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Guia para Gestores de Escolas

Celulares limitados em sala de aula: quais os efeitos da Lei nº 4.932/2024 no cotidiano escolar?

Por Rafa Ella Pinheiro / Fotos Divulgação

O uso de aparelhos celulares no espaço escolar alcançou o centro de intensos debates, motivados, sobretudo, por aspectos negativos que a intensa utilização de smartphones e a alta exposição de estudantes diante das telas podem afetar em todo o processo e desenvolvimento estudantil

Em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Projeto de Lei nº 4.932/2024, que restringe que estudantes utilizem celulares durante as aulas, nos recreios e intervalos. A medida entrou em vigor já neste ano letivo de 2025. A lei sancionada, que abrange as escolas públicas e privadas de educação básica, tem como objetivo “proteger a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes”.

Embora a nova legislação limite a utilização de celulares, o uso de tecnologias de informação na educação, como a Política de Inovação Educação Conectada (PIEC) e a Política Nacional de Educação Digital (PNED), que têm em vista a utilização de tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica, além de garantir a educação digital como um componente curricular, serão mantidos. Com isso, a nova lei permite – em caráter de exceção – o uso de celulares em sala de aula para fins pedagógicos/didáticos acompanhado por professores/as, e/ou para estudantes que necessitem de recursos de acessibilidade.

Para adentrar nas discussões que envolvem essa temática, principalmente nos efeitos diretos que a Lei nº 4.932/2024 podem impactar no cotidiano escolar e no desempenho estudantil, produzimos um especial nesta edição com falas de diversos profissionais da área abordando os aspectos que serão sentidos nas escolas. Confira!

Brenda Prata – Especialista de Advocacy no Instituto Ayrton Senna

“A proibição do uso de celulares nas escolas busca promover um uso mais consciente e equilibrado da tecnologia pelos estudantes, gerando impactos significativos na educação brasileira. Um dos principais efeitos esperados é a melhoria na concentração e no desempenho acadêmico, já que a redução das distrações tende a aumentar o foco dos alunos nas atividades pedagógicas. Pesquisas recentes apontam que o uso excessivo de smartphones pode comprometer diversas habilidades cognitivas, como atenção e raciocínio, além de afetar competências socioemocionais, especialmente a regulação emocional e a capacidade de manter o foco. No âmbito do aprendizado, dados do Pisa 2022 indicam que 65% dos estudantes da OCDE relatam dificuldades de concentração devido ao uso de dispositivos digitais durante as aulas de matemática, com índices ainda mais elevados em países como o Brasil (acima de 80%). Além disso, 59% dos alunos afirmam que o uso de celulares pelos colegas os distrai, comprometendo seu desempenho acadêmico. Estima-se que essas distrações possam resultar em uma perda de aprendizado equivalente a três quartos de um ano letivo em matemática.

Outro impacto esperado da nova legislação é o estímulo à interação social entre os estudantes. Sem a presença constante dos celulares, há uma tendência de maior engajamento em atividades coletivas, como jogos e conversas nos intervalos, fortalecendo habilidades sociais e promovendo um ambiente escolar mais colaborativo. Estes espaços devem ser privilegiados pois a educação passa pela interação dos estudantes com seus professores e colegas. Além disso, a restrição do uso excessivo de telas pode contribuir para a saúde mental dos alunos, uma vez que pesquisas indicam que a exposição prolongada a dispositivos digitais está associada a um aumento nos casos de ansiedade, depressão e isolamento social entre crianças e jovens.

Para que esses benefícios se concretizem, os sistemas educacionais precisam estabelecer diretrizes claras sobre a implementação da medida. É fundamental gerenciar a transição através de ações como uma comunicação eficaz com alunos e famílias, capacitação de professores e definição de normas para o uso pedagógico das tecnologias. Por ser um movimento novo, precisaremos ainda diálogo, trocas e acompanhamento da implementação.”

Brenda Prata – Especialista de Advocacy no Instituto Ayrton Senna

 

Juliana Diniz – Diretora de Negócios da Start Anglo Bilingual School

“Reconhecemos que essa mudança traz desafios, especialmente em relação à comunicação entre famílias e alunos. Nos primeiros dias após a proibição, observamos um aumento nas solicitações de contato através da secretaria escolar, devido à preocupação dos responsáveis em manter o contato. No entanto, em poucos dias foi possível se adaptar à nova dinâmica, mantendo a confiança nos canais institucionais para qualquer necessidade. Apesar dos desafios, os ganhos já são notáveis: a escola tem mais barulho, mais risadas, conversas e brincadeiras.

