Autismo: Atenção e cuidado
O período escolar é visto pelos alunos e pelas alunas, principalmente pelas vivências nos ensinos infantil e fundamental, como o primeiro nível de uma escala funcional, sociocultural, coletiva e estrutural. E, durante esse período, alguns prejuízos em importantes áreas do desenvolvimento podem surgir como, por exemplo, o TEA – Transtorno do Espectro do Autista.
Segundo Clay Brites, pediatra, neurologista infantil e doutor em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que aparece nos primeiros anos de vida com algumas características: “dificuldades, incapacidade ou desinteresse de interação social; dificuldade, incapacidade ou desinteresse de iniciar e manter comunicação social; e comportamentos atípicos com repetições e interesses restritos desconectados do contexto”.
É interessante destacar que o autismo não se concentra como um único transtorno, mas sim como um espectro de transtornos, e que variam, especialmente em graus de intensidade, em cada indivíduo, tornando o diagnóstico do TEA multidisciplinar. “O diagnóstico se dá principalmente a partir da observação do comportamento da criança e suas reações ao contexto social. Isso pode ser feito por meio de relatos simples ou instrumentos de avaliação advindos de seus cuidadores, professores, profissionais de saúde e educação”, explica Brites, que complementa: “o TEA atinge cerca de 1 a 2% das crianças e leva a grande impacto no desenvolvimento cognitivo, intelectual e na autonomia caso nada seja empreendido”.
DIFICULDADES NA PANDEMIA
As alterações na rotina, ocorridas por conta da pandemia da Covid-19, afetaram diretamente os alunos com TEA nesse período de isolamento social. A rotina é uma característica muito importante para crianças com TEA e, dessa forma, é fundamental que os pais/responsáveis mantenham um ambiente estruturado com regras claras para ajudar a criança a se organizar – tentando manter, ao máximo, os horários habituais da rotina antes da pandemia.
Para a psicóloga e neuropsicóloga Érika Dalle, também coordenadora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Colégio Eduardo Gomes (SP), o isolamento dificulta os estímulos e treinamentos que as crianças com TEA precisam para desenvolver as habilidades sociais. “Essas crianças já possuem tendência ao isolamento, e estar em um ambiente estimulador é essencial para essa criança treinar essas habilidades a fim de se tornarem funcionais”, diz.
Para esse período de mudanças, Érika Dalle ressalta a importância da escola e/ou docente estabelecer uma comunicação com as crianças, respeitando, é claro, as características e os interesses de cada estudante. “Podem ser vídeos direcionados à criança, encontros individuais remotamente com a professora ou até criar pequenos grupos com outras crianças para um encontro virtual. Outra sugestão é enviar kits de atividades com material adaptado e estruturado para a casa do aluno, e fornecer apoio e orientação à família para a sua aplicação”, exemplifica.
AULA ON-LINE
Para Michelli Miguel de Freitas, psicopedagoga e analista do comportamento especializada em autismo, a aula remota para crianças com autismo é complexa, já que nem todas possuem “as capacidades necessárias para permanecerem realizando aula on-line, e isso precisa ser dito e encarado como uma realidade”. Nesse sentido, a analista reforça que estudantes com TEA são heterogêneos e cada um deve ser avaliado em sua peculiaridade. E é importante elaborar um plano de ação específico para cada aluno ou aluna.
“Para aumentar as chances de sucesso do ensino a distância para as crianças com autismo, é necessário um adulto ao lado da criança, para alguma ajuda necessária, além de fazer a mediação deste processo de aprendizagem. Outro ponto é fazer uso de itens de interesse para a criança no processo de ensino, com intervalos, para que o processo seja dinâmico. Mas o que fazer deve ser avaliado e pensado de forma individual, pois o que fazemos para uma muitas vezes não funciona para outra criança”, destaca a analista.
Na prática, conta Michelli Miguel de Freitas, o que pode ser feito para minimizar os impactos negativos na rotina de crianças com autismo – dentro do que é possível nesse momento de pandemia que atravessamos – é o reforço da participação dos pais/responsáveis criando maiores vínculos afetivos e o aumento no número de terapias, para que haja uma contínua estimulação. Assim, é importante envolver a criança com TEA em um ambiente seguro e estável, com pessoas dispostas a dar o estímulo necessário para que ela desenvolva suas habilidades da melhor maneira possível. (RP)
Saiba mais:
Clay Brites – [email protected]
Érika Dalle – [email protected]
Michelli Miguel de Freitas – [email protected]