de outro, cabem a eles a mediação de dois alunos, um professor e um aluno ou um casal de professores.

As avaliações dos programas de mediação escolar são muito positivas. A comunidade educacional verifica se a escola oferece aos alunos que se envolveram em comportamentos negativos a oportunidade de se responsabilizarem pelos danos causados, de fazerem as pazes e de aprenderem novas estratégias para serem mais eficientes no enfrentamento de um problema. Essas meninas e esses meninos confessam que a mediação os ajudou a entender melhor o conflito, e que o fato de não se sentirem julgados e ter que se colocar no lugar do outro os fez perceber o erro que cometeram. Sempre afirmam que aconselhariam o restante dos alunos a recorrerem à mediação caso houvesse algum problema. Os alunos da mediação também têm uma opinião positiva sobre o exercício da mediação, pois os mediadores dizem que se sentem úteis e vale a pena ver como aquelas pessoas que chegam ao serviço de mediação totalmente confrontadas aos poucos vão conseguindo encontrar uma saída onde todos ganhem. Meninas e meninos de mediação utilizam técnicas de mediação em casa, em grupos esportivos e em espaços de lazer e, principalmente os adolescentes, sentem-se empoderados porque não precisam mais recorrer ao adulto para resolver seus problemas. Já os docentes costumam declarar ter uma visão mais positiva do corpo discente, por isso constroem laços mais fortes com os alunos. Os professores também admitem que estratégias positivas de gestão de conflitos são muito úteis para dar aulas e até mesmo usá-las em casa e na vizinhança.

Talvez alguém ainda se surpreenda com a existência de programas de mediação na infância, mas a verdade é que as crianças pequenas são “mediadores naturais” porque, na realidade, têm menos violência a desaprender do que os adultos. Nessas primeiras idades, em vez de falar em “mediar”, falamos em “fazer as pazes”, e quando surge um problema vão para as “cadeiras para fazer as pazes” (numa delas está pintada uma boca e na outra uma orelha). É muito claro quem está falando e quem está ouvindo. Os que estão em conflito trocam cadeiras quantas vezes forem necessárias até que ambos expressem como se sentem e o que os incomoda, compartilhem ideias, geralmente criativas e inovadoras, e construam soluções. O processo termina com um abraço e a satisfação de poder manter a amizade apesar de tudo.

Num mundo tão complexo e numa época tão incerta como essa em que vivemos, precisamos mais do que nunca que as novas gerações sejam formadas para serem “zeladoras da vida”, ou seja, para escolher a solidão, o comum bom, reparação e reconciliação.

Maria Carme Boqué Torremorell é professora, pós-graduada em mediação e resolução de conflitos e doutora em Pedagogia. Atualmente é professora titular da Universidade Ramon Llull, em Barcelona, e pesquisa temas como cultura de paz, participação democrática, cidadania, convivência escolar e gestão positiva de conflitos. Autora de “Mediação de conflitos na escola – Modelos, estratégias e práticas” (Summus Editorial), recém-lançado no Brasil.

Receba nossas matérias no seu e-mail


    Relacionados