Para equilibrar as rotinas das famílias com a proposta pedagógica, criamos a Mobile Zone em uma das nossas unidades, um espaço onde os alunos podem fazer uso rápido dos celulares, antes e após as aulas, para recados aos responsáveis. A ideia para esse ambiente é que a segurança dos alunos também seja preservada, evitando que fiquem na rua, usando os dispositivos para chamar um carro de aplicativo, por exemplo. Nele, os estudantes podem utilizar o celular por até cinco minutos, sob supervisão, garantindo que as demandas sejam resolvidas. Para questões mais complexas, é indicado o uso do telefone fixo da escola, assegurando um suporte adequado em todas as situações.

Além dos aspectos organizacionais, a restrição ao celular também reforça a importância do desenvolvimento socioemocional. Aprender a lidar com a ausência do aparelho exige autorregulação, resiliência e maturidade emocional – competências essenciais para enfrentar desafios dentro e fora do ambiente escolar. Apesar dos ganhos com a restrição, como educadores, acreditamos que não basta apenas isso para o processo de desenvolvimento das crianças e jovens. A escola e a família também precisam cumprir seu papel educativo, fomentando reflexões sobre as consequências do uso inadequado de tecnologias e, acima de tudo, formando cidadãos digitalmente conscientes e que saibam fazer uso destes recursos, que fazem parte do seu contexto.”

Juliana Diniz – Diretora de Negócios da Start Anglo Bilingual School

 

Nilton Dantas Reis Junior – Sócio-diretor da Delta Metalúrgica

“Uma das estratégias que as escolas podem adotar para cumprir a legislação é a implementação de armários para os celulares. Essa alternativa oferece segurança para os dispositivos e também facilita o acesso dos alunos aos seus aparelhos quando necessário sem comprometer o andamento das aulas. Além disso, os armários ajudam a criar um ambiente disciplinado e organizado.

Ao reduzir o tempo de exposição a dispositivos que muitas vezes dispersam a atenção, os alunos têm a chance de desenvolver habilidades sociais e cognitivas de forma mais robusta. Isso reflete em um ambiente escolar onde a interação pessoal e a participação ativa nas atividades ganham mais espaço.

É interessante notar que tanto escolas quanto empresas já vinham adotando medidas para garantir a concentração de seus integrantes, mesmo antes da aprovação dessa lei. No setor empresarial, por exemplo, práticas como a restrição do uso de celulares em áreas críticas visam aumentar a produtividade e a segurança no ambiente de trabalho. Notamos que a preocupação com a atenção e o bem-estar em diferentes contextos é uma tendência, reforçando que a implementação dos armários para celulares nas escolas é uma alternativa alinhada com as boas práticas de gestão e organização.”

Nilton Dantas Reis Junior – Sócio-diretor da Delta Metalúrgica

 

Rodrigo Mendonça Pereira – Diretor Geral do Colégio Stella Matutina – Juiz de Fora (MG)

“A recente aprovação da Lei nº 4.932/2024, que proíbe o uso de celulares nas escolas, traz à tona um debate essencial: a necessidade iminente de reequilibrar o mundo digital e o analógico. O avanço da tecnologia é inegável e traz benefícios significativos para a sociedade e também para a educação, mas o uso indiscriminado de dispositivos móveis e suas múltiplas funcionalidades, como redes sociais, aplicativos de streaming de vídeo, aplicativos de vídeos curtos e jogos, impactam diretamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes, além de afetar significativamente a socialização dos estudantes. A escola deve ser um espaço onde as crianças e adolescentes possam interagir, aprender e desenvolver habilidades socioemocionais sem a interferência excessiva das telas.

Enquanto educadores, temos a responsabilidade de auxiliar alunos e suas famílias nesse processo de adaptação. A proibição do uso dos celulares não deve ser encarada apenas como uma regra rígida, mas como um ponto de partida para uma mudança de hábitos mais profunda. Assim como cada faixa etária exige um uso adequado das tecnologias, é fundamental que as escolas implementem ações de conscientização envolvendo toda a comunidade escolar. Pais, professores e alunos precisam caminhar juntos para que essa transição ocorra de maneira saudável e produtiva.

