Andragogia nas instituições de ensino
Colunas e Opiniões
Matéria publicada na edição 111 | Setembro 2015- ver na edição online
Já escutei docentes dizerem que não precisam aprender, pois têm muita experiência em educação.
“Quem está acostumado a ensinar às vezes tem dificuldade em aprender”. O educador quando escuta as palavras treinamento, capacitação, palestra, monitoramento ou qualquer outro sinônimo, pode regredir ao condicionamento de suas experiências escolares anteriores, colocar o chapéu da pendência, cruzar os braços, encostar-se na cadeira e dizer: “pode me ensinar”.
Adultos trazem consigo uma carga de experiência muito grande. E à medida que acumulam estas experiências, tendem a criar hábitos mentais, preconceitos e pressuposições que costumam fechar a mente a novas ideias, percepções mais atualizadas e alternativas.
Para qualquer tipo de reestruturação acontecer é necessário que todos os colaboradores estejam abertos a mudanças de atitudes e quebrem seus paradigmas. É neste momento que o entendimento das técnicas andragógicas pode auxiliar e atuar como facilitador para que etapas sejam cumpridas com a menor resistência possível, e que as novas experiências provoquem sensações positivas, como o aumento de interesse, o desenvolvimento da autoestima e o espírito de equipe.
Andragogia
A palavra “andragogia” tem a sua origem na Grécia Antiga: andra (adulto) e agogé (condução). Segundo a definição creditada a Malcolm Knowles em seu livro “The Adult Learner”, andragogia é definida como a ciência de orientar e motivar adultos a adquirir novos hábitos, conhecimentos e atitudes. Essa aquisição ocorre em adultos por meio de um processo mais complexo do que em crianças e adolescentes.
Linderman, Knowles e Wlodowski, três dos principais pesquisadores da educação de adultos, apresentam em seus trabalhos algumas explicações para essa diferença e sugerem que a motivação dos adultos para aprender é a soma dos seguintes fatores:
1 – Confiança – sentir-se seguro diante do novo – Monitoramento
Quando acompanhado, o adulto sente-se confiante em sua capacidade de experimentar ou adquirir um novo hábito, pois não está sozinho nesta empreitada. Ao seu lado existe uma pessoa com conhecimento e liderança para acompanhá-lo, ensiná-lo e apoiá-lo ao longo de uma nova experiência.
2 – Autoestima e satisfação
Adultos são motivados a aprender à medida que percebem que as necessidades e interesses que buscam estão e continuarão sendo atendidos. A decisão da equipe em envolver-se seriamente em um determinado projeto e aceitar promover mudanças internas está relacionada ao valor que ela atribui para alcançar essas mudanças e os benefícios propostos. Além do reconhecimento formal (elogios) nas reuniões de monitoramento e dos ganhos por méritos (premiações), a comunicação e o marketing pedagógico podem ter um papel importante na valorização da equipe, por meio das divulgações de seus trabalhos para os demais colaboradores, alunos e familiares.
3 – Objetivos definidos
Sem saber aonde se quer chegar (objetivo), como conseguir (metas) e se o caminho está certo (análise de desempenho), não existe necessidade de se movimentar. Sem um objetivo claro o adulto não tem motivo nem motivação para mudar de atitude ou progredir.
4 – Visão do todo
Os adultos têm uma profunda necessidade de se autodirigir: isto é, de serem responsáveis pela sua aprendizagem e estabelecerem seus próprios percursos educacionais. Para isso, é importante que eles tenham uma visão holística do processo e a ciência do planejamento estratégico.
5 – Autonomia
O adulto sente-se motivado quando participa da tomada de decisão e tem autonomia para agir em busca de seus objetivos.
6 – Aprendizado experiencial
A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender. Assim, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências externas e do seu próprio cotidiano. Praticamente todo o conteúdo necessita ser de utilidade prática e imediata, porém, deve resultar em mudança de atitudes e aperfeiçoamento de habilidades passíveis de gerar resultados em longo prazo. O adulto aprende aquilo que faz e vivencia, sendo a experiência seu próprio livro-texto.
7 – Valorização da empresa em que trabalha
Ninguém gosta de fazer parte de um time perdedor. As pessoas, de uma forma geral, motivam-se quando fazem parte de uma equipe de ponta, que alcança seus objetivos e é reconhecida por isso.
INVESTIR NO CAPITAL HUMANO
“É ter a consciência de que é cada vez mais importante que os funcionários sejam aprendizes altamente qualificados, para que possam aprender novas tecnologias e se adaptarem às novas demandas de mercado.”
Elwood F. Holton III e Richard A. Swanson
O livro The medium is the message, de Marshall Mcluhan, retrata a andragogia como um meio disponível para ajudar os colaboradores a desenvolverem competências que lhes permitirão melhorar suas performances de trabalho, estima, autorrealização e que, por consequência, desempenhem seus papéis de forma que alcancem os objetivos da instituição.
Na verdade, ocorre uma reciprocidade: a escola proporciona a maximização do potencial dos seus colaboradores e, em troca, recebe e usufrui dessa evolução para aumentar o número de alunos. Por este motivo, é importante deixar claro para o colaborador que ele será o primeiro a ser beneficiado.
“Escolas de sucesso são feitas de professores de sucesso.
Professores de sucesso trabalham em escolas de sucesso.”
Christian Rocha Coelho é especialista em andragogia e diretor de planejamento da maior empresa de gestão, pesquisa e comunicação pedagógica do Brasil, a Rabbit Partnership.
Mais informações: (11) 3862.2905 / www.rabbitmkt.com.br / [email protected]