Escolas precisam combater o analfabeto funcional do dinheiro
Analfabetismo funcional é um termo que infelizmente a cada dia vai se materializando no Brasil, mostrando nossas deficiências em relação a educação. Assim, acredito que seja importante também explanar os impactos desse termo e sua similaridade com o que sempre tivemos na educação financeira.
O termo “analfabetismo funcional” se refere ao tipo de instrução em que a pessoa passou pelo processo educacional, tendo aprendido conceitos básicos, contudo, é incapaz de ações como interpretar o que lê, usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair sentido das palavras, nem colocar ideias no papel por meio do sistema de escrita, como acontece com quem realmente foi alfabetizado.
Não vou me aprofundar no universo da educação, porém fica nítido que, na educação básica, em especial a pública, já há décadas em que o nível de ensino vem se deteriorando em sua qualidade.
Podemos atribuir esses problemas aos governos e líderes, que ao longo dessa trajetória não deram a devida atenção em umas das pastas mais importantes de um país: a educação.
É fácil entender esse problema, sendo que a escolas do ensino básico públicas, onde estão mais de 80% das crianças e jovens, em alguns estados tem como regra que um aluno não poderia ser reprovado, ou seja, independente de seu desempenho, ele deveria passar para o próximo ano e assim está até hoje.
Não preciso tecer comentários sobre tal política, pois os seus resultados estão aí, cada dia mais aumentam os analfabetos funcionais no Brasil. Mas, quero chamar aqui a atenção também para algo muito similar, que já acontece há décadas no Brasil e que passou desapercebido. Estou falando dos milhões de brasileiros que são analfabetos funcionais em relação ao dinheiro.
Por mais que o termo gere dúvidas, explicando se pode entender melhor. A pessoa desde quando criança, tem o acesso ao dinheiro de formas diversas, seja quando o recebe para comprar alguma coisa que deseja ou necessita, seja em mil outras situações. Mas, quais orientações que foram passadas nesses momentos?
Na verdade, quase nenhum, no máximo, traga o troco ou faça a conta certa. Veja, não lembramos muito como fazíamos com o dinheiro que passava naquela época pelas nossas mãos e, mais importante, veja que ainda não estávamos alfabetizados, não sabíamos com três, quatro e cinco anos nem ler e tão pouco escrever.
Mas essa situação tem um agravante. No ensino básico as crianças e os jovens já têm aulas de diversas disciplinas como português, ciência, história, geografia e principalmente matemática, mas não aprende educação financeira. Mas muitas pessoas pensam que ao aprender matemática se aprende sobre esse tema, aprendendo a fazer contas, conhecer o valor de cada nota ou moeda, aritmética, fazer as quatro operações básicas, dentre outros temas. Mas, isso não é educação financeira.
Depois, quando adultos as pessoas aprendem a fazer operações financeiras, como TED, PIX, Cartão de Crédito, Crédito Consignados, Financiamentos, Aplicações financeiras e até Criptomoedas. Contudo, um importante alerta, apesar disso, muitas vezes essas pessoas vivem o analfabetismo financeiro funcional. Pois esses temas se relacionam as finanças pessoais e não educação financeira.
Em nenhum momento os responsáveis e professores estavam habilitados e tão pouco preparados em relação ao verdadeiro sentido do dinheiro e o importante papel que esse exerce em todas as fases das vidas. Estou falando de sua finalidade. O que queremos de verdade do dinheiro? Gastar ou guardar?
Aprender matemática é muito importante, mas não aprende sobre o comportamento, muito menos se ensina sobre a busca do equilíbrio e autonomia em relação ao dinheiro e seu papel verdadeiro de meio e não fim. Muito se ensinou que o dinheiro deveria ser o fim, isso porque ele ao longo do tempo acabou se tonando o objetivo maior, ganhar dinheiro.
Isso potencializa o gastar, deixando de lado a importância de guardar, poupar e atrelar esse dinheiro a desejos, sonhos e necessidades. Assim, a criança sempre priorizou o consumo, sem qualquer equilíbrio, as tornando analfabetas funcionais do dinheiro, como podemos ver com o imenso número de inadimplentes no mundo.
A educação financeira traz um jeito diferente de entender o verdadeiro sentido da representatividade do dinheiro. Também trouxe um olhar, onde as contas aritméticas continuam importantes, mas, se trabalha o comportamento e hábitos em relação ao uso do dinheiro, também traz o equilíbrio entre consumir e sonhar. Fazendo, assim, com que se entenda a importância da reserva financeira.
Felizmente existe esperança, sendo que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trouxe em 2020 a obrigatoriedade de trazer o tema educação financeira como transversal para as grades curriculares. Mas já afirmo que essa iniciativa não contribui com mudanças profundas, trata-se de algo ainda muito rudimentar e frágil. É preciso de uma política pública que possibilite a entrada de uma ciência financeira comportamental, com isso se tem mais chances de transformar as próximas gerações.
Lembrando que existe um novo conceito sobre o tema, que é: “Educação Financeira é uma ciência humana que busca a autonomia financeira, fundamentada por uma metodologia baseada no comportamento, com o objetivo de construir um modelo mental que promova a sustentabilidade, crie hábitos saudáveis e proporcione o equilíbrio entre o SER, o FAZER, o TER e o MANTER, com escolhas conscientes para a realização de sonhos e necessidades”.
Enfim, é preciso que as pessoas passem a se preocupar sobre o tema, buscando observar se não sofre com os efeitos da falta de educação financeira. Caso se perceba que tem essa deficiência a pessoa deverá mudar essa situação buscando pela sua alfabetização para não cair no universo do analfabetismo financeiro funcional.
É preciso investir no “eu financeiro”, e por saberes que possam proporcionar uma vida saudável e sustentável financeiramente, que possibilite a realização plena de tudo que se deseja.