Mais do que restringir, é necessário educar. A implantação de programas que abordem autorregulação e segurança digital no currículo dos estudantes é um passo essencial para formar futuras gerações que saibam utilizar a tecnologia de maneira responsável. Se trabalharmos esses temas desde os primeiros anos escolares, ensinando sobre os impactos do uso excessivo das telas na saúde física, psíquica e emocional, chegaremos a um cenário em que leis proibitivas como essa não serão mais necessárias. O objetivo deve ser preparar as crianças para um uso equilibrado e consciente da tecnologia, tornando-as capazes de fazer escolhas responsáveis ao longo da vida. O uso excessivo de dispositivos móveis dentro das escolas criou uma espécie de dependência digital, que tem comprometido a socialização e a descoberta do universo.”

Rodrigo Mendonça Pereira – Diretor Geral do Colégio Stella Matutina – Juiz de Fora (MG)

 

Ana Amélia Rigotto Fernandes – Diretora Geral do Colégio Sagrado Coração de Jesus (BH)

“A Lei nº 4.932/2024, que proíbe o uso de celulares nas escolas durante o período letivo, pode gerar impactos significativos no desenvolvimento infantil, especialmente no que diz respeito à interação social e ao desempenho acadêmico. Já existem dados que apontam que 25% dos adolescentes brasileiros podem estar viciados em acessar a internet por dispositivos diversos. Nesse sentido, se um adolescente está viciado em tela ele irá preterir uma série de atividades saudáveis e importantes para essa faixa etária ao celular.

Por isso, com a redução do tempo de tela, observa-se maior engajamento nas atividades escolares e fortalecimento das habilidades socioemocionais, uma vez que os adolescentes passam a interagir mais entre si. Além disso, a diminuição das distrações digitais contribui para melhorar a concentração, resultando em maior aproveitamento das aulas e melhor rendimento nas avaliações.

Entretanto, a transição para um ambiente escolar sem celulares também enfrenta resistência entre os adolescentes, que já integram o aparelho em sua rotina para além do lazer, mas especialmente para uso recreativo. Por isso, é essencial que a escola proponha alternativas também para o cotidiano, isso vai de relógios em sala de aula, até pensar junto a famílias alternativas para a compra sem celular do lanche no intervalo. Portanto, a lei tem gerado, além de desafios, consequências positivas e o papel da escola é, neste momento, de promotora de hábitos saudáveis. Ao estimular indiretamente a convivência, a criatividade e o contato humano, a medida contribui para o desenvolvimento integral dos estudantes, auxiliando-os a viver em um mundo em que o equilíbrio entre o dialógico e o analógico é essencial.”

Ana Amélia Rigotto Fernandes – Diretora Geral do Colégio Sagrado Coração de Jesus (BH)

 

Alexandro Pereira – Diretor Geral do Colégio Espírito Santo de SP

“A Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares nas escolas durante o período letivo, traz mudanças significativas para o desenvolvimento das crianças e jovens e para a dinâmica escolar. Ao regulamentar a presença dos dispositivos, abre-se espaço para uma relação de intimidade com o conhecimento favorecendo a construção de novas aprendizagens, reduzindo distrações e incentivando a convivência entre os estudantes.

No entanto, é preciso considerar que o celular também se tornou uma ferramenta pedagógica em muitas instituições. Quando utilizado com propósito educacional, pode enriquecer o aprendizado, proporcionando acesso a conteúdos e metodologias inovadoras.

Do ponto de vista disciplinar, a aplicação da lei exigirá um trabalho conjunto entre escola, família e estudantes. Definir protocolos claros para a transição e garantir que os alunos compreendam os motivos da medida são passos fundamentais para sua efetividade. É importante que o debate que ocupa a cena pública também seja um caminho para a família e a sociedade repensar o uso destes dispositivos. O desafio está em transformar essa mudança em uma oportunidade para fortalecer a experiência educacional, sem ignorar a realidade de um mundo cada vez mais conectado.”

Alexandro Pereira – Diretor Geral do Colégio Espírito Santo de SP

 

Ana Lúcia Bresciane – Coordenadora geral do espaço ekoa (SP)

“No ambiente escolar, a restrição do celular reforça o papel da escola como um espaço de vida, de encontros e construção do conhecimento. Precisamos que os alunos estejam inteiros na experiência escolar, participando ativamente das aulas, das trocas com os colegas e dos desafios que fazem parte do processo de aprendizagem. O celular rouba esse tempo e essa presença, por isso, a escola precisa garantir que o convívio e as interações sejam valorizados. Quando a tecnologia está presente sem mediação, os estudantes perdem a oportunidade de se engajar de forma mais profunda com as experiências pedagógicas e sociais.

