Brinquedoteca: Espaço lúdico e educativo

A brincadeira e as atividades lúdicas têm um papel fundamental no desenvolvimento de toda criança. A ludicidade, quando bem trabalhada, influencia de modo positivo nos aspectos físico, cognitivo e social de cada aluno e aluna. E, caso seja possível, criar espaços próprios para desenvolver atividades lúdicas, estimulando a criatividade, o entrosamento e os experimentos coletivos para além da sala de aula, como nas brinquedotecas, refletem diretamente no crescimento integral de cada estudante.
“Por meio do lúdico, a criança explora o mundo, elabora experiências, expressa emoções e desenvolve sua autonomia e criatividade. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a brincadeira é um dos eixos estruturantes da prática pedagógica, sendo um direito da criança”, destaca Ana Carla Carvalhar Cabral, coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Sagrado Coração de Jesus. “O brincar é, portanto, uma forma legítima de aprender, é o próprio caminho pelo qual o conhecimento se constrói”, complementa.
O espaço específico da brinquedoteca amplifica os reflexos positivos das brincadeiras e das experimentações, contribuindo não só com os desenvolvimentos e no auxílio do aprendizado de maneira lúdica, como também no incentivo da sociabilidade e das experiências múltiplas entre as crianças. “A brinquedoteca é um ambiente privilegiado para a expressão simbólica, para a exploração e para a imaginação”, afirma Cabral.
No Colégio Sagrado Coração De Jesus, conta a coordenadora pedagógica, inspirados pela abordagem pedagógica de Reggio Emilia, uma das referências no ensino infantil, a brinquedoteca foi concebida como um “terceiro educador”, que convida à descoberta e à construção de sentidos. “Nesse ambiente, o faz de conta e a função simbólica ganham centralidade, permitindo que a criança represente o mundo ao seu redor, reelabore vivências e se relacione com os pares. Quando bem estruturada, a brinquedoteca amplia os repertórios culturais das crianças e fortalece os vínculos sociais, promovendo aprendizagens significativas a partir da interação e da brincadeira, como propõe o nosso projeto político pedagógico, alinhado à BNCC”, explica Ana Carla Carvalhar Cabral.
MÚLTIPLAS LINGUAGENS
Atividades e projetos interdisciplinares que contemplem a Base Nacional Comum Curricular, como contação de estórias, fantoches, pinturas, gincanas e acampamento são algumas das sugestões que podem ser trabalhadas no espaço da brinquedoteca. De acordo com a Vanessa de Cassia Logiudice, professora, pedagoga e coordenadora do Fundamental I da Vereda Santo André, esse rico espaço, além de promover uma brincadeira em segurança, pode ser utilizado como um espaço para “ampliar os conhecimentos em alfabetização, letramento, matemática, ampliando as noções de espaço, formas geométricas, contagem, dramatização, improvisação e diferenciação do abstrato para o real”, diz.
Na estrutura física das brinquedotecas, inclusive, é possível incentivar o lúdico através de ambientes cenográficos temáticos (como postos de gasolina, quiosques, pet shop, pequenas cozinhas, casinha, mercadinho, comércio ou até de profissões), propiciando, assim, uma experiência imersiva e próxima de como a criança já enxerga a vida adulta. “São nesses momentos de trocas e brincadeiras, através de um ambiente estimulante e propício que a criança externaliza seus sentimentos e vivências”, afirma Logiudice.
Como um espaço privilegiado para o desenvolvimento de múltiplas linguagens, nos conta Ana Carla Carvalhar Cabral, a brinquedoteca pode abrigar uma variedade rica de experiências. Algumas propostas da coordenadora pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Jesus incluem: brincadeiras de faz de conta (que fortalecem a função simbólica, a linguagem oral e a empatia); leitura e contação de histórias (com livros acessíveis em estantes baixas, almofadas e cantinhos aconchegantes); jogos de regras simples (que promovem o raciocínio lógico, o respeito às regras e a convivência); brincadeiras de construção; explorações sensoriais e artísticas com materiais diversos (como tecidos, tintas, argila, luzes e espelhos que possibilitam expressões individuais e coletivas, ampliando os sentidos e o olhar estético da criança; e vivências de cuidado e acolhimento (com bonecas, espelhos, objetos de afeto e ambientes que favorecem o brincar simbólico relacionado às rotinas familiares). “A brinquedoteca é muito mais do que um espaço de brincar livre: é um território vivo de investigação, pesquisa, expressão e relações, onde a criança constrói sentidos sobre si, o outro e o mundo”, reforça Cabral.
