As mudanças do mercado educacional nos últimos anos
Por Christian Coelho

Recentemente enfrentamos grandes transformações que impactaram o mercado educacional de forma inédita nos últimos 100 anos:
- A pandemia e seus efeitos diretos, além das consequências econômicas e psicossociais no período pós-pandêmico.
- A entrada de grandes investidores no setor educacional, que elevou a qualidade da gestão, intensificou a concorrência e impulsionou a melhoria das escolas públicas e privadas de educação infantil em determinadas regiões.
- A influência geracional na mudança de comportamento, com a forte presença das gerações digitais (Y e Z), que impactaram e transformaram os hábitos das gerações anteriores, como a X e os Baby Boomers.
- Os desdobramentos macroeconômicos pós-pandemia, que continuam afetando o cenário educacional.
Essa nova realidade exige adaptação, inovação e estratégias para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades desse novo contexto.
2020/2021 – Durante a pandemia, o fechamento das escolas devido aos lockdowns resultou em uma queda drástica no número de alunos, especialmente na educação infantil. No total, a evasão escolar chegou a 20%, enquanto a inadimplência a 25%. Além disso, algumas famílias, principalmente as de maior poder aquisitivo, migraram de escolas menores para instituições maiores, que conseguiram realizar a transição do ensino presencial para o online com mais eficiência devido a melhor infraestrutura.
2021/2022 – Com a retomada muito gradual das aulas presenciais, o mercado educacional reagiu lentamente, apesar da necessidade de convivência e ressocialização de crianças e jovens. O setor registrou um crescimento de 4%, que ficou abaixo das expectativas.
2022/2023 – A retomada do mercado educacional continuou lenta, com um crescimento de apenas 2%. Muitos ainda estavam inseguros, pois os protocolos de saúde permaneciam em vigor. Além disso, a recuperação foi mais demorada do que o esperado devido a lentidão no retorno ao trabalho presencial e às dificuldades financeiras das famílias.
As escolas de educação infantil apresentaram um crescimento um pouco maior, mas insuficiente para compensar os descontos concedidos durante a pandemia. Como resultado, o gap nas mensalidades entre escolas menores e grandes continuaram altas, já que as instituições maiores concederam menos descontos no período crítico. Além disso, uma parcela dos alunos que haviam migrado para escolas maiores durante a pandemia começou a retornar às suas antigas instituições.
2023/2024 – Um novo fenômeno observado foi o alto índice de rematrículas, resultando, consequentemente, em um número reduzido de novas matrículas. Esse cenário foi influenciado por quatro fatores principais: a necessidade das famílias de se estabilizarem, evitando novas mudanças; a falta de grandes novidades ou estímulos que incentivassem a troca de escola; o desempenho abaixo do esperado nas captações, devido à carência de profissionais especializados em vendas, à necessidade de maior supervisão e ao menor foco das escolas nesse processo; as escolas aumentarem as negociações para evitar as perdas de alunos.
Com o aumento contínuo da concorrência, impulsionado pela entrada de novos players no setor e pela melhoria das escolas públicas e privadas de educação infantil e berçários em algumas regiões, o mercado cresceu de 1% a 2%. A tendência de crescimento das escolas menores, especialmente as voltadas para a educação infantil, continuou acima da média do mercado. Esse movimento ocorreu porque muitas mães, ainda subconscientemente receosas com aglomerações, optaram por essas instituições. Além disso, os valores das mensalidades dessas escolas continuaram significativamente mais acessíveis do que os das escolas maiores.
As escolas católicas foram ainda mais impactadas por esses fatores, registrando um crescimento de apenas 1%, também influenciado pela redução no número de padres e freiras.
2024/2025 – No final desse período de alta sazonalidade, o mercado tende a crescer cerca de 4%, alcançando índices próximos aos dos anos pré-pandemia. As escolas menores devem continuar apresentando um crescimento ligeiramente superior, impulsionado pelos fatores já mencionados.
A estabilidade econômica e a redução dos índices de desemprego contribuíram para esses melhores resultados. No entanto, a falta de percepção de diferenciais por parte das famílias e a sensação de que a educação se tornou uma “commodity” mantiveram os índices de rematrícula elevados, resultando, consequentemente, em um número menor de novas matrículas.
Ainda assim, todos os principais indicadores — procura, novas matrículas e rematrículas — apresentaram os melhores resultados desde o período pré-pandemia.
O reajuste das mensalidades acima da inflação, aliado ao aumento do número de alunos, fez com que o ano de 2024 fosse positivo para as escolas.
2025/2026 – As tendências do mercado educacional observadas nos últimos dois anos devem se manter neste ano. No entanto, a expectativa é de um cenário mais desafiador, com maior inadimplência e aumento nos pedidos de desconto, influenciados pela desaceleração da economia e uma possível crise. Diante disso, as escolas precisam estar mais atentas e preparadas para esse contexto.
A inflação, o aumento dos preços dos alimentos e a valorização do dólar devem pressionar a economia, enquanto o crescimento do Brasil (2,45%) permanecerá abaixo da média global (2,7%).
A alta da inflação e dos juros impacta a população com mais desemprego, menor consumo, dificuldade de acesso ao crédito e perda de poder de compra, afetando principalmente as classes menos favorecidas. Para conter a inflação, o Banco Central eleva os juros, o que encarece a dívida pública, reduz o consumo, dificulta a produção das empresas e restringe financiamentos.
As escolas que tiveram um desempenho abaixo do mercado tendem a piorar seus índices na próxima sazonalidade caso não mudem seu mindset.