Isso não significa excluir a tecnologia da educação, mas sim usá-la de forma orientada e consciente. Aqui no espaço ekoa, temos um currículo de Educação Digital que integra a tecnologia ao aprendizado sem comprometer as experiências essenciais para o desenvolvimento dos alunos. A lei não impede o uso das tecnologias digitais na escola, mas propõe que elas sejam utilizadas com intencionalidade pedagógica, garantindo que os estudantes tenham apoio na gestão do tempo e no uso adequado dos recursos digitais.

Ao estabelecer diretrizes claras para o uso do celular na escola, a lei protege o direito das crianças de viver plenamente essa etapa da vida. A escola precisa ser um espaço de resistência ao imediatismo e à dispersão causados pelo excesso de telas, garantindo que os alunos possam aprender de maneira profunda, significativa e conectada com o mundo real.”

Ana Lúcia Bresciane – Coordenadora geral do espaço ekoa (SP)

 

André Hedlund – Mestre em Psicologia da Educação, apresentador do chá pedagógico e parceiro da Disal

“A pesquisa científica reforça o que tenho escutado de profissionais da educação de todos os segmentos e de diversos estados brasileiros. A impressão generalizada é de que o desafio de ensinar está exponencialmente mais difícil. Podemos afirmar que o uso excessivo de telas afeta profundamente o desenvolvimento cognitivo infantil, comprometendo funções essenciais como atenção, memória e autorregulação emocional. Muitos acreditaram na narrativa falsa que a superestimulação digital revolucionaria o aprendizado, quando, na verdade, ajuda a desregular o sistema de recompensa do cérebro, tornando as crianças mais impulsivas, impacientes – até agressivas – e menos capazes de se concentrar em atividades prolongadas.

A infância é um período de grande construção de redes neuronais importantes. O cérebro é incrivelmente plástico nessa idade e consegue se adaptar a grandes mudanças, no entanto, além dos impactos diretos, o tempo excessivo de tela reduz oportunidades de interação social, brincadeiras ao ar livre e momentos de tédio, que são essenciais para o crescimento saudável. Portanto, o que esperar de uma redução significativa do uso de telas na escola?

Ao contrário do que demonstram as preocupações de grandes autores sobre a temática em suas obras como ‘A Geração Ansiosa’ de Jonathan Haidt, ‘A Fábrica de Cretinos Digitais’ de Michel Desmurget e ‘A Geração do Quarto’ de Hugo Monteiro, onde narram um cenário trágico de aumento de ansiedade, isolamento social, depressão e até suicídio entre os membros mais jovens da nossa sociedade, acredito que com a distância devida das telas, as crianças vão reaprender os benefícios da interação de verdade e tanto sua saúde – física e mental – quanto sua capacidade de aprendizagem ganharão muito com isso.

O grande desafio será a transição e a fiscalização dessa restrição de celulares. É necessário que as famílias apoiem a medida e que o fardo não caia completamente no colo dos professores. Algumas escolas já relatam boas experiências com a restrição e as próprias crianças, depois de uma adaptação curta, já percebem os benefícios.”

André Hedlund – Mestre em Psicologia da Educação, apresentador do chá pedagógico e parceiro da Disal

 

Giselle Moreira da Silva Cruz – Diretora geral do Colégio Liceu Monteiro Lobato, em Santo André

“No dia a dia da sala de aula, a ausência dos celulares é positiva para a atenção dos alunos, permitindo que se envolvam mais com os conteúdos e com as atividades apresentadas. No entanto, essa transição não é simples e exige adaptações. Muitos professores já utilizam a tecnologia em suas práticas pedagógicas, através de aplicativos, vídeos e plataformas digitais para enriquecer as aulas. Com a proibição dos celulares, será necessário compensar algumas estratégias para manter as aulas atrativas e alinhadas às novas formas de aprendizagem. Além disso, os alunos acostumados a terem o mundo ao alcance dos dedos precisarão redescobrir outras maneiras de buscar informações e se organizar academicamente.

Para que essa mudança seja realmente efetiva, é fundamental que a escola e as famílias caminhem juntas nesse processo. Em vez de apenas proibir o uso do celular, é importante educar os alunos para o uso consciente da tecnologia, mostrando que ela pode ser uma aliada quando é utilizada com equilíbrio. Dessa forma, a proibição pode ser um passo importante para um aprendizado mais focado e humano, sem abrir mão das possibilidades que a tecnologia oferece.”