FAIXA ETÁRIA
Vanessa de Cassia Logiudice, coordenadora da Vereda Santo André, acredita que a faixa etária ideal para estudantes frequentarem o espaço da brinquedoteca compreende entre 4 e 12 anos. A partir dos 4 anos de idade, diz a coordenadora, as crianças começam a entender regras simples – desde que sejam simples e claras – para utilização dos espaços coletivos, onde pode ser iniciado um trabalho do respeito ao brincar, divisão do espaço para com os outros e organização dele. “A partir dos 4 anos, as regras e demais atividades podem ser intensificadas e as brincadeiras se tornam mais significativas. Aos 12 anos, adentramos um pouco do início da juventude e a ludicidade não é mais o objeto de aprendizado, o concreto se faz mais presente”, explica Logiudice.
Por outro lado, Ana Carla Carvalhar Cabral acredita que não há idade específica para frequentar uma brinquedoteca desde que você se deixe levar pela imaginação e criatividade. Como proposta pedagógica de uma escola, ela diz, “a brinquedoteca pode (e deve) acolher crianças desde os primeiros anos de vida até os anos iniciais do Ensino Fundamental. Para a Educação Infantil, ela ganha uma importância ainda maior, pois é nesta etapa que a brincadeira e as interações são eixos centrais do desenvolvimento e da aprendizagem”.
A coordenadora ressalta que o espaço da brinquedoteca do Colégio Sagrado Coração de Jesus é flexível e está em constante mudança, seguindo a intenção educativa de cada ambientação planejada. “A cada faixa etária, o espaço pode ser adaptado com mobiliários adequados, materiais contextualizados/acessíveis e propostas coerentes com os direitos de aprendizagem — como explorar, imaginar, conviver, expressar, participar e conhecer-se. A escuta atenta aos interesses das crianças é fundamental para garantir que a brinquedoteca continue sendo um espaço vivo e significativo ao longo do tempo”, destaca.
CRIANDO O AMBIENTE
Para os gestores e as gestoras escolares que pretendem criar uma brinquedoteca atrativa e dinâmica, as coordenadoras listam algumas dicas que podem ser seguidas para a composição deste ambiente. A primeira indicação, segundo Vanessa de Cassia Logiudice, é que a brinquedoteca seja um espaço acolhedor e que transmita segurança às crianças para que elas consigam explorar a criatividade. É ideal que o local tenha espaços que facilitem a organização dos objetos (como nichos, prateleiras e caixas nos quais não tenham pontas expostas), e que a decoração do ambiente seja colorida e com desenhos estimulantes. “Deve-se ter jogos e brinquedos de diversas faixas etárias, que estimulem a criatividade, o aprendizado e a motricidade”, indica.
De acordo com Ana Carla Carvalhar Cabral, construir uma brinquedoteca vai muito além de montar um espaço com brinquedos: “trata-se de criar um ambiente vivo, que fale a linguagem da infância e promova experiências ricas, sensíveis e significativas”. Nesse sentido, a primeira sugestão da coordenadora para gestoras e gestores é escutar e observar as crianças, já que suas brincadeiras espontâneas revelam interesses, curiosidades e formas únicas de aprender.
“Uma brinquedoteca inspirada na abordagem pedagógica de Reggio Emilia, por exemplo, valoriza os materiais não estruturados — como tecidos, caixas, rolos, elementos naturais e objetos do cotidiano — que despertam a imaginação e permitem que as crianças atribuam novos significados a cada elemento. Esses materiais favorecem a função simbólica e a criação de narrativas próprias, fundamentais no desenvolvimento infantil”, explica Cabral. “Uma brinquedoteca bem pensada não precisa ser um espaço grande ou cheio de brinquedos sofisticados. Ela precisa ser intencional, provocadora e afetiva, onde a criança se sinta livre para imaginar, criar, conviver e ser protagonista da própria história”, finaliza. (RP)
Saiba mais:
Ana Carla Carvalhar Cabral – [email protected]
Vanessa de Cassia Logiudice – [email protected]