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Guia para Gestores de Escolas

Bullying: Igualdade e respeito nas escolas

O termo bullying (bully = “valentão”, “tirano”, “brigão”), de origem inglesa, é geralmente utilizado no Brasil em sua forma original, e pode ser compreendido como intimidação, humilhação, insultos, apelidos jocosos, ameaças e tantas outras práticas negativas – intencionais e repetidas – provocando consequências sérias às vítimas, tanto no aspecto físico como no psicológico. Sueli Conte, diretora geral e mantenedora do Colégio Renovação, conta que as práticas mais recorrentes de bullying “têm relação com a humilhação do outro por qualquer motivo, como a discriminação por raça, cor, sexo, peso, cabelo, sotaque, status social, roupas, etc. Apesar das agressões verbais serem as mais constantes, há casos de agressões físicas com chutes, empurrões e outras maneiras de machucar o outro, sempre disfarçadas de brincadeiras”.

Quem pratica o bullying, garante Conte, não o fará por acaso. “Antes de qualquer ação, o agressor costuma observar comportamentos e atinge a pessoa no que mais irá lhe incomodar. Podemos dizer, em termos mais simples, que é como se colocassem o dedo numa ferida e todos os dias apertassem um pouco, fazendo sangrar diariamente, intensificando a dor, até a pessoa não suportar mais. Assim, quem é alvo do bullying pode se tornar introspectivo, por vezes, depressivo e até tomar atitudes extremas e inesperadas, nos casos mais graves, chegando a matar ou cometer suicídio, provocados por uma dor que ele não sabe como conter”.   

De acordo com os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2018, 29% dos estudantes brasileiros relataram terem sofrido bullying, e a média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 23%. Já os dados do Projeto São Paulo para o Desenvolvimento Social de Crianças e Adolescentes (SP-Proso) de 2019, em uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), realizada com 2.702 estudantes de 119 escolas públicas e privadas da capital paulista indicou que 29% desses adolescentes foram vítimas de bullying; e 23% sofreram algum tipo de violência. Também na pesquisa, 15% disseram ter cometido bullying e 19% ocasionado algum tipo de violência.

Para a mantenedora, que também é psicóloga, psicopedagoga e doutoranda em Neurociência, as práticas que envolvem essas agressões, violências e insultos, sobretudo sob o prisma de quem os pratica, estão intimamente ligadas a contextos culturais, sociais e emocionais. “Quem pratica o bullying, infelizmente, sente prazer no menosprezo e na vergonha que causa no outro. É claro que esta criança e/ou adolescente, falando sobre o âmbito escolar, não está saudável. Existe um buraco emocional que o impede de ser feliz de outra maneira, que não o deixa perceber como é difícil ser humilhado. Assim, ele também está passando por uma situação de desconforto e estas sensações devem ser tratadas com paciência e, em casos mais sérios, com profissionais da área da saúde socioemocional”, afirma. 

Essa lacuna emocional, diz Conte, vivenciada pela criança ou pelo adolescente, está relacionada a diversos fatores, e até mesmo por uma carência afetiva, “talvez ocasionada por ser humilhado em casa pelos irmãos ou primos, vizinhos ou, até mesmo, pelos próprios pais. Os fatores são imensuráveis e devem ser pesquisados antes de uma interferência mais profunda. Outro aspecto que pode influenciar é o relacionamento exagerado com a internet. Sempre reforço que as crianças devem usar a internet perto dos pais, com orientação, limites e vigilância. O uso dos dispositivos digitais tem começado cada vez mais cedo e, obviamente, as crianças ainda não têm autonomia para navegar sozinhas. Orientar e vigiar é fundamental, assim como escolher os sites que a criança pode acessar”.

PAPEL DA ESCOLA

Para romper essa realidade de agressões e violências, que atingem inúmeros alunos em todo o país – tanto presencialmente como na internet, com o cyberbullying – é preciso compreender a instituição de ensino como uma forte aliada na erradicação dessas práticas. Assim, certas medidas devem ser tomadas com o intuito de erradicar essas ações, promovendo a igualdade, o respeito às diferenças e o conhecimento do outro como fonte de descobertas e experimentações saudáveis.

“Na escola, é importante trabalhar de maneira preventiva. Abordar o assunto em sala de aula, realizar atividades com os alunos de modo que eles consigam entender o tamanho dos danos que a prática do bullying pode provocar nos colegas, promover palestras com profissionais tanto para os pais quanto para os alunos, realizar dinâmicas com a apresentação de filmes, realização de rodas de discussão, fazer com que os alunos entendam e pratiquem a empatia, ou seja, não façam com o outro o que não querem para si”, indica a diretora.

“São intervenções importantes para que as crianças cresçam sabendo das consequências do bullying e, consequentemente, não queiram praticá-lo. O dever da escola é trabalhar para que as crianças e adolescentes se tornem adultos saudáveis e construir um mundo melhor para todos. Acredito que se trabalharmos em conjunto com as famílias e até mesmo com outras unidades educacionais, apoiados pelos meios de comunicação, em breve iremos banir está palavra ‘bullying’ da vida das nossas crianças e adolescentes!”, completa. 

PARTICIPAÇÃO FAMILIAR

A participação familiar na escola pode ser um elo fundamental para abordar a temática do bullying e desenvolver algumas ações. “Sempre recomendo que ao identificar que a criança está cabisbaixa, infeliz, mais calada, contida, se torna agressiva ou mais introvertida, os pais tentem conversar e encarar a situação em conjunto, sem pressionar os filhos a reagir ou fazer com que ele se sinta pior ao lhe orientar, nestes momentos as palavras devem ser ditas com cautela. Os pais não irão ajudar os filhos com punições”, diz Conte.

E continua: “Fortalecer a parceria com a Escola e incentivar que os filhos falem sobre o assunto, como se sentem, conhecer os amigos e suas famílias e tentar descobrir se existem pessoas que estejam influenciando de maneira negativa também são atitudes importantes. Ser presente na escola é outra recomendação. Os filhos devem sentir que os pais participam do processo de aprendizagem que ocorre na escola”.

DIA DE COMBATE AO BULLYING

No dia é 7 de abril é lembrado o Dia Nacional do Combate ao Bullying – data instituída no ano de 2016 como uma iniciativa para chamar a atenção para os problemas causados pelo bullying, além de estimular a reflexão sobre a temática. Sancionada no exato dia do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada em Realengo (RJ), ocorrido cinco anos antes (2011), a Lei nº 13.277/2016 estabelece e reforça o apelo por mais empenho em medidas de conscientização e, o mais importante, na prevenção ao bullying.

Trabalhar para erradicar os atos discriminatórios no processo educacional é projetar caminhos da liberdade, do respeito às diferenças e celebrar a heterogeneidade entre alunos. Inserir e (re)adaptar ações para a promoção de um ensino e convivência igualitária não é tarefa fácil, já que permanecemos durante longas décadas enraizados em padrões tradicionais que perpetuaram e formaram várias gerações. Mas, observando por outro lado, quebrar essas práticas é uma forma de estabelecer em um futuro próximo uma relação agradável e respeitosa. (RP)

Saiba mais:
Sueli Conte – [email protected]

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