Giselle Moreira da Silva Cruz – Diretora geral do Colégio Liceu Monteiro Lobato, em Santo André

 

Camila Oliveira – Diretora geral e acadêmica da RIS (Rio International School)

“A Rio International School é a favor da lei, pois almejamos sempre preservar a saúde mental e emocional dos nossos alunos, evitando o uso excessivo dos celulares ou de qualquer meio que possa ser prejudicial para eles. Em nossa escola, oferecemos diversos tipos de recursos de aprendizagem que não requerem esses aparelhos. Além disso, promovemos atividades extras como esportes dos mais variados, música e ballet, que contribuem para um menor tempo de exposição de tela, estimulam a socialização e desenvolvem a capacidade de utilizar o tempo para aprender, fazer amigos e estar 100% focado na atmosfera estudantil.

É fundamental que esse assunto também seja amplamente debatido no seio familiar, sendo de suma importância que os pais se conscientizem que, apesar dos celulares serem um recurso muito útil, se usados de forma incorreta podem trazer consequências emocionais enormes para seus filhos. Por isso, creio que seria de extrema importância retardar ao máximo o acesso das crianças a esses aparelhos, preservando sua saúde mental e evitando que o problema se torne até mesmo uma doença a ser tratada.

Por isso, que nós, pais e professores, estejamos cada vez mais engajados nessa questão, de modo que consigamos cumprir o nosso papel como educadores e moderadores, de modo que nossos filhos e alunos passem mais tempo conectados ao mundo real do que virtual.”

Camila Oliveira – Diretora geral e acadêmica da RIS (Rio International School)

 

Arthur Buzatto – Sócio e mantenedor da Escola Vereda

“A Lei nº 4.932/2024, que proíbe o uso de celulares nas escolas durante o período letivo, pode impactar positivamente o desenvolvimento infantil e o cotidiano escolar. Sem as distrações das telas, os alunos tendem a melhorar a concentração, a participação nas aulas e a capacidade de retenção do conteúdo. Além disso, a ausência de notificações e redes sociais pode reduzir a ansiedade e o estresse, promovendo um ambiente mais tranquilo e propício ao aprendizado.

A medida também fortalece a interação social, incentivando os estudantes a se comunicarem mais presencialmente e a desenvolverem habilidades socioemocionais essenciais. Com menos dependência dos dispositivos móveis, há um estímulo maior para atividades coletivas e dinâmicas em grupo, favorecendo o senso de comunidade dentro da escola. Esse cenário beneficia não apenas os alunos, mas também os professores, que passam a ter menos interrupções e maior controle sobre o ritmo das aulas.

Embora a adaptação possa ser desafiadora, a longo prazo, a proibição pode contribuir para um ambiente escolar mais equilibrado, onde a aprendizagem ocorre de forma mais focada e estruturada. Ao limitar o uso do celular, a lei busca um meio-termo entre a necessidade de concentração e a realidade digital dos jovens, garantindo que o ensino continue sendo a prioridade dentro da escola.”

Arthur Buzatto – Sócio e mantenedor da Escola Vereda

 

Priscilla Moraes – Coordenadora da EDF – Escola do Futuro Brasil

“A EDF – Escola do Futuro Brasil acompanha de perto como a tecnologia vem sendo posicionada em estudos ao redor do mundo, especialmente no campo da educação. Com base nessas pesquisas, desde o ano passado já havíamos estabelecido restrições ao uso de celulares no ambiente escolar. No início de 2024, enfrentamos os desafios inerentes à implementação dessa proibição, mas, atualmente, nosso foco está na manutenção dessa medida. Observamos, com satisfação, que os alunos demonstram uma aceitação cada vez maior, além de contarmos com o apoio das famílias, fator essencial para que o processo ocorra de maneira positiva.

A restrição do uso de celulares na escola tem o potencial de reduzir distrações em sala de aula, favorecendo a concentração dos estudantes tanto individualmente quanto em grupo. Sem as interrupções constantes dos dispositivos móveis, espera-se uma melhora no desempenho acadêmico, uma vez que estudos indicam que o uso excessivo de celulares está associado à queda na atenção e à dificuldade de assimilação de conteúdos. Além disso, a interação presencial entre os alunos se torna mais frequente, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais fundamentais para o crescimento humano. Essa mudança também pode auxiliar na prevenção de transtornos como ansiedade, dificuldades de atenção, distúrbios do sono e dependência tecnológica.

