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Guia para Gestores de Escolas

Arquitetura: Novos arranjos na arquitetura escolar

A estrutura física de uma escola, tanto interna como externa, assim como o seu conjunto estético, é um dos principais elementos quando observamos uma instituição de ensino. Essa arquitetura, que carrega não apenas as simbologias, o histórico e o propósito do colégio, como também importantes espaços de socialização e de aprendizagem, influencia diretamente no bem-estar físico, psicológico e no acolhimento de todos e todas que transitam pelos espaços da instituição diariamente.

Nos últimos anos, em especial, observamos mudanças significativas que surgiram no segmento educacional envolvendo questões comportamentais, culturais, tecnológicas e, também, nas áreas relacionadas a arquitetura e as disposições da estrutura. No centro dessas mudanças, localizamos um denominador comum: o movimento de repensar a infraestrutura escolar com o objetivo de se adaptar a novos tempos e a novos anseios dos/as estudantes.

O espaço físico da escola, diz o arquiteto Eric Gushikem, vai muito além de um simples local de permanência, “ele pode estimular, limitar ou até dificultar a forma como os alunos aprendem e se relacionam. Ambientes bem planejados com iluminação adequada, ventilação, mobiliário, acessibilidade e áreas de convivência favorecem a concentração, a criatividade, a socialização e o bem-estar”.

ARQUITETURA COMO COMPONENTE PEDAGÓGICO

Bruno Ronchi, arquiteto e urbanista, afirma que a organização e a arquitetura escolar influenciam diretamente no processo de aprendizagem. “Uma sala bem ventilada, iluminada e com boa acústica melhora a capacidade cognitiva dos alunos e favorece seu desempenho”, diz. Segundo Ronchi, pesquisas demonstram que parâmetros de design, como luz, temperatura, qualidade do ar, senso de posse, flexibilidade, complexidade e cor, são responsáveis por até 16% da variação do desenvolvimento acadêmico.

“Um ambiente projetado de acordo com a proposta pedagógica da escola auxilia o professor em sua tarefa, pois o espaço estará alinhado com os métodos utilizados”, conta Ronchi. “A organização também é essencial: uma setorização adequada, com níveis de ensino próximos entre si, evita o conflito de fluxos de crianças de idades diversas, criando espaços mais seguros e funcionais”, complementa.

INOVAÇÕES E FLEXIBILIDADE

Em um movimento de repensar a infraestrutura de uma escola, tendo como propósito as demandas contemporâneas e as atualizações necessárias que surgem da relação de estudantes com o ensino e com o espaço de aprendizagem, localizamos nas metodologias ativas de ensino uma possibilidade de rearranjos nos espaços, especialmente quando compreendemos que essas metodologias posicionam os/as estudantes como protagonistas do processo de aprendizagem.

De acordo com Bruno Ronchi, o modelo que contempla as metodologias ativas é o das salas flexíveis capazes de se adaptar a diferentes situações, englobando tanto momentos de interação, produção e discussão entre estudantes, como em momentos de atenção ao professor e à professora.

“Para isso, são fundamentais mobiliários componíveis e tecnologias que permitam diferentes configurações. As salas podem ter vocações específicas, não sendo necessário que todas sirvam a todos os conteúdos. Ao organizar os horários e compartilhar espaços entre turmas, é possível reduzir custos e otimizar a infraestrutura”, explica Ronchi. “Esse modelo rompe com a visão tradicional e estimula os alunos a circularem e assumirem responsabilidades na preparação dos ambientes onde constroem o conhecimento”, destaca.

Na prática, conta o arquiteto Eric Gushikem, alinhar a arquitetura e a disposição das salas com as metodologias ativas, é sinônimo de projetar ambientes flexíveis, dinâmicos e inclusivos, capazes de estimular a autonomia, a colaboração e a criatividade. Para ele, alguns pontos são fundamentais, como: projetar salas de aula com móveis versáteis que facilite o trabalho em grupo, debates e atividades práticas; inserir recursos digitais, conectividade e ambientes híbridos de aprendizagem como possibilidades de integração tecnológica; criar ambientes colaborativos (como laboratórios maker, bibliotecas e espaços de convivência que incentivem a troca de ideias); e estimular a conexão com o bem-estar, como valorizar a iluminação natural, a ventilação, as áreas verdes e o conforto acústico, favorecendo a saúde e a concentração.

Segundo Gushikem, esse movimento de buscar inovações e mudanças práticas para as estruturas escolares cresceu nos últimos anos, principalmente pelo interesse dos colégios em adaptarem as suas estruturas com as “novas metodologias pedagógicas”. Gushikem destaca outras sugestões que podem ser implementadas como formas de adaptação, como: proporcionar ambientes híbridos e tecnológicos com conectividade de qualidade e recursos multimídia; áreas abertas e contato com a natureza, como pátios, hortas, jardins pedagógicos; e ações sustentáveis efetivas, como uso de materiais ecológicos, eficiência energética, reaproveitamento de água, coleta seletiva dos lixos e incentivo a práticas de consciência ambiental. “Assim, a arquitetura escolar deixa de ser apenas infraestrutura e passa a ser um recurso pedagógico estratégico, apoiando novas formas de ensinar e aprender”, completa.

ORIENTAÇÕES PARA GESTORES E GESTORAS

Para gestores e gestoras escolares que pretendem reformular a arquitetura de todo o colégio, ou até mesmo parte dele, algumas dicas dos arquitetos podem auxiliar nesse processo. Para Bruno Ronchi, um planejamento bem desenhado é essencial, já que as escolas têm pouco tempo disponível ao longo do ano letivo para as obras. Nesse planejamento, é interessante constar a avaliação das estruturas existentes, análise de mercado, mapear as deficiências, organizar os setores e estabelecer prioridades acompanhando um cronograma físico-financeiro.

“Com isso, a escola consegue prever seus investimentos para os próximos anos, programar obras, contratar fornecedores com mais segurança e transformar a infraestrutura em um verdadeiro aliado do aprendizado”, diz Ronchi. É importante, também, buscar escritórios especializados em arquitetura educacional. “Assim como na medicina existem especialistas em diferentes áreas, a arquitetura também conta com profissionais focados em segmentos específicos. Essa escolha garante mais qualidade nos projetos, reduz as chances de erros e assegura maior adequação às legislações vigentes — como as exigências da Vigilância Sanitária, do Corpo de Bombeiros e das Secretarias de Educação”, destaca.

O arquiteto Eric Gushikem lista outras dicas, como: criar um planejamento financeiro por etapas, ou seja, estruturar a reforma ou construção de forma escalonada, otimizando recursos sem comprometer o funcionamento do colégio; e garantir a acessibilidade e inclusão, projetando espaços acessíveis a todas as pessoas, respeitando diferentes necessidades físicas e cognitivas. Além de buscar consultoria especializada: “contar com profissionais com know-how em espaços educativos, para unir técnica, estética, pedagogia e funcionalidade”, finaliza. (RP)

 

Saiba mais:

Bruno Ronchi – [email protected]

Eric Gushikem – [email protected]

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