No entanto, é necessário reconhecer que a proibição do uso de celulares pode limitar o acesso a ferramentas educacionais digitais, cada vez mais integradas aos processos de ensino e aprendizagem. Esse cenário impõe o desafio de garantir que tais recursos continuem sendo utilizados de maneira pedagógica e complementar. Para isso, é fundamental que escolas e educadores implementem estratégias que equilibrem o uso consciente da tecnologia com métodos de ensino tradicionais, promovendo um ambiente de aprendizado mais dinâmico e eficaz.

Sob a perspectiva do desenvolvimento infantil, a restrição ao uso de dispositivos móveis pode trazer benefícios ao reduzir a exposição excessiva às telas. Com menos tempo dedicado aos celulares, crianças e adolescentes tendem a se engajar em atividades sociais e físicas, como conversas durante os intervalos e brincadeiras tradicionais no ambiente escolar. Essas práticas não apenas estimulam o desenvolvimento motor e cognitivo, mas também fortalecem laços interpessoais e ampliam o repertório de experiências dos estudantes. Embora a implementação da medida exija fiscalização e possa enfrentar resistência inicial, ela representa uma oportunidade valiosa para incentivar o uso consciente e responsável da tecnologia. Dessa forma, escolas e famílias devem atuar em parceria para oferecer alternativas que mantenham os alunos engajados e motivados, promovendo uma reflexão sobre o papel dos celulares na educação e no cotidiano, a fim de construir um aprendizado mais equilibrado e produtivo.”

Priscilla Moraes – Coordenadora da EDF – Escola do Futuro Brasil

 

Renato Brito – Pesquisador-chefe do projeto Escolas Inovadoras no Distrito Federal

“Em um cenário no qual as interações digitais muitas vezes substituem o contato direto, afastando os estudantes da experiência concreta da aprendizagem, a limitação do uso de dispositivos pode ser um primeiro passo para reaproximá-los do sentido coletivo da educação.

Sem a mediação constante das telas, os estudantes terão mais espaço para desenvolver habilidades socioemocionais essenciais, como a empatia, a escuta ativa e a colaboração. Vejo essa mudança como um convite para que os educadores estimulem práticas pedagógicas mais interativas, pautadas no diálogo e na troca de experiências. Ao invés da dispersão provocada pelas notificações e redes sociais, poderemos construir um ambiente que valorize o aprendizado compartilhado e a construção coletiva do conhecimento. O desafio, no entanto, será transformar essa restrição em um ganho real para os estudantes, garantindo que o tempo sem celulares seja preenchido com metodologias ativas e atividades que despertem o interesse genuíno pelo saber.

Além disso, essa mudança pode nos levar a reformular o fazer pedagógico, repensando como as tecnologias podem ser integradas de maneira mais estratégica e consciente na sala de aula. Ao invés de excluir completamente o uso do celular, podemos utilizá-lo de forma planejada e orientada, transformando-o em uma ferramenta pedagógica potente. O modelo do projeto Escolas Inovadoras nos ensina que a tecnologia, quando bem aplicada, pode potencializar o aprendizado, mas seu uso indiscriminado pode comprometer o engajamento e a qualidade das relações no ambiente escolar. Esse é o momento ideal para debatermos como equilibrar inovação tecnológica e a humanização do ensino.

Por fim, acredito que a implementação dessa lei nos convida a um movimento maior de resgate da convivência escolar como espaço de troca, escuta e construção conjunta do conhecimento. Ao retirarmos o celular como elemento central da atenção dos estudantes, abrimos caminho para um ensino mais significativo e colaborativo, que valoriza o contato direto e a experiência vivida. No entanto, para que essa mudança tenha efeitos positivos, será fundamental o engajamento de toda a comunidade escolar, garantindo que os estudantes compreendam a importância desse novo cenário e participem ativamente da construção de um ambiente de aprendizado mais conectado com a vida real.”

Renato Brito – Pesquisador-chefe do projeto Escolas Inovadoras no Distrito Federal

 

Rosekel Meirelles – Diretora da unidade do Pensi Rio das Ostras

“Na escola, já estamos nesse processo de proibição do uso de eletrônicos desde 2024. Neste ano, já era previsto um aumento dessa restrição, o que foi muito facilitado pela legislação promulgada em janeiro. Diante disso, nos adequamos às novas exigências legais, criando protocolos para o atendimento aos alunos. Além disso, realizamos treinamentos com todos os colaboradores e professores e emitimos comunicações para as famílias desde o início do ano, informando sobre as mudanças e as exigências legais.

O tema vem sendo abordado em todas as reuniões de pais neste começo de ano letivo, garantindo que todos estejam cientes das novas diretrizes e do impacto positivo que essa medida pode trazer para o ambiente escolar. Aqui na escola, fizemos uma separação bem definida. Para as turmas da Educação Infantil ao 8° ano do Ensino Fundamental Anos Finais, é proibido trazer celular para a escola. Já para os alunos do 9° ano e do Ensino Médio, eles podem trazer o celular, mas o aparelho deve permanecer desligado e guardado na mochila durante todo o período letivo, sem possibilidade de uso em nenhum espaço ou momento da escola. O celular só poderá ser utilizado no momento da saída, para que os alunos possam chamar um transporte ou avisar a família.

Para fins pedagógicos, caso algum professor queira utilizar um aplicativo ou plataforma em suas atividades, a escola dispõe de dispositivos próprios que podem ser disponibilizados para esses fins. Dessa forma, garantimos um ambiente de aprendizagem mais focado e equilibrado para todos.”

Rosekel Meirelles – Diretora da unidade do Pensi Rio das Ostras 

 

Renato Casagrande – especialista em gestão educacional

“A proibição do uso indiscriminado de celulares nas escolas foi um avanço significativo para melhorar a concentração dos alunos e a disciplina em sala de aula. Entretanto, é essencial que as tecnologias não sejam vistas como obstáculos, mas, sim, como poderosas ferramentas. Alguns pontos a serem abordados são o uso como recurso pedagógico em pesquisas, atividades interativas e aprendizagem digital, sempre com diretrizes claras de uso, e a formação continuada dos professores para a utilização das novas tecnologias, já que muitos educadores ainda não dominam sequer as plataformas digitais.

Chamo a atenção também para a necessidade de melhoria da infraestrutura tecnológica, pois é fundamental garantir que todas as escolas tenham acesso a equipamentos adequados e à Internet de qualidade. A tecnologia não pode ser vista como adversária da educação, pois, quando utilizada de maneira estratégica e educativa, é uma poderosa aliada.”

Renato Casagrande – especialista em gestão educacional

 

Pedro Siciliano – CEO da Teachy

“De forma ‘radical’, banir os celulares nas salas de aula não é uma boa alternativa. Ferramentas interativas são importantes para engajar os estudantes e podem ser o meio pelo qual irá reverter a situação na qual os professores se sentem desrespeitados porque os alunos não prestam atenção nas aulas.

Os estudantes adoram seus professores e querem aprender. Eles se reconectam aos educadores por meio da aprendizagem interativa. Hoje, todos precisam aprender sobre Inteligência Artificial (IA) e educadores e especialistas devem ampliar a compreensão de que o uso da Inteligência Artificial faz parte e é preciso incorporá-la no dia a dia. Quem não aprender isso não vai conseguir se adaptar à próxima etapa do futuro da humanidade.

O Brasil é um dos grandes exemplos mundiais neste campo. Por meio da educação, e consequentemente da inexorável e necessária produtividade: as pessoas precisam aprender a usar a IA com qualidade e com responsabilidade! Se não olharmos para o futuro, proibir por proibir será um retrocesso. É preciso reconhecer que essa geração e as próximas serão cada vez mais tecnológicas, por isso é importantíssima a introdução do ensino de tecnologia e de programação nas escolas. Os problemas são reais, mas ao mesmo tempo essa proibição não é uma medida efetiva porque não ataca o problema central: como ensinar tecnologia? Como abraçar e encarar a tão onipresente Inteligência Artificial? É preciso ter em mente que as mais variadas tecnologias, plataformas e IA são meios de ação muito efetivos, sim, na Educação, em sala de aula.”

Pedro Siciliano – CEO da Teachy

 

Ana Claudia Favano – Gestora da Escola Internacional de Alphaville

“A recente proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras é um avanço necessário para a educação e a saúde mental das crianças e adolescentes. Como especialista na área, vejo essa medida como um passo fundamental para restaurar o foco na aprendizagem e nas interações sociais saudáveis dentro do ambiente escolar. Nos últimos anos, observamos um aumento preocupante de problemas como a distração excessiva, a redução do desempenho acadêmico e dificuldades emocionais ligadas ao uso excessivo de telas. A escola precisa ser um espaço de concentração, desenvolvimento cognitivo e troca humana, e a restrição dos dispositivos móveis contribui diretamente para esse objetivo.

Além de melhorar o rendimento escolar, a proibição dos celulares impacta positivamente o bem-estar emocional dos alunos. Estudos mostram que a exposição excessiva às telas pode levar ao aumento da ansiedade, irritabilidade e distúrbios do sono, além de dificultar a construção da autonomia e da autorregulação emocional. Quando os celulares são removidos do ambiente escolar, cria-se uma oportunidade para que as crianças e jovens resgatem habilidades fundamentais, como a empatia, a comunicação assertiva e a capacidade de lidar com desafios sem a fuga constante para o digital.

A dependência digital é uma realidade alarmante e tem afetado não apenas os estudantes, mas toda a sociedade. A escola, ao assumir um papel ativo na regulação do uso das tecnologias, não apenas contribui para um ambiente mais produtivo, mas também gera reflexos positivos nas famílias. Precisamos educar nossas crianças para um uso consciente da tecnologia, estabelecendo limites claros e garantindo que o digital seja uma ferramenta a serviço do aprendizado, e não um fator de isolamento ou distração.

Essa nova realidade exige que a escola promova estratégias pedagógicas inovadoras que integrem a tecnologia de forma equilibrada e com propósito. Tablets, lousas digitais e outras ferramentas tecnológicas podem continuar sendo utilizadas, desde que com objetivos pedagógicos bem definidos. Mais do que simplesmente proibir, precisamos ensinar os alunos a viver em um mundo digital sem se tornarem reféns dele. A proibição dos celulares em sala de aula não é um retrocesso, mas sim um resgate da essência do ambiente escolar: um espaço de aprendizado, troca e desenvolvimento humano.”

Ana Claudia Favano – Gestora da Escola Internacional de Alphaville

 

Katia Ethiénne Esteves dos Santos – Professora da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR

“A proibição do uso de celulares em sala de aula, exceto para fins pedagógicos, é um tema controverso que merece uma análise aprofundada. Em um mundo cada vez mais digital, é essencial que as escolas preparem os alunos para as constantes transformações do século XXI. A presença de tecnologias no cotidiano escolar não só facilita o acesso à informação, mas também desenvolve habilidades digitais, comportamentais e socioemocionais essenciais para o futuro profissional e pessoal dos estudantes. Não acredito em proibição como forma de ensinar.

Vivemos em uma era onde a distinção entre o físico e o digital é cada vez mais tênue, e a escola tem a responsabilidade de preparar os estudantes para essa realidade. Proibir o uso de celulares em sala de aula pode ser contraproducente, pois impede que os estudantes desenvolvam uma relação saudável e produtiva com a tecnologia. Em vez disso, é crucial ensinar a usar essas ferramentas de forma ética e eficiente, formando cidadão críticos e criativos, pois com um celular pode-se criar muitas possibilidades de aquisição do conhecimento.

Para viver os futuros desejáveis, é imperativo que os estudantes sejam letrados digitalmente e para criar os futuros que necessitam e desejam. A alfabetização digital vai além do simples uso de dispositivos, envolve a compreensão crítica das tecnologias e sua aplicação em diversas áreas do conhecimento. Sem essa preparação, os alunos estarão em desvantagem no mundo do trabalho cada vez mais competitivo e tecnológico. O letramento de futuros, promovido pela UNESCO, é uma abordagem educacional que visa preparar indivíduos para enfrentar os desafios e incertezas dos futuros. Envolve o desenvolvimento integral dos estudantes para que se tornem globalmente conscientes e preparados para contribuir de maneira positiva e inovadora para a sociedade.

A formação continuada dos professores é vital para que possam redesenhar suas aulas e torná-las mais atrativas e de qualidade. A adoção de layouts criativos, design de aprendizagens inovadores e metodologias diversificadas pode transformar o ambiente educacional, tornando-o mais interessante do que o simples uso do celular, que tira a atenção dos estudantes. Professores bem-preparados e atualizados são agentes de criação de experiências de aprendizagem envolventes e significativas, que desafiam os estudantes e promovem um aprendizado profundo e duradouro. Portanto, a integração das tecnologias no ambiente escolar é fundamental para garantir que os estudantes estejam prontos para enfrentar os desafios dos futuros e não fiquem a margem da sociedade, pois as tecnologias podem tornar a vida cada vez mais desigual.”

Katia Ethiénne Esteves dos Santos – Professora